Por: Rudnei Ferreira
A franquia ''Invocação do mal'' conquistou seu espaço no gênero de terror e uma legião de fãs, se tornando uma das maiores e mais rentáveis da história do cinema. E tudo começou em 2013, quando o talentoso James Wan lançou o ótimo ''Invocação do mal''. Tamanho sucesso fez com que ''Invocação do mal 2'' ganhasse as telas em 2016, resultando em uma sequência tão boa quanto o filme original. Os dois longas dirigidos por James Wan originaram filmes derivados que se passam no mesmo universo, como é o caso dos filmes ''Annabelle'' (2014), ''Annabelle 2: a criação do mal'' (2017), ''A maldição da chorona'' (2019) e esse ''A freira'' de 2018. ''A freira'' é o segundo longa do diretor Corin Hardy (A maldição da floresta), sendo um derivado de ''Invocação do mal 2'', focando na assustadora freira demoníaca ''Valak'' que aterrorizou o casal Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga).
O filme se passa na Romênia dos anos 50, aproximadamente 20 anos antes dos acontecimentos vistos no primeiro ''Invocação do mal''. Durante uma assustadora ação para proteger o convento onde se encontra, uma freira comete suicídio. O chocante e inesperado acontecimento chama a atenção do Vaticano, que decide enviar até o local o experiente padre Buker (Demiám Bichir) com a missão de investigar os mistérios por trás do suicídio. Para isso, ele recorre a ajuda de Irene (Taissa Farmiga), uma jovem noviça aspirante a freira. Porém, situações sobrenaturais e assustadoras começam a acontecer, onde tudo parece está ligado a um poderoso ser demoníaco conhecido como Valak (Bonnie Aarons). Ambos precisam se unir para dar um fim e esse ser maligno, antes que mais vidas sejam perdidas.
Para quem já assistiu a vários filmes do gênero envolvendo espíritos demoníacos, exorcismos, assombrações e lugares assombrados, não vai encontrar nada de inovador em ''A freira''. E de fato, o longa é cheio de clichês e conveniências, com uma série de sustos feitos para o espectador pular da cadeira e sentir calafrios. Mesmo assim, na minha humilde opinião, o filme funciona positivamente por causa da sua excelente atmosfera sobrenatural e sombria, principalmente em torno da figura assustadora da freira demoníaca e pela maneira competente com que o roteiro faz uso dos clichês e da familiaridade, cumprindo seu papel dentro da história.
A trama é de fato mais do mesmo. Mas o roteiro deixa claro suas intenções, que é apresentar uma história de terror com elementos macabros e assustadores em torno da sinistra personagem que dá título ao filme. Ou seja, quem espera algo diferente disso, vai acabar se decepcionando. Mas uma coisa pode ser dita: desde quando foi lançado os materiais de divulgação e os trailers, não se pode dizer que o filme tentou enganar ninguém, pois a proposta foi deixada bem clara. E mesmo sabendo o que iria encontrar, fui ver o filme justamente por gostar muito dessa proposta, mesmo ela não sendo inovadora. Dito isso, o filme cumpre seu papel e proporciona exatamente aquilo para quem sabe muito bem o que vai encontrar. Se tudo o que você quer é um filme clichê, mas bem feito, ''A freira'' está ai para agradá-lo mais uma vez, assim como foi comigo. Talvez o grande erro tenha sido o fato do filme ser vendido como ''O capitulo mais tenebroso do universo de INVOCAÇÃO DO MAL'', pois o filme está longe de ser isso, sendo que os filmes de James Wan são bem mais tenebrosos. Mas tirando isso, ''A freira'', dentro da sua proposta, não faz feio.
O filme impressiona pelo seu design de produção e pela atmosfera gótica e sobrenatural muito bem desenvolvida. O convento antigo e fantasmagórico, onde acontece a maior parte da história, transmite muito bem a urgência e a sensação de perigo, com algo sombrio e assustador escondido no local. A fotografia escura exerce o seu papel perfeitamente para a construção do tom macabro e sufocantemente assustador que permeia nos cenário, e a iluminação cria ilusões visuais interessantes, com sombras e vultos. Os sustos são previsíveis e bem telegrafados, ainda mais com a ajuda da edição de som e da trilha sonora. Mas, de novo, voltado ao assunto da proposta, eles funcionam e garantem sim momentos de tensão para o espectador. Os planos de câmera são outro recurso inteligentemente bem utilizado. A direção foca em determinado detalhe e logo em seguida movimenta a câmera suavemente para outra direção e depois volta para o ponto onde estava antes. E quando faz isso, mostra algo que não estava lá anteriormente. É mais um exemplo de clichê, mas que gera um resultado bem legal aqui. Outros momentos incluem giros para demonstrar desestabilidade e confusão, e funciona igualmente bem. E em outras sequências, a câmera se movimenta com leveza pelos cenários ou junto com os personagens, aumentando a sensação de que algo perturbador pode aparecer ou ser mostrado a qualquer momento.
