Ghost In The Shell (1995/2017) - Análise - Os dois lados de um clássico da ficção Cyberpunk!


 Por: Rudnei Ferreira 


Criado em 1989 pelo autor japonês Masamune Shirow, a série de mangás ''Ghost in The Shell'', conhecida no Brasil como ''Fantasma do futuro'', é considerada por muitos uma das maiores obras da ficção Científica Cyberpunk. Revolucionário e complexo, a história envolvendo a protagonista Major Motoko Kusanagi ganhou uma legião de fãs e admiradores pelo mundo. Seu sucesso chegou até mesmo a se igualar com ''Akira'', aclamada obra japonesa criada por Katsuhiro Otomo. 

Mas não foi apenas do mundo dos quadrinhos japoneses que ''Ghost in The Shell'' encontrou seu sucesso. Em 1995, a criação de Masamune Shirow ganhou uma adaptação para os cinemas em um filme de animação que se tornou um clássico Cult e um dos melhores filmes de animação de todos os tempos. Ganhou também uma sequência em 2004 chamada ''O Fantasma do Futuro 2: A Inocência''. Ambos os filmes conquistaram boas avaliações do público e da crítica, por conta da suas qualidades técnicas e seu enredo complexo. Hollywood não poderia perder a oportunidade de embarcar na onda desse sucesso. Portanto, em 2017, chegou aos cinemas do mundo todo a versão americana em Live Action de ''Ghost in The Shell'', estrelada pela musa Scarlett Johansson. Embora tenha recebido alguns elogios por parte dos críticos, o longa Hollywoodiano não caiu muito nas graças do público, transformando-se em um fracasso de bilheterias e se envolvendo em algumas polêmicas com aqueles que acusaram o filme de ser preconceituoso com etnias. Isso porque o longa protagonizado pela eterna Viúva Negra do Universo Cinematográfico Marvel traz em sua maioria um elenco todo americano, sendo que na obra original, os personagens são asiáticos. 

E é exatamente sobre essas adaptações cinematográficas que venho falar aqui hoje, com foco especial nos filmes de 1995 e 2017. Duas versões diferentes de uma mesma história. E ambas tem suas qualidades. Obrigado por estarem aqui comigo. Desejo uma boa leitura a todos. 


GHOST IN THE SHELL - O FANTASMA DO FUTURO (GHOST IN THE SHELL - 1995) - Animação/Ficção Científica/Cyberpunk, 83 minutos. / DIRIGIDO POR: Mamoru Oshii. - COM AS VOZES DE: Atsuko Tanaka, Richard Epcar, Akio Ôtsuka, Tamio Ôki, Lemasa Kayumi. CLASSIFICAÇÃO: 14 Anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 96%



No futuro ano de 2029, a tecnologia alcançou níveis tão avançados que os seres humanos podem se conectar a várias redes digitais de informações, com quem quiser, através dos seus ciber-cérebros e implantes cibernéticos. A agente especial Major Motoko é a líder da Unidade de Serviço Secreto Esquadrão Shell, uma poderosa organização de alta tecnologia cuja a principal função é combater o crime cibernético. Durante uma missão especial que consiste em capturar um poderoso hacker que faz uso de suas habilidades para invadir as mentes e implantar ilusões, ela começa a se questionar sobre sua existência e sobre todas as modificações que a transformaram em uma super androide. 

''Ghost in The Shell'' é um dos maiores clássicos dos filmes de animação para adultos e não é a toa. O longa convida o espectador a embarcar em um universo grandioso através de um roteiro inteligente e complexo, com boas sequências de ação, diálogos bem escritos e uma trama forte e instigante. Além disso, esse roteiro inteligente e cheio de camadas trabalha com vários temas como o avanço tecnológico, a relação entre homem e máquina e principalmente, sobre existencialismo e o que é ser humano. Esses temas e questões são trabalhados com um brilhantismo e uma complexidade impressionantes, algo que fará com que muitos que assistam ao longa de primeira talvez precisem revisitá-lo mais de uma vez, pois são muitas informações e detalhes apresentados, principalmente através dos diálogos. Mais do que um filme animado com elementos Cyberpunk, ''Ghost in The Shell'' é um estudo do comportamento humano e das possibilidades de um mundo marcado pelo constante avanço da tecnologia. 





