A Lista de Schindler (1993) - análise - Obra-Prima insuperável de Steven Spielberg!
Por: Rudnei Ferreira
A Segunda Guerra Mundial foi um dos acontecimentos mais trágicos e cruéis, entre tantos outros, que marcaram para sempre a história da humanidade. Países invadidos e conquistados, destruição, tirania e opressão resultaram na morte de milhares de pessoas durante o regime nazista coordenado por Adolf Hitler. Foi um verdadeiro império do mal na face da Terra. Durante esse período de trevas, muitas pessoas foram condenadas a todos os tipos de crueldade que se possa imaginar, tudo de maneira gratuita e desumana. E o pior de tudo é que o grande pecado dessas pobres almas, de acordo com os nazistas, é terem nascido negros, homossexuais e de outras etnias, ou apenas serem contra um regime fascista e totalitário. Os judeus foram alguns dos que mais sofreram, pois eram considerados uma raça inferior pela supremacia branca propagada por Hitler e o nazismo. Nos campos de concentração localizados em Auschwitz, na Polônia, foram muitas as vidas do povo judeu que se perderam e acabaram silenciadas para sempre, de maneira covarde e extremamente cruel, durante um período conhecido como O Grande Holocausto.
E é justamente sobre esse triste momento envolvendo o Holocausto que nos é contado em ''A Lista de Schindler'', uma super produção de 1993, considerada por muitos cinéfilos, incluindo eu mesmo, uma das melhores e mais importantes obras cinematográficas da história do cinema, além de ser um dos melhores trabalhos de direção do mestre Steven Spielberg. Talvez as palavras sejam poucas para descrever tamanho impacto e deslumbramento por essa obra-prima do diretor. Mas, mesmo assim, eu vou tentar dizer, nas minhas palavras, o porque desse filme ser, na minha opinião, um dos melhores da indústria cinematográfica,
A trama se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Oskar Schindler (Liam Neeson) é um membro do partido nazista que ganha muito dinheiro se aproveitando da mão de obra judia em sua fábrica. Porém, ao testemunhar de perto todo o massacre e crueldade dos nazistas contra os judeus, Schindler se arrisca para salvar a vida de milhares deles dos extermínio nos campos de concentração.
Steven Spielberg é um diretor versátil. Lembrado por ser aquele que praticamente definiu o cinema Blockbuster com obras de fantasia e ficção científica, ele também já se mostrou e mostra até hoje extremamente eficiente e talentoso quando trabalha com histórias mais sérias, dramáticas e humanas. E é exatamente isso que ele faz em ''A Lista de Schindler''. Baseado em fatos reais que foram contados no livro ''Schindle's Ark'' de Thomas Keally, o filme é um drama de guerra pesadíssimo e trágico, mas também fala sobre a redenção e crise de consciência de seu protagonista e a esperança de dias melhores para o povo judeu. Não espere grandes cenas de batalhas como aquelas que o diretor comandou em ''O Resgate do Soldado Ryan'' cinco anos depois. Aqui, Spielberg retrata o drama pessoal de milhões de pessoas que perderam suas vidas para esse grande câncer da humanidade que foi o nazismo. Nem por isso o longa é menos visceral e chocante do que a aclamada produção estrelada por Tom Hanks. ''A Lista de Schindler'' é um filme difícil de assistir em alguns momentos. Não por ser ruim, o que seria até um absurdo de dizer isso, mas por causa da história visceral e realista que presenciamos ao longo de suas 3 horas e 15 minutos. A intenção de Steven Spielberg é exatamente essa: causar impacto no público com essa história comovente, pesada e cheia de sequências marcantes.
