ANNABELLE 2: A CRIAÇÃO DO MAL (2017) - UMA SEQUÊNCIA SUPERIOR E DE QUALIDADE!
Por: Rudnei Ferreira
A boneca Annabelle se tornou um dos ícones do cinema de terror da atualidade, mostrando que produções cinematográficas com brinquedos bizarros ainda rendem bons filmes. Baseada na verdadeira boneca que na vida real pertencia aos detetives paranormais Ed e Lorraine Warrem, sua primeira aparição no cinema foi no ótimo ''Invocação do mal'' de 2013, dirigido por James Wan. O sucesso de sua aparição rendeu à assustadora boneca um filme solo em 2014, sendo o primeiro de uma série de derivados que se passam no universo de terror apresentado por James Wan. O primeiro filme, embora na minha opinião, seja uma boa produção de terror, dividiu a opinião de alguns, mas fez muito sucesso nas bilheterias.
Depois do sucesso comercial de ''Invocação do mal 2'' em 2016, os planos para uma sequência do primeiro filme de Annabelle estavam nos planos da Warner Bros. Dirigido pelo cineasta David F. Sandberg, que no mesmo ano de 2016 comandou o igualmente bom ''Quando as luzes se apagam'', ''Annabelle 2: a criação do mal'' chegou as telas do cinema um ano depois. Para a surpresa daqueles que não esperavam muito do filme, a sequência do sucesso de 2014 se mostrou sendo um ótimo filme de terror, sendo considerado por muitos, incluindo eu, um dos melhores filmes do Universo de ''Invocação do mal'' e bem superior ao seu antecessor.
A trama de ''Annabelle 2'' se passa 12 anos antes dos acontecimentos vistos no primeiro filme de 2014 e 17 anos antes dos eventos vistos no primeiro ''Invocação do mal''. Samuel Mullins (Anthony LaPaglia) é um fabricante de brinquedos, famosos por suas bonecas, que vive com sua esposa Esther (Miranda Otto) e sua pequena filha Annabelle (Samara Lee). Porém, uma tragédia pessoal cai sobre eles, mudando sua vidas para sempre. Anos depois, o ex fabricante de bonecas concorda em abrigar em sua casa uma freira (Stephanie Sigman) e um grupo de jovens garotas, depois que o orfanato onde viviam veio a fechar. Quando as jovens Janice (Talitha Baterman) e Linda (Lulu Wilson) descobrem escondida em um lugar escuro da casa uma misteriosa boneca, uma série de acontecimentos sobrenaturais começam a acontecer na residência, gerando consequências perturbadoras para todos.
David F. Sandberg procura seguir os passos de James Wan, sabendo criar uma ótima atmosfera sombria em torno da boneca e do cenário apresentado e trabalhar muito bem os clichês do gênero presentes na história. ''Annabelle 2'' decide voltar no tempo e contar as origens da nefasta boneca. Diferente do filme de 2014, o roteiro explora muito mais a entidade demoníaca que possui a boneca e os eventos que o fizeram usar o brinquedo como seu receptáculo do mal. De resto, presenciamos muito daquilo que já vimos em outros filmes de terror e até mesmo dentro da franquia, como gritos, manifestações, luzes que piscam, sustos Jumpscare e uma trilha sonora sinistra que tem grande impacto nas cenas assustadoras. Porém, como já citado, o diretor sabe desenvolver muito bem esses elementos e tem a capacidade e competência de entregar um longa clichê e previsível, mas que realmente funciona e nos garante um terror genuinamente competente na arte de nos assustar. Ele já tinha feito isso muito bem em ''Quando as luzes se apagam'' e trouxe os resultados de sua ótima direção também em ''Annabelle 2''.
Além da boneca Annabelle, fica claro desde o início que podemos esperar novos personagens ou elementos sobrenaturais que são jogados em cena com o propósito de serem mais desenvolvidos em filmes futuros. O primeiro ''Invocação do mal'' nos trouxe Annabelle, ''Invocação do mal 2'' apresentou novas entidades como o Homem-Torto e a freira demoníaca ''Valak'', que aliás, nos traz uma pequena prévia aqui do seu filme solo. Já ''Annabelle 2'' apresenta, como quem não quer nada, a figura sinistra de um espantalho, o que não é de se duvidar de que a Warner queira fazer um derivado dele também. Independente de tudo isso, outra coisa que funciona são os personagens. Normalmente, em filmes do gênero, os personagens são mal desenvolvidos e utilizados para levarem a pior, ao ponto do público torcer para que os vilões levem a melhor sobre eles. No universo de ''Invocação do mal'' é diferente e, normalmente, os personagens possuem alguma camada, tornando possível torcer por eles e temer por suas vidas diante do perigo. E ''Annabelle 2'' é mais um exemplo disso.
