Lawrence da Arábia (1962) - Análise - Um clássico atemporal e impressionante em todos os aspectos cinematográficos!



Por: Rudnei Ferreira


Existem vários filmes épicos que entraram para a história do cinema e isso é um fato. Desde clássicos como o maravilhoso ''Ben-hur'' de 1959 até filmes um pouco mais recente como ''O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei'' e ''Gladiador'', entre tantos outros longas que entraram quase que instantaneamente na história do cinema como os maiores épicos cinematográficos de todos os tempos. 

Porém, três anos depois do lançamento de ''Ben-Hur'', o aclamado diretor David Lean revolucionou o cinema com um épico fantástico. Eis que em 1962, ''Lawrence da Arábia'' impressionava o público e também os críticos com sua história grandiosa e sua beleza cinematográfica. Sem dúvida, falar de ''Lawrence da Arábia'' é um grande feito e também uma grande responsabilidade para quem escreve sobre cinema. Mas vamos lá!  





Baseado em fatos reais, o longa é uma adaptação do livro ''Sete Pilares da Sabedoria'' escrito por Thomas Edward Lawrence e conta a história de seu autor (interpretado pelo ótimo Peter O'Toole), um oficial britânico que durante a Primeira Guerra Mundial é enviado para a Arábia, para encontrar o poderoso príncipe Faiçal (Alec Guinness) e poder servir como uma ponte entre árabes e ingleses para se unirem na luta contra os turcos que ocuparam vários pontos do país. Porém, conforme o conflito avança, Lawrence, com a ajuda do seu amigo e aliado, o Xerife Ali (Omar Sharif), desobedece a ordem dos seus superiores e avança pelo deserto para atacar o território ocupado pelo inimigo, algo que fará mudar sua percepção e sua visão sobre tudo. 

Escrever sobre um filme como ''Lawrence da Arábia'' não é uma tarefa fácil. Afinal, o longa de David Lean é um dos filmes mais aclamados e importantes da sétima arte e com toda a razão. Por conta disso, falar sobre sua grandiosidade é desafiador pois nesse caso, as palavras podem ser poucas para quem não é um profissional como eu. Mas uma coisa é certa: mesmo não sendo um profissional na arte de falar sobre cinema, entendo o suficiente para falar sobre a proeza cinematográfica desse filme. Lawrence foi uma figura real notável, que teve um importante papel a desempenhar nesse conflito. E a trama o apresenta como um homem excêntrico, carismático, gentil e corajoso, que muda sua perspectiva diante da guerra, tornando-se alguém mais maduro, amargurado e sério, marcado pela dor e pelas perdas que sofre no caminho. E isso com certeza muda qualquer ser humano. Através disso, o roteiro prepara o cenário e conclui que, no fim, não existe glória e triunfo em uma guerra, e os únicos que tiram proveito disso são aqueles que estão em cargos superiores e de alta patente, acomodados em seus refúgios e apenas dando ordens. Enquanto isso, os soldados que cumprem essas ordens sofrem todas as consequências, tanto física quanto emocionalmente. É aquele momento que homens bons são obrigados a se tornaram pessoas horríveis e aqueles que já são ruins se tornam piores. Não dá pra sair ileso disso de jeito nenhum e ''Lawrence da Arábia'' explora isso muito bem. 






Além do roteiro contar com uma história poderosa, ''Lawrence da Arábia'' chama a atenção do espectador por causa da sua beleza e qualidade técnica. Sua cinematografia é inquestionavelmente uma das mais belas e poderosas da história da sétima arte. A maioria das cenas se passam em um deserto, com iluminação e fontes de luz naturais, portanto, a fotografia faz uso de cores predominantemente quentes, como o amarelo e o laranja, o que passa a sensação perfeita das altas temperaturas, quase como se pudéssemos senti-las na pele, assim como o protagonista e os demais personagens. A direção ostenta as belas paisagens, com planos de câmeras perfeitos. Muitos planos abertos, bons enquadramentos, movimentações precisas, que nos permitem entender e acompanhar cada detalhe do que está acontecendo em cena e admirar cada cenário em que os personagens se aventuram. O diretor gosta de brincar com silhuetas ao longe, que aos poucos vai se aproximando e ganhando contornos bem definidos. Isso pode ser visto principalmente em uma cena magistralmente bem dirigida e muito bonita, tendo como protagonista Lawrence e seu companheiro de viagem, que observam algo ao longe, no calor do deserto, uma silhueta borrada como uma miragem, que vai ganhando formas conforme se aproxima. É uma sequência magnifica e bem realizada, sem pressa de se concluir, o que nos dá tempo suficiente para apreciar sua beleza visual. O grande triunfo do filme é ser rodado inteiro com efeitos práticos, sem o auxílio de efeitos digitais. Nos dias de hoje, com a tecnologia que não existia em 1962, muita coisa que vemos em cena em ''Lawrence da Arábia'' seria criada por computação gráfica. Mas o diretor David Lean filma tudo de verdade, sem manipulação digital, em locações reais, especialmente as sequências de ação. Milhares de figurantes contracenam com os atores principais em ambientes de verdade, e é simplesmente lindo de se ver. 