Tudo isso faz deste o filme mais íntimo e pessoal do diretor, dada ao seu comprometimento com o tema e sua atenção aos detalhes, que não poupa o espectador ao retratar boa parte dos horrores que ocorreram nesse período histórico através de um roteiro brilhante, que prende o espectador do início ao fim e cenas extremamente realistas, pesadas e bem realizadas. Assim como viria a fazer em ''O Resgate do Soldado Ryan'', ''A Lista de Schindler'' é acima de tudo uma verdadeira crítica social anti-nazista do diretor, que deixa bem claro ao longo do filme todo o seu desprezo pelo período e pelos ideais que fizeram acontecer tamanhos horrores. Sua intenção é transmitir isso para o público da forma mais realista possível. Fica claro o quanto foi importante para o cineasta contar a história de Oskar Schindler e o sofrido povo judeu que ele lutou para ajudar. Steven Spielberg comanda a narrativa com tamanha sensibilidade, profundidade e cuidado que fica impossível não se impressionar pelo conteúdo, ao ponto de se emocionar. O público sofre junto com os personagens judeus e sente raiva dos carrascos que os oprime. É um verdadeiro turbilhão de emoções. E no final, se você tiver um mínimo de humanidade em seu interior e estiver extremamente envolvido pela história e sua mensagem, é possível que venha derramar algumas lágrimas. Afinal, Steven Spielberg sempre foi muito bom em manipular os sentimentos e as emoções do público, mesmo em seus filmes mais fantasiosos. E aqui, ele consegue essa proeza mais uma vez com sucesso.
Para contar essa história com o máximo de realismo e veracidade que ela merece, Spielberg capricha não apenas no roteiro. O longa visualmente também é espetacular. A começar pela decisão do cineasta de rodar todas as cenas com uma belíssima fotografia preto e branco, inserido cores em momentos pontuais. A fotografia dá ao filme um tom de documentário impressionante. Mesmo que tudo o que vemos na tela seja cenográfico e atuado, a impressão que fica é que tais cenas realmente são imagens de arquivos que foram gravadas durante o período retratado. O design de produção é maravilhoso, com uma reconstituição de época que enche os olhos, com cenários típicos do período, os figurinos que reproduzem a beleza da alta sociedade da época junto com a pobreza e simplicidade dos judeus e uma cenografia muito convincente, o que deixa nítida a preocupação de Spielberg e sua equipe com os detalhes, demonstrando o quanto as pesquisas e estudos pela história real foram necessários. Os planos, movimentos e enquadramentos do diretor fazem com que a câmera praticamente desapareça. Nos sentimos como mais um personagem dentro desse cenário, presenciando as decisões tomadas, o caos e morte. A música tem um papel muito importante a desempenhar. Por isso, a trilha sonora do mago John Williams não decepciona, algo que já era esperado do espetacular compositor, parceiro de longa data de Spielberg. A edição de som é fabulosa, tanto que quando ouvimos os barulhos de tiros, sentimos o impacto.
O elenco dá um show e cada ator e atriz foi escolhido com sabedoria para interpretar seus respectivos personagens. Liam Neeson atua de forma sublime na pele da figura histórica de Oskar Schindler. Começando como um homem arrogante que se aproveita dos pobres judeus para ganhar fama e fortuna e terminando como alguém solidário e humano diante de tamanha crueldade nazista, o ator rouba a cena em uma performance respeitável. Ralph Fiennes é o vilão cruel e sádico que todo mundo ama odiar. Com uma atuação perfeita, o ator arrebenta na pele de um homem frio, calculista e sem um pingo de sentimento pelo próximo. De acordo com relatos reais, Amon Goeth foi um dos piores seres humanos que já existiu. E o público percebe isso através da entrega de corpo e alma de Fiennes para que a figura do antagonista seja relembrada com muito realismo e impacto. O resto do elenco de apoio se esforça em atuações tão brilhantes quanto, com destaque para a participação comovente de Ben Kingsley, cuja a dor de ver o sofrimento do seu povo é notável em cada expressão do seu olhar.
