Taken (2002) - Análise - Uma minissérie fascinante sobre Alienígenas e a natureza humana!
Por: Rudnei Ferreira
A Ufologia é um assunto fascinante. O clássico questionamento se estamos sozinhos no universo é algo que sempre fascinou o ser humano. Claro que muitas pessoas são céticas em relação a isso, achando tudo uma grande bobagem que existe apenas nos filmes. Mas é realmente questionável deduzir e afirmar com tanta certeza de que somos os únicos seres vivos que existem na vasta imensidão do espaço sideral que compõe a nossa galáxia, a Via Láctea. seria talvez ignorância nossa em pensar que Deus criou apenas a raça humana para viver em todo o universo? Seria realmente possível que seres extraterrestres estivessem mesmo em algum lugar do espaço habitando outros planetas? O fato é que esse é um assunto que rende e gera discussões e muitas teorias entre aqueles que acreditam e aqueles que são céticos. Diversos relatos de pessoas que testemunharam aparições e até mesmo tiveram contatos com seres alienígenas foram relatados ao longo da história, algo que ainda acontece mesmo nos dias de hoje. Muitos desses relatos se comprovaram fraudes, já outros permanecem até hoje um mistério não solucionado, o que gera o conflito das divisões de opiniões.
ETs, discos voadores, abduções e experiências com cobaias humanas também despertaram o interesse do cinema e da TV. Tanto que existem muitos filmes e até mesmo séries que abordam esses temas, alguns deles muito bons, já outros nem tanto assim. Em meio a essas obras audiovisuais, no começo do século 21, uma produção televisiva chamou a atenção e arrancou elogios dos amantes da Ufologia: ''Taken'', uma minissérie de uma única temporada, dividida em 10 episódios com duração de longa metragem foi produzida e exibida pelo canal americano SyFy no ano de 2002. Criada, escrita e produzida por Leslie Bohem e com a produção executiva de ninguém menos que o diretor Steven Spielberg, a minissérie fez tanto sucesso entre o público e a crítica que venceu um prêmio Emmy de Melhor Minissérie, além de duas indicações ao Globo de Ouro. Nos dias de hoje, ''Taken'' é pouco lembrada pelo grande público, mas conta com o carinho de vários fãs e admiradores, incluindo esse que vos escreve.
A narrativa de ''Taken'' conta uma história que se passa durante o período de cinco décadas, envolvendo quatro gerações de pessoas e se concentra na trama de três famílias. Os Keys, os Crawfords e os Clarkes. A história se inicia durante a Segunda Guerra Mundial, quando Russel Keys (Steve Burton), um veterano de combate, tem um encontro com estranhas luzes no céu e passa a ser atormentado por sonhos e pesadelos com seres extraterrestres que o abduziram e o usaram em algumas experiências. Depois de um misterioso incidente ocorrido em Roswell, no Novo México, o capitão da Força Aérea Owen Crawford (Joel Gretsch) se transforma em um ambicioso conspirador do governo que não mede esforços nem escrúpulos para conquistar os seus objetivos. Já Sally Clarke (Catherine Dent) é uma mulher que sofre com um casamento infeliz e passa a se envolver com um estranho visitante alienígena. Conforme os anos e as décadas vão passando, os herdeiros de cada um deles são vítimas afetadas pela manipulação dos extraterrestres. Tudo isso resulta no nascimento da pequena Allie Keys (Dakota Fanning), uma garotinha inteligente, resultado final das experiências dos alienígenas, portadora de incríveis poderes e habilidades especiais e que pode ser a chave para o futuro tanto da raça humana quanto dos extraterrestres.