O design de produção desse filme é um presente para os olhos. Ambientes perfeitamente bem construídos, valorizados por uma Mise-en-scène fantástica, com figurinos elegantes, cheio de detalhes belíssimos e bem trabalhados. Tudo isso traz uma reconstituição de época muito palpável e realista. É um filme do começo dos anos 60, mas super convincente como se tivesse mesmo sido feito durante a Primeira Guerra Mundial, só que com cores. O design de som é magistral, sendo completado por uma trilha sonora triunfante, que ajuda a ilustrar o tom épico do filme. Os diálogos são muito bem escritos e cada cena é muito bem montada. Tudo nesse filme funciona. Cada peça está bem encaixada exatamente onde deve. É uma verdadeira aula de cinema, ensinando para os cinéfilos como se faz um filme bem feito. O ritmo pode ser um pouco arrastado para algumas pessoas, principalmente por se tratar de um filme com longas 3 horas e 41 minutos, o que exige tempo e comprometimento do espectador. Afinal, mesmo tendo como tema uma guerra entre povos rivais, o filme leva o tempo necessário para se desenvolver e vai muito além de batalhas e combates. Mas a trama é tão bem contada e cheia de conteúdo, tanto em roteiro quanto no visual, que provavelmente essas serão as 3 horas e 41 minutos mais bem gastas por qualquer um que der uma chance e se aventurar pela jornada de Lawrence. 







As atuações de todo o elenco são primorosas. Porém, as atenções devem ser voltadas, é claro, para a performance magnífica de Peter O'Toole. Com uma atuação hipnotizante, ele traz para o Lawrence a imagem de um homem excêntrico, gentil, carismático e que confia nas suas habilidades. Mas conforme a história avança, sua personalidade muda, sendo ele uma vítima de um conflito que deixa marcas tanto físicas quanto emocionais. É um desenvolvimento de personagem incrível, com uma evolução espetacular. Peter O'Toole entrega aqui provavelmente aquela que é a atuação mais marcante de sua carreira e um dos protagonistas mais interessantes e memoráveis do cinema. Mesmo que o roteiro já entregue nos minutos iniciais o seu destino, a jornada de Lawrence é fascinante, o que acaba despertando ainda mais interesse para saber mais sobre a sua história real e sobre quem ele era antes dos acontecimentos contados no filme. Vale destacar também as boas participações de Omar Sharif e Alec Guinness, nosso eterno Obi-Wan Kenobi da clássica trilogia de Star Wars. Ambos estão igualmente bem e seus personagens deixam a sua marca. 

Mais do que um entretenimento épico, ''Lawrence da Arábia'' é uma aula de cinema. Grandioso em todos os seus aspectos audiovisuais, é um dos maiores clássicos do cinema. São quase quatro horas de uma produção de qualidade e que leva ao pé da letra o conceito do bom cinema. Tudo isso o torna um filme atemporal, que parece que não envelhece. É um filme que precisa ser visto e estudado por fãs de cinema no mundo todo, proporcionando uma experiência que deve ser vista nem que seja uma vez na vida. 

Nota: ★★★★★★★★★ 9.9


LAWRENCE DA ARÁBIA (LAWRENCE OF ARABIA - 1962) - Drama biográfico/épico, 228 minutos. DIREÇÃO: David Lean. ELENCO: Peter O'Toole, Omar Sharif, Alec Guinness, Anthony Quinn, José Ferrer, Claude Rains, Robert Bolt, Anthony Quayle. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 97%



CURIOSIDADES: 

* O diretor David Lean havia escalado outro ator para dar vida ao protagonista do filme, o oficial T.E Lawrence. Foi só depois da intervenção da atriz Katherine Hepburn e do produtor Sam Spiegel que o diretor voltou atrás e chamou o ator Peter O'Toole para interpretar o icônico personagem. 

* Durante as suas quase quatro horas de duração, o filme não traz nenhuma personagem feminina com diálogos.

* Curiosamente, durante as gravações que envolviam a sabotagem do trem turco, rodada em locações reais, a equipe de filmagem encontrou destroços verdadeiros da sabotagem realizada pelo verdadeiro T.E Lawrence. 

* ''Lawrence da Arábia'' recebeu aclamação de público e crítica, tornando-se um dos filmes mais aclamados e importantes do cinema. Por conta disso, na cerimônia do Oscar de 1963, o filme recebeu 10 indicações ao prêmio. Venceu em 7 categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor (David Lean), Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora e Melhor Edição de Som. Ainda foi indicado nas categorias de Melhor Ator (Peter O'Toole), Melhor Ator Coadjuvante (Omar Sharif) e Melhor Roteiro Adaptado. 




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