O Esquadrão Suicida (2021) - Mais um grande acerto da DC no cinema!
Por: Rudnei Ferreira
É conhecimento de todos que a DC tem uma carreira de altos de baixos quando o assunto é adaptações dos quadrinhos para o cinema. Temos ótimos exemplares como a ''Trilogia do Batman'' dirigida por Christopher Nolan, os dois primeiros filmes do Superman de 1978 e 1980 respectivamente e o ''Coringa'' dirigido por Todd Phillips, que concedeu o Oscar para Joaquim Phoenix. Isso sem mencionar os vários filmes de animação, lançados no cinema ou direto para o mercado de Home Vídeo e Streaming. Porém, também tivemos o desprazer de conferir verdadeiras bombas cinematográficas como ''Mulher-Gato'' e ''Lanterna Verde'', além dos patéticos ''Batman Eternamente'' e ''Batman e Robin''. Com o imenso sucesso financeiro e crítico estabelecido pela Marvel através do seu universo cinematográfico iniciado em 2008 com ''Homem de Ferro'', a DC não quis ficar atrás e também resolveu criar para si uma série de filmes com histórias próprias, mas que se conectam entre si de alguma maneira. Esse universo estendido começou em 2013 com o eletrizante ''O Homem de Aço'', dirigido por Zack Snyder. Três anos depois, esse universo de filmes ganhou o seu segundo exemplar com ''Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), que também foi dirigido por Snyder e se tornou um dos filmes de super-heróis mais polêmicos e controversos do gênero. Isso porque a obra dividiu a opinião do público, com uns criticando o tom extremamente sombrio e violento do filme e outros aclamando tudo o que Zack Snyder fez. Tais reações também se aplicaram em ''O Homem de Aço''.
Temendo mais reações adversas, a Warner optou por um próximo filme mais leve e familiar. Foi o que aconteceu no mesmo ano de 2016 com ''Esquadrão Suicida'', longa dirigido por David Ayer. Originalmente planejado como um filme mais sério e sombrio, nos mesmo moldes dos seus antecessores, o filme estrelado por Margot Robbie, Will Smith, Viola Davis e um grande elenco foi transformado em uma comédia de ação e fantasia, inspirado por James Gunn e o seu primeiro filme dos ''Guardiões da Galáxia'' lançado pelo Marvel Studios 2 anos antes. O resultado desagradou boa parte da crítica e do público. Mesmo com as críticas severas que o filme de Ayer recebeu, ele lucrou o suficiente nas bilheterias para dar prosseguimento ao Universo Cinematográfico da DC, que foi mais bem recebido com ''Mulher Maravilha'' (2017), ''Aquaman'' (2018), ''Shazam'' (2019) e o mais recente ''Liga da Justiça de Zack Snyder'' (2021) ''Batman vs Superman'' desagradou com sua versão picotada e mal editada que foi para os cinemas. A pedido dos fãs, a Warner e a DC lançaram uma versão estendida com 30 minutos adicionais e que foi muito mais bem aceita. ''Liga da Justiça de Zack Snyder'' foi ovacionado pelos fãs que clamaram pelo corte do diretor depois da criticada versão de Joss Whedon lançada em 2017. E ''Esquadrão Suicida'' de 2016 também sofreu o mesmo destino, com muitos fãs exigindo um corte dirigido por David Ayer sem a interferência do estúdio.
Pois bem, o time de super vilões da DC não ganhou um corte do diretor que nem ''Batman vs Superman'', mas teve uma segunda chance através do ponto de vista de James Gunn, o mesmo diretor dos dois ''Guardiões da Galáxia'' pela Marvel. E graças a ele, esse novo ''Esquadrão Suicida'' entrega uma aventura divertida e sangrenta bem superior ao filme de 2016.