Para quem espera por uma história envolvendo invasão extraterrestre e longas cenas de batalhas contra eles no melhor estilo de filmes como ''Independence Day'' pode sair um pouco decepcionado aqui. Isso porque ''Taken'' é uma história bem pé no chão, apostando em algo mais realista, mesmo que ainda conte com vários elementos de fantasia e ficção científica. Leslie Bohem e Steven Spielberg deixam claro que se inspiraram em vários relatos, casos e histórias verdadeiras de pessoas ao redor do mundo para construir o roteiro de toda a minissérie. E durante os seus 10 episódios, a trama se desenvolve em cima desse conteúdo. Claro que é possível encontrar alguns elementos bem familiares dentro do gênero de ficção científica que explora esse tema, mas o roteiro se preocupa muito mais em desenvolver e explorar os seus personagens, seus dramas e as várias situações que eles são submetidos, em um ritmo tranquilo e sem pressa, mas com um nível de imersão satisfatório e que não torna a trama cansativa. A ação e os momentos de tensão, suspense e fantasia estão presente nos episódios, mas em momentos pontuais, deixando claro que a intenção de seus realizadores é trabalhar com algo um pouco mais diferente do que estamos acostumados a ver dentro da temática e do gênero.
O enredo é fascinante, misturando ficção e fatos históricos, como o incidente Roswell, ocorrido no Novo México em 1947, onde supostamente uma nave alienígena teria caído, sendo ocultado pelo governo os seus destroços e também os quatro corpos alienígenas de seus tripulantes. Até hoje, esse incidente é considerado um dos mais famosos da história da Ufologia, sendo que ninguém de fato jamais chegou a saber se tal objeto era realmente um disco voador ou um balão meteorológico, como foi divulgado oficialmente. Esse misterioso caso é inserido na história de maneira super interessante e bem trabalhada, contado pelo ponto de vistas dos personagens e voltando a mexer com a nossa imaginação a respeito desse acontecimento marcante. Na verdade, tal acontecimento é o ponta pé inicial que resulta nos demais acontecimentos que virão em seguida, de maneira brilhante e muito bem estruturado. Além disso, os fãs de Steven Spielberg podem encontrar referências a alguns de seus aclamados filmes como ''Contatos Imediatos de Terceiro Grau'' e ''ET: O Extraterrestre''. Seja através dos acontecimentos ou através da trilha sonora, é possível perceber a presença e influência do diretor na produção. A série tem um Time perfeito, mas o ritmo é afetado principalmente no episódio 4, cuja a trama deste é menos interessante que a dos demais episódios. Não é ruim, mas é o momento em que a série cai um pouco. Felizmente, ela volta aos eixos novamente a partir do capítulo seguinte.
A minissérie foca muito bem nas várias facetas do comportamento humano. As pessoas são capazes de muitas coisas boas, mas também podem fazer coisas terríveis e o roteiro trabalha muito bem isso, mostrando ambos os lados do ser humano. Seja através da manipulação para conseguir o que deseja, seja atacando, perseguindo ou destruindo aquilo que não conseguem, por conta da sua ignorância, compreender ou enfrentando os desafios, perigos e dificuldades através da união e do amor, a trama de ''Taken'' vai muito além de ser apenas uma história de discos voadores e ETs. É também um perfeito estudo sobre o ser humano e todos os seus aspectos. Todos os personagens, sem exceções, são muito bem escritos e brilhantemente bem desenvolvidos, onde praticamente todos eles tem o seu momento para se destacar. As várias histórias desses personagens ao longo das passagens de tempo são todas muito interessantes e bem contadas, prendendo a atenção de quem assiste. Os vilões são perfeitos, dignos de despertar nosso desprezo e raiva por cada um e os heróis são igualmente ótimos, sendo perfeitamente possível torcer e se importar com o destino de cada um deles.
E questão de qualidade técnica, a minissérie continua tão excelente quanto foi em seu lançamento, a mais de vinte anos atrás. Os efeitos visuais envelheceram muito bem. Claro que alguns deles denunciam a época de sua produção, além de percebermos que algumas cenas foram gravadas em um fundo verde, mas nada que realmente tire o brilho e encanto de tais sequências. Inclusive, o visual dos discos voadores, com suas luzes e cores brilhantes e dos alienígenas, com seus enormes olhos bem expressivos e seu porte físico com movimentos graciosos, são belíssimos e de encher os olhos, comprovando que os efeitos visuais permanecem de muita qualidade. Existe ainda um caprichado trabalho de efeitos práticos, montagem, design de produção, que faz uma boa reconstituição das épocas, edição de som, figurino e maquiagem. O enredo ainda toca em temas delicados e importantes como machismo e preconceito racial, algo comuns no período de tempo que são retratados, mas não deixam de ser uma crítica social dentro da história. Em todos esses aspectos, sejam eles narrativos, interpretativos e de produção, ''Taken'' acerta em cheio com cada um deles.