O longa conta com uma produção caprichada. O design de produção chama a atenção pelos detalhes, transformando a casa onde a história se passa em basicamente mais um personagem. Embora aparente ser acolhedora, existe uma aura sombria que perpetua no lugar, dando a sensação de algo oculto assustador, o que de fato é o caso. Mas isso só fica mais evidente conforme a trama avança. Méritos do departamento de arte que soube criar bem essa sensação em seus detalhes de produção. A maneira como David F. Sandberg movimenta sua câmera também é interessante. Tem momentos que ele prefere transitar com suavidade, seguindo os personagens e usando planos abertos para que o espectador possa explorar os cenários junto com os personagens. Já nas cenas mais assustadoras, o diretor faz um bom trabalho com a iluminação, sombras, a edição de som e a trilha sonora, tendo como resultado alguns dos grandes momentos do filme.
E Sandberg sabe o que mostrar explicitamente ou apenas sugerir. A sugestão de algo assustador em algumas cenas comprovam o talento que o cineasta tem em construir atmosfera, e nem por isso, essas cenas deixam de causar impacto. Com a atmosfera construída e bem estabelecida, as cenas mais explicitas começam a acontecer. E são esses momentos mais explícitos que transformam ''Annabelle 2'' em um dos filmes mais viscerais do universo ''invocação do mal'', impressionando pela violência mais gráfica. O filme desenvolve sua premissa aos poucos ao longo dos dois primeiros atos, oferecendo alguns sustos ocasionais como um abre alas para o que está por vir. Já no terceiro ato, as coisas ficam mais sérias e os sustos são mais intensos e frequentes. O filme pode ser familiar e até previsível, mas ninguém pode negar em ele é extremamente competente no que se propõe a fazer.
Todo o elenco se sai muito bem, o que reforça o que foi dito sobre a franquia ''Invocação do mal'' também se destacar nesse quesito. Pelo menos duas atuações merecem ser mencionadas: as de Talitha Baterman e Lulu Wilson. Suas personagens são as mais bem desenvolvidas pelo roteiro. A amizade entre elas é forte, fofa e até tocante em alguns momentos e convence nas telas. Toda trama gira em sua maioria em torno da personagem de Talitha e a jovem atriz da um show, mesmo sendo tão jovem e esteja em um papel forte. Já Lulu Wilson é meiga e representa bem a inocência da infância. E nas cenas assustadoras, sabe transmitir medo e inteligência ao mesmo tempo.
Já as outras atrizes, que dividem as telas com elas, tem menos destaque, mas todas tem o seu momento em cena. Anthony LaPaglia e Miranda Otto são menos aproveitados pelo roteiro, mas não decepcionam, especialmente Miranda, cuja sua personagem é cercada em meio a mistérios e teorias, até finalmente revelar sua verdadeira condição. O filme possui um ótimo final, que faz ligações com o primeiro filme, servindo como um complemento para os acontecimentos vistos na produção de 2014. É bem legal de ver como os dois filmes se completam nesse momento.
Com ótimos sustos e uma atmosfera muito bem construída, ''Annabelle 2: a criação do mal'' é bem superior ao seu antecessor e entrega tudo aquilo que promete. Graças a uma direção empenhada em fazer um bom trabalho, o segundo capítulo da saga da boneca mais assustadora do cinema é, sem dúvidas, um dos melhores filmes do sombrio universo de ''Invocação do mal'' e o melhor filme da personagem até agora. Mesmo clichê, é um filme genial.
Nota: 🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟 10
ANNABELLE 2: A CRIAÇÃO DO MAL (ANNABELLE: CREATION - 2017) - Terror/Suspense, 110 Minutos. / PRODUÇÃO: James Wan. / DIREÇÃO: David F. Sundberg. - ELENCO: Talitha Baterman, Lulu Wilson, Stephanie Sigman, Miranda Otto, Anthony LaPaglia, Samara Lee, Grace Fulton, Philippa Coulthard, Tayler Buck, Lou Lou Safran, Joseph Bishara, Bonnie Aarons, Annabelle Wallis, Ward Horton. CLASSIFICAÇÃO: 14 Anos.
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