''A Lista de Schindler'' é trágico, triste e emocionante. Porém, é uma obra necessária e importante não apenas para a história do cinema, mas também para que longas discussões sejam realizadas para falar sobre o seu conteúdo. A história nos ensinou o quanto o ser humano foi e pode ser perverso, capaz de atitudes e ações abomináveis. Mas são pessoas como Oskar Schindler que ainda nos inspiram e nos dão esperança de que a humanidade não está completamente perdida. Schindler não foi perfeito e errou bastante. Mas foi o seu ato heroico que entrou para a história como algo digno de ser lembrado por toda uma vida. Obra-prima insuperável e inesquecível de Steven Spielberg, obrigatória para qualquer amante de cinema.
Nota: ★★★★★★★★★★ 10
A LISTA DE SCHINDLER (SCHINDLER'S LIST - 1993) - Drama biográfico, 195 Minutos. / PRODUZIDO E DIRIGIDO POR: Steven Spielberg. - ELENCO: Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes, Embeth Davidtz, Caroline Goodall, Jonathan Sagall. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 97%
CURIOSIDADES:
* Antes de Steven Spielberg, a direção de ''A Lista de Schindler'' chegou a ser oferecida ao excelente Martin Scorsese. Contudo, diretor recusou a proposta, alegando que para ter mais impacto, o filme precisava ser realizado por um diretor judeu.
* Um dos produtores do filme é Branko Lustig, sobrevivente real dos campos de concentração nazistas de Auschwitz. Além de ''A Lista de Schindler'', Lustig já produziu outros filmes com a mesma temática. Um exemplo é o aclamado ''A Escolha de Sofia, longa de 1982 estrelado por Meryl Streep
* A atriz Claire Danes, de filmes como ''O Exterminado do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas'' e ''Stardust: O mistério da Estrela'' foi cogitada para fazer parte do elenco do filme. Mas no fim, acabou ficando de fora.
* As cenas que acontecem nos campos de concentração nazistas de Auschwitz foram filmadas em um set construído em um estúdio da Universal Pictures. Steven Spielberg não obteve autorização para filmar em Auschwitz, portanto, teve que reproduzir tudo com o máximo de fidelidade possível com a realidade
* (ALERTA DE SPOILER) na cena final, que mostra os verdadeiros sobreviventes colocando pedras no túmulo de Oskar Schindler como forma de homenageá-lo, as mãos que são mostradas colocando flores no local pertencem ao ator Liam Neeson. Sua silhueta pode ser vista ao longe, um pouco antes dos créditos finais surgirem.
* Milla Pfefferberg, uma sobrevivente real do holocausto chegou a tremer de nervoso ao ver o ator Ralph Fiennes interpretar o comandante nazista Amon Goeth. De acordo com ela, o astro ficou muito parecido com o verdadeiro Goeth.
* A verdadeira Lista de Oskar Schindler com os nomes de todos os judeus que ele salvou foi encontrada escondida no sótão do seu apartamento. Foi o local que ele morou até 1974, quando veio a falecer.
* Para interpretar Amon Goeth, o ator Ralph Fiennes precisou engordar 13 quilos. Esse aumento de peso foi o resultado do consumo excessivo da cerveja Guinness que fazia parte do hábito do verdadeiro Goeth, que adorava a bebida.
* Steven Spielberg não obteve autorização para filmar em Auschwitz, mas teve permissão para entrar e visitar os verdadeiros campos de concentração. Por fim, o diretor preferiu não filmar nenhuma cena por respeito a memória das milhares de vidas que foram perdidas ali.
* Com incríveis 12 indicações ao Oscar, ''A lista de Schindler'' venceu o prêmio em 7 categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Montagem, Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte. Também foi indicado para Melhor Ator (Liam Neeson), Melhor Ator Coadjuvante (Ralph Fiennes), Melhor Som, Melhor Maquiagem e Melhor Figurino.
* O filme foi aclamado pela crítica especializada e foi um grande sucesso financeiro, arrecadando mais de 300 Milhões nas bilheterias mundiais, com um orçamento de produção de 22 Milhões.
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