O trabalho de maquiagem e efeitos práticos, especialmente no que diz respeito a imagem da macabra freira, são muito bons. Porém, os efeitos digitais também são interessantes, garantindo algo visualmente bem legal. Os conceitos e ideias visuais que encontramos aqui, mesmo familiares dentro do gênero, geram resultados divertidamente assustadores. Não adianta dizer que não: ''A freira'' se vende muito mais pelo seus recursos visuais e de produção do que pela história, que é bem simples. E para mim, o filme faz um bom trabalho nesses aspectos pois a trama simplória serve apenas como impulso para apresentar a sua atmosfera sombria e os seus vários sustos. Porém, a violência surpreende por ser mais gráfica e com mais elementos gore, colocando esse como um dos filmes mais violentos do universo de ''Invocação do mal'', o que é muito bom. Os temas envolvendo religião podem ser polêmicos e controversos para os mais conservadores, mas neste caso, assim como em outros exemplos dentro da franquia, continuam servindo bem à trama.
Vamos falar um pouco do elenco. Taissa Farmiga, curiosamente a irmã mais nova de Vera Farmiga, a nossa Lorraine Warren dentro desse universo, está ótima como a irmã Irene. Ela dá vida a uma personagem que mescla pureza, inocência e timidez, mas que sabe ser forte e decidida quando tem que ser. Tudo isso é expressado de maneira que nos convence, graças ao carisma e talento da jovem atriz que se mostra tão boa na arte de atuar quanto a irmã. O padre Burke, sob a performance de Demiám Bicher é um bom personagem, mas que poderia ter mostrado muito mais da experiência que o roteiro tenta nos convencer que ele tem. Mesmo assim, o ator está bem. Jonas Bloquet entrega bem o medo de seu personagem diante dos eventos macabros que acontece ao seu redor, mesmo que Fenchie tenha mais o propósito de ser um alívio cômico para a trama. Porém, o personagem serve como uma referência bem bacana a filmes anteriores da franquia e possui uma ligação dentro desse universo bem legal. Já as pequenas aparições de Patrick Wilson, Vera Farmiga e Lili Taylor tem como propósito aquecer o coração dos fãs do primeiro ''Invocação do mal''. Porém, o roteiro faz um trabalho competente ao conectar os dois filmes, o que fará com que os fãs deem uma de Capitão América, dizendo ''Eu entendi a referência''. Por último, mas não menos importante, Bonnie Aarons continua brilhantemente assustadora e macabra como a demoníaca Valak. Foi assim em ''Invocação do mal 2'' e volta a ser assim com o mesmo impacto aqui. Uma coisa que o roteiro faz bem é não expor demais a imagem da criatura macabra, apostando muito mais na sugestão do perigo e ameaça que sua figura representa. E quando chega o momento da sua grande aparição, a atriz não decepciona com seu visual amedrontador e suas ações de arrepiar.
''A freira'' não traz nada de novo dentro do gênero terror, apostando em uma fórmula familiar que faz muito sucesso entre os admiradores do gênero e foi o segredo para que a franquia ''Invocação do mal'' crescesse tanto, se tornando uma das maiores do cinema de terror na atualidade. Embora esteja longe de ser ''O capítulo mais tenebroso'' desse universo, como foi exaustivamente anunciado, o filme é bem honesto em sua proposta e consegue divertir e assustar nos momentos certos, além de ser caprichosamente bem feito em questões de produção. O último bom filme presente na franquia até agora, já que o longa seguinte, ''A maldição da Chorona'' é uma grande perda de tempo. Enfim, vamos aguardar e ver o que mais o universo de ''Invocação do mal'' pode nos proporcionar.
Nota: ★★★★★★★ 7
A FREIRA (THE NUN - 2018) - Terror sobrenatural, 96 Minutos. / PRODUÇÃO: James Wan, DIREÇÃO: Colin Hardy. - ELENCO: Taissa Farmiga, Bonnie Aarons, Demián Bicher, Jonas Bloquet, Patrick Wilson, Vera Farmiga, Lili Taylor. CLASSIFICAÇÃO: 14 Anos
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