Outro aspecto que chama a atenção do público, além do roteiro muito bem feito, é a qualidade da animação, que realmente é de encher os olhos. A riqueza de detalhes com os cenários e elementos visuais, que em alguns momentos nos faz lembrar de filmes como ''Blade Runner'' e até mesmo ''Matrix'', denunciam o cuidado, dedicação e investimento dos animadores. O mesmo pode ser dito da criação visual dos personagens que são muito bem animados e possuem uma fisicalidade impressionante, especialmente nas sequências de ação. A protagonista é que mais chama a atenção. Seu olhar penetrante talvez seja sua principal característica, lhe concedendo um ar misterioso e sombrio. O trabalho de animação explora muito os detalhes do seu corpo, principalmente na sequência inicial, com uma nudez mais explicita, mas também os seus movimentos e agilidades. Unido a animação tradicional, temos bons efeitos visuais feitos por computação gráfica que resulta em composições visuais belíssimas, com cores fortes e coloridas. O filme conta com algumas cenas violentas, mas nada que realmente tire o sono de alguém, pois é tudo muito estilizado pela animação bem feita. Vale mencionar a trilha sonora que sabe dar o tom certo para vários segmentos e a direção de Mamoru Oshii que coordena todos esses elementos visuais e narrativos com muito equilíbrio. 






''Ghost in The Shell'' é uma obra contemplativa, reflexiva, complexa, profunda, inteligente e com um trabalho de animação impecável, resultando em algo que vai muito além de um simples entretenimento. Além disso, traz bons personagens e uma heroína sexy e poderosa. É um filme que contém alguns dos melhores elementos dentro da ficção científica Cyberpunk e várias questões filosóficas interessantes. Sem dúvida, um marco para o cinema de animação que influenciou muitas outras obras que vieram depois. É a prova de que bons filmes não são uma exclusividade somente de Hollywood, o que é muito bom. 

Nota: ★★★★★★★★★ 9



A VIGILANTE DO AMANHA - GHOST IN THE SHELL (GHOST IN THE SHELL - 2017) - Ação/Ficção Científica/Cyberpunk, 106 minutos. / DIRIGIDO POR: Rupert Sanders. - ELENCO: Scarlett Johansson, Jonah Philip Asbaek, Michel Pitt, Takeshi Kitano, Juliette Binoche, Chin Han. CLASSIFICAÇÃO: 14 Anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 46%


No ano de 2029, as pessoas conseguem se comunicar umas com as outras através de implantes cibernéticos que mandam informações para os seus ciber-cérebros. A super agente Major Mokoto Kusagani (Scarlett Johansson), uma androide com um cérebro humano, a primeira de sua espécie, comanda um esquadrão de elite especializado em combater crimes cibernéticos. Quando um poderoso hacker começa uma série de ataque as mentes humanas projetando ilusões de acordo com a sua vontade, Major inicia uma caçada alucinante para tentar captura-lo. Mas no caminho, lembranças do seu passado vem a tona, o que a faz questionar sua própria realidade. 

Baseado no mangá de 1989 e no anime de 1995, essa versão Hollywoodiana de ''Ghost in The Shell'' traz basicamente a mesma premissa e o mesmo enredo, mesmo que tome algumas liberdades artísticas em relação a obra original. A primeira coisa que se nota é que o filme estrelado por Scarlett Johansson é muito mais acessível e de fácil compreensão, diferente do filme animado de 95. Toda a complexidade e tons filosóficos vistos na animação estão ausente aqui, dando espaço para um roteiro que procura deixar tudo mais bem explicado. Não há muito o que pensar, pois a trama até mesmo reproduz algumas situações vistas no anime e desenvolve uma explicação para os acontecimentos. Enquanto o anime era mais focado no drama vivido pela personagem e sua contemplação sobre a vida e sua própria existência, o filme de 2017 pode ser visto mais como um blockbuster de ação e ficção científica. Mas ao contrário do que muitos alegam, o filme até procura respeitar o material original e de quebra desenvolve sua própria história, acrescentando novos conteúdos.





Mesmo que o roteiro tome algumas liberdades em relação ao material fonte, ainda assim existem várias referências, principalmente ao anime de 1995. A cena de abertura, mostrando a criação da protagonista, a luta na água contra uma vítima do hackeamento mental, a cena do mergulho e do barco, o confronto final e a última cena onde Major pula do prédio são belas homenagens ao filme de animação e brilhantemente bem adaptadas para a versão Live Action. Os efeitos visuais de qualidade proporcionam um espetáculo de cores e iluminações atraentes. Na questão visual, se o filme animado lembrava em alguns momentos ''Matrix'', cujo mesmo serviu de inspiração para que as irmãs Wachowski criassem sua aclamada trilogia, ''Ghost in The Shell'' versão 2017 lembra muito mais os dois ''Blade Runner'' e até mesmo ''A.I inteligência Artificial''. E mesmo que não possua o brilhantismo de Ridley Scott, Dennis Villeneuve e Steven Spielberg, diretores responsáveis por esse três filmes citados, o diretor inglês Rupert Sanders entrega um bom trabalho visual, com referências dignas de aquecer os corações cinéfilos. Juntando a isso, temos boas cenas de ação, bem dirigidas e empolgantes, junto com um bom trabalho de edição, e nesse ponto. o filme é mais bem servido que o anime, cuja ação é deixada em segundo plano. 