O elenco é formidável e simplesmente um dos melhores já escalado para uma série de TV, sendo que vários deles merecem a atenção e o reconhecimento pelo seus talentosos desempenhos. Do lado dos antagonistas, Joel Gretsch faz um trabalho incrível como Owen Crawford, um homem frio e calculista. É ele quem protagoniza algumas das cenas mais violentas e chocantes da série, e em todas elas, ele está muito bem com sua performance. Matt Frewel e Heather Donahue estão ótimos como o casal Chef e Mary, tão venenosos, frios e calculistas quanto. Já por parte dos mocinhos, Emily Bergl, Adam Kaufman, Desmond Harrington, Eric Close e Ryan Hust desenvolvem personagens interessantíssimos, cheios de histórias fascinantes e ótimo desenvolvimento. Mas para mim, a grande estrela dessa minissérie é a jovem atriz mirim Dakota Fanning. Tudo nessa personagem e na atuação da atriz funciona. Mesmo aparecendo fisicamente somente a partir do sétimo episódio, sua presença é garantida durante todos os episódios. Com uma narração em off encantadora, Dakota conta a história de Allie, ao mesmo tempo que os seus diálogos muito bem escritos são carregados de pensamentos que são verdadeiras lições de moral, além de inserirem um tom filosófico e inspirador para a narrativa. E quando finalmente a pequena Allie Keys aparece em cena, a atuação da atriz impressiona, pois Dakota, mesmo sendo muito jovem, entrega uma maturidade e inteligência na sua atuação que deixa qualquer um impressionado. É muito talento para uma criança, o que nos faz lamentar que nos dias de hoje, Dakota Fanning tenha praticamente sido deixada de lado por Hollywood. Porém, em ''Taken'' ela encanta o público com uma das melhores performances infantis de todos os tempos.
''Taken'' é uma das melhores produções cujo o tema é alienígenas e discos voadores. É uma minissérie muito bem escrita, com ótimo desenvolvimento de história e personagens e uma super produção que mantém a sua qualidade mesmo com mais de vinte anos desde que foi lançada. Mais do que isso, a trama possui uma profundidade filosófica, inteligente e inspiradora como poucas produções do gênero abordaram. Para os amantes e interessados no assunto, é uma super recomendação que vale muito a pena ver.
Nota: ★★★★★★★★★ 9.9
TAKEN (2002) Minissérie/drama/ficção científica, 877 minutos (10 episódios de aproximadamente 90 minutos cada). CRIADA, ESCRITA E PRODUZIDA POR: Leslie Bohem. PRODUÇÃO EXECUTIVA: Steven Spielberg. ELENCO: Dakota Fanning, Joel Gretsch, Emily Bergl, Matt Frewer, Heather Donahue, Ryan Hurst, Adam Kaufman, Desmond Harrington, Eric Close, Andy Powers, Anton Yelchin, James McDaniel, Catherine Dent, Steve Burton, Julie Benz. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos.
CURIOSIDADES:
* ''Taken'' foi o primeiro projeto do qual o diretor Steven Spielberg e a atriz Dakota Fanning trabalharam juntos. O diretor dirigiu a atriz três anos depois no filme ''Guerra dos Mundos'' (2005).
* Originalmente produzida e exibida pelo canal americano SyFy, ''Taken'' já foi exibida na TV aberta. Em outubro de 2006, a Rede Bandeirantes exibiu a minissérie de 10 episódios, conseguindo bons índices de audiência. Atualmente, ela pode ser conferida no serviço de Streaming do Prime Vídeo.
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