Spirit: O Corcel Indomável (2002) - Análise - Uma maravilha cinematográfica animada!
Não é segredo para ninguém que a Dreamworks Animation, estúdio de animação fundado pelo diretor Steven Spielberg , sempre procurou rivalizar com a gigante Walt Disney no mercado cinematográfico, e pode se dizer que ela conseguiu sim em vários momentos, tanto em questão de história quanto em questão da qualidade das animações. Se nos dias de hoje a Dreamworks é a responsável pelos sucesso de franquias como ''Shrek'', ''Madagascar'' e ''Como Treinar Seu Dragão'', no passado, eles procuraram bater de frente com a Disney em uma época onde as animações tradicionais em 2D ainda estavam em alta e tinham grande apelo entre o público e até mesmo entre a crítica. Basta lembrar de filmes como ''O Príncipe do Egito'' (1998), ''O Caminho Para El Dorado'' (2000) e ''Simbad: A Lenda dos Sete Mares'' (2003). O primeiro foi um grande sucesso de público e crítica e chegou a levar para casa dois Oscar. Já os outros dois, embora filmes muito bons, não alcançaram o sucesso esperado, o que é uma pena.
''Spirit: O Corcel Indomável'' é mais um exemplo. Lançado em 2002, o filme teve um orçamento generoso para uma animação: 80 milhões. Faturou um pouco mais de 120 milhões em bilheterias ao redor do mundo, o que pagou os seus custos de produção mas também não lucrou o que o estúdio esperava. Mesmo assim, as críticas foram em sua maioria muito boas e o público que assistiu ficou maravilhado. E não é para menos, afinal ''Spirit: O Corcel Indomável'' é uma joia animada meio que esquecida pelo tempo, mas merece ser visto e revisto.
A história se passa no final do século 17, durante a conquista do Oeste americano. Spirit (voz de Matt Damon) é o líder de um grupo de cavalos selvagens que vagam livres em meio a natureza. Capturado em seu próprio território, ele é levado para longe do seu bando, iniciando assim uma emocionante e inspiradora jornada de coragem e resistência com a intenção de voltar para casa. No caminho, ele acaba conhecendo um jovem e corajoso indígena chamado Little Creek (voz de Daniel Studi) e se apaixona por uma bela égua chamada chuva.
''Spirit: O Corcel Indomável'' traz uma história de coragem, honra, descoberta e determinação. A jornada do protagonista é algo realmente fascinante de se acompanhar, isso porque o roteiro é muito bem montado e bem escrito, com vários elementos capazes de encantar não apenas as crianças como também os adultos. Tem aventura, ação, drama, romance e emoção, tudo tão bem equilibrado e bem dosado que o espectador é completamente absorvido pela beleza da história e ainda mais pelo visual deslumbrante do longa. O filme segue por caminhos que até lembram as produções da sua rival Disney, mas se engana quem pensar que ele tenta parecer por completo com as animações da empresa do Mickey.
Embora seja protagonizado em sua maioria por animais fofos e extremamente cativantes, o longa acerta em cheio em não fazer com que eles conversem entre si com palavras. Isso porque, mesmo se tratando de um desenho animado, o enredo quis apostar em algo mais realista, onde os animais se comunicam através de seus sons característicos, sem falar palavras. Claro, eles ainda conservam em suas características físicas um visual cartunesco, com expressões típicas de um ser animado, o que é proposital, para dar a esses animais expressões que traduzem seus sentimentos e emoções. Porém, eles se comportam e agem como animais de verdade, o que demonstra o carinho e o cuidado da produção em conservar a proposta de se manter realista. Uma aposta arriscada para atrair a atenção do público infantil, mas que traz um certo conforto para os adultos. E no final, essa aposta deu certo e funcionou muito bem. O longa é todo contado através do ponto de vista do cavalo Spirit e utiliza uma narração em off como se fosse na verdade os pensamentos do animal transmitidos para o público, e esse é outra jogada acertada do roteiro, pois dá a Spirit uma maneira de se comunicar e contar sua história para o espectador, de certa maneira, uma quebra da quarta parede, sem parecer um animal falante típico da Disney. E é apostando nesse realismo que o filme vai além de ser apenas um entretenimento com animais fofos. Sua história nos diverte, mas também emociona, com uma sensibilidade poética em temas importantes como a importância da amizade, da família e da necessidade de se proteger e respeitar a natureza, os animais e a vida, enxergando além do que vemos a nossa volta com a alma, a mente e o coração. É lindo, é reflexivo, é tocante e acredite, arrepiante, de uma maneira poucas vezes exploradas e inseridas em um desenho animado. Sem contar que ver elementos históricos verídicos como a conquista do Oeste pelos primeiros colonizadores dentro da trama fictícia é realmente fascinante.
E o que falar do visual desse filme. Simplesmente deslumbrante da primeira a última cena. As várias técnicas de animação criam um conjunto de imagens maravilhosas, que encantam os nossos olhos devido a imensa beleza e qualidade. Para os animais e os personagens humanos, foi utilizado a tradicional e praticamente extinta animação 2D, onde os traços são muito bem desenhados e bem trabalhados. Os elementos naturais como água, fogo, poeira, fumaça e neve são criados através de animação computadorizada, e é ai principalmente que o filme impressiona, pois o resultado é espetacular. Por último, cenários com montanhas, árvores, grama e até o próprio céu parecem pinturas em tela, com cores vivas e que se destacam muito bem, resultando em outro espetáculo visual brilhante. Juntando tudo isso, fica impossível não se encantar com tamanha beleza. Existem sim muitos filmes que fizeram usos desses trabalhos de animação e fizeram bem feito, mas poucos se destacaram dentro do gênero como ''Spirit: O Corcel Indomável''. É lindo demais.
E são tantas e tantas cenas memoráveis que se eu fosse menciona-las aqui, correria o risco de entregar spoilers para quem nunca assistiu. Só posso dizer que somos agraciados com um momento melhor que o outro ao longo de seus 83 minutos de duração. A trilha sonora é outro show a parte, com belíssimas composições e melodias compostas por Hans Zimmer que dão o tom certo as sequências de ação, diversão e emoção. Já as músicas cantadas estão em segundo plano, com letras que funcionam como palavras para expressar os sentimentos e pensamentos do protagonista. Elas são interpretadas com muito talento e afinação pelo cantor canadense Bryan Adams. E TODAS as músicas cantadas por ele são muito boas e contagiantes. Ou seja, o filme não acerta somente na história, nos personagens e na animação perfeita, mas também na trilha sonora marcante e contagiante.
- A animação marca a estreia de Kelly Asbury como diretora de um filme.
- ''Spirit: O Corcel Indomável'' foi o segundo trabalho do ator Matt Damon como dublador. A primeira vez que ele emprestou a sua voz a um personagem animado foi em 2000 para a animação da Fox ''Titan A.E''.
- O filme foi indicado ao Oscar na categoria de ''Melhor Animação'', mas perdeu a estatueta para o filme japonês ''A Viagem de Chihiro''.
- ''Spirit: O Corcel Indomável'' foi um dos últimos filmes criados com a tradicional técnica de animação 2D antes dos estúdios aderirem as animações totalmente criadas por computação gráfica. Na verdade, o último filme a ser produzido com esse tipo de animação tradicional foi o longa da Disney ''A Princesa e o Sapo'' de 2009.
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