Não concordo com toda a polêmica envolvendo o filme, que o acusou de ''Branquear'' os personagens de origem japonesa com atores caucasianos. Vale sempre lembrar que essa é uma adaptação americana para uma obra oriental, o que claro, poderia resultar em algo do tipo. Não é a primeira vez que Hollywood faz isso e não vai ser a última. Porém, as escolhas do elenco foram bem interessantes e mesmo que alguns personagens sejam originalmente japoneses, o roteiro até dá uma justificativa convincente do porque eles mudaram suas etnias. Claro que poderiam sim ter escalado uma atriz asiática, mas a escolha da bela Scarlett Johansson, ao meu ver, não fui ruim. Mesmo que sua intepretação mude um pouco algumas características marcantes da personagem no mangá e no anime clássico, a atriz americana faz um bom trabalho, construindo uma heroína que chama atenção pelas suas habilidades e por sua boa presença em cena. Scarlett é uma atriz talentosa, portanto a escolha, mesmo que cause estranhamento por parte dos fãs mais exigentes da obra original, resulta em um bom comprometimento da atriz em fazer um decente trabalho ao apresentar uma nova versão para essa icônica protagonista. O restante do elenco também sofre dessas mudanças, mas estão competentes na medida do possível, inclusive dando mais energia e presença para certos personagens, se comparar por exemplo com o anime. O ''vilão'' também tem sua construção alterada. Enquanto no anime, sua presença e imagem era desenvolvida mais pela sugestão, aqui ele é uma figura mais física. Não é marcante e suas ideias não são tão complexas tal qual foi no anime. Porém, é perfeitamente possível entender suas motivações e o porque do seu antagonismo. 





''Ghost in The Shell'' versão 2017 não supera o anime de 1995 quando o assunto é roteiro e complexidade. Porém, é um filme que diverte e impressiona pelas qualidades técnicas, algo que resulta em um espetáculo visual bem dirigido e bem produzido. Sim, seria muito legal ver uma atriz japonesa dar vida a adorada Major, mas Scarlett Johansson possui presença, talento e competência suficiente para ser uma boa protagonista. Além disso, é muito bom ver as várias homenagens e referências a obra original, ao mesmo tempo que o roteiro desenvolve sua própria história que no fim se encaixa bem ao que já é conhecido pelos fãs. Não entendam mal, o filme é sim inferior ao anime, mas por outro lado, está longe de ser ruim, resultando em um bom entretenimento para os apreciadores do cinema de ação e ficção científica. 

Nota: ★★★★★★★★ 8


CURIOSIDADES: 

GHOST IN THE SHELL - O FANTASMA DO AMANHA (1995) 


* A animação serviu de inspiração para que Lily e Lana Wachowski criassem a trilogia ''Matrix'' As duas irmãs ficaram fascinadas com a história e seus elementos narrativos, como Hackeamento e conexões cerebrais, portanto, decidiram que sua obra fosse semelhante a ficção científica Cyberpunk. 

* Além disso, Steven Spielberg foi outro consagrado diretor que se inspirou no longa para dar vida a filmes como ''A.I inteligência Artificial''''Minority Report: A Nova Lei'' . O diretor já declarou ser fã da animação japonesa. 

* Na época de seu lançamento, o filme animado foi um dos mais caros já produzido. Tudo por conta da exigência do diretor Mamoru Oshii do longa se aproximar o máximo possível da realidade, trazendo uma riqueza de detalhes que até hoje impressionam para um desenho animado. 

* Mamoru Oshii encaminhou sua equipe de animadores para uma pesquisa de campo em Guam, com o objetivo de observar diferentes tipos de armas disparando e o impacto em seus alvos para assim poder criar as sequências de ação e tiroteio da maneira mais real possível. 

* A animação foi inspirada no conceito filosófico da obra escrita por Arthur Kostler chamada ''The Ghost in The Machine'', que aborda questionamentos sobre consciência humana e inteligência artificial, debatendo até onde vai a vulnerabilidade do ser humano que depende da tecnologia, chegando ao ponto de não sabermos mais diferenciar quem é máquina e quem é humano. 


A VIGILANTE DO AMANHÃ: GHOST IN THE SHELL (2017) 


* Antes de Scarlett Johansson, a atriz Margot Robbie foi considerada para interpretar a protagonista Major. 

* Fãs do mangá e do longa de animação de 1995 ficaram insatisfeitos com a escolha de Scarlett Johansson para viver a protagonista que é originalmente japonesa. Muitos protestaram com o fato de escalarem um elenco de atores brancos para interpretarem personagens de outras etnias, o que resultou em uma petição contra, que contou com mais de 100 mil assinaturas. Tamanha polêmica foi refletida nas bilheterias, já que o longa arrecadou menos do que seus realizadores esperavam. Uma pena, pois mesmo sendo inferior a obra original, ainda é um filme. 

* O nome da protagonista Major Motoko Kusagani foi trocado para o filme por Major Mira Killian, se desvencilhando do nome japonês com o propósito de se alcançar um público maior. 



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