Na trama, a astuta e arrogante agente do governo Amanda Waller (Viola Davis) reúne um grupo com os maiores super vilões de todos os tempos, entre eles Arlequina (Margot Robbie), O Sanguinário (Idris Elba), O Pacificador (John Cena) e o coronel Rick Flagg (Joel Kinnaman). Sua intenção é enviá-los até uma remota ilha para encontrar um antigo laboratório da época dos nazistas. No passado, o local era utilizado para a realização de terríveis experiências científicas, porém, continua na ativa. Sendo assim, a principal missão do Esquadrão Suicida é impedir que o mundo corra o risco de ser destruído por um misterioso projeto científico conhecido como ''Estrela-Do-Mar'', criado na época da Segunda Guerra Mundial e que permanece mais vivo do que nunca.
Vou ser bem honesto: eu sou um dos poucos que gosta do ''Esquadrão Suicida'' de 2016. Sim, o filme tem as suas falhas e pode ser considerado um dos mais fracos desse universo estendido da DC. No entanto, o longa de David Ayer consegue me divertir em vários momentos. Sem contar que eu adorei os personagens, principalmente a Arlequina da bela Margot Robbie e o pistoleiro vivido por Will Smith. No entanto, ao assistir essa nova versão de 2021 para os vilões da DC, não tem como negar que ele é um filme bem superior. E o principal motivo para que ''O Esquadrão Suicida'' seja bom e melhor é um só: a direção sem amarras e completamente a vontade de James Gunn. O grande problema do filme de 2016 foi o fato de que o estúdio interferiu e não deu ao diretor David Ayer, que é um bom cineasta, a liberdade necessária para que ele pudesse expor as suas ideias nas telas. Já com James Gunn foi diferente. Demitido da Marvel por causa de uma polêmica envolvendo antigas postagens nas redes sociais, a DC mais do que depressa correu atrás para contratá-lo e deu carta branca para que ele realizasse um filme da sua maneira e do jeito que bem entendesse. E é exatamente isso que presenciamos aqui. Desde a primeira cena, ''O Esquadrão Suicida'' nos mostra a que veio. Com total liberdade, James Gunn equilibra perfeitamente bem comédia, ação, fantasia, violência e uma leve crítica social ao poder americano e suas ocultações, tudo sem censura e sem qualquer tipo de pudor, diferente do filme de 2016.
É um filme que não se leva a sério, tendo plena consciência dos seus absurdos, exageros e galhofices, já que esse é o seu propósito. A trama não tem nada demais. Na verdade, ela é bem clichê e familiar. Mas é graças a ótima direção de Gunn e o roteiro, que sabe desenvolver muito bem a sua história e seus personagens, que o espectador é completamente envolvido pela proposta maluca e divertida da obra. Nesse aspecto, ele até lembra o ''Esquadrão'' de 2016. O diferencial está na maneira como a narrativa é conduzida. É um exemplo perfeito do que uma direção dedicada, comprometida e livre para fazer suas escolhas é capaz. E quando um diretor tem total liberdade sobre sua obra, as chances de vermos algo bom e que vale a pena são maiores.
O humor do filme funciona e a maioria das piadas arrancam algumas risadas, sejam elas através da fisicalidade dos personagens ou através dos diálogos. As cenas de ação e pancadaria são espetaculares, frenéticas, empolgantes e muito bem dirigidas, méritos dos ótimos planos de câmera e das coreografias bem realizadas. Por conta da alta classificação indicativa do filme, o espectador não é poupado da violência extremamente gráfica, com direito a muito sangue, mutilações e algumas imagens perturbadoras para os mais sensíveis, mesmo com o tom cômico presente na trama. A cinematografia é belíssima, com uma ampla paleta de cores e um design de produção com os seus cenários e figurinos de arrasar. Vale mencionar os efeitos visuais que também são muito bons. Um dos grandes acertos do filme de 2016 era a sua trilha sonora, e aqui, não seria diferente. As músicas são muito bem escolhidas e embalam os melhores momentos do longa. James Gunn tem total controle da situação e utiliza brilhantemente todos esses aspectos cinematográficos.
O elenco é ótimo, trazendo alguns rostos conhecidos por aqueles que assistiram o filme de 2016 e também novas adições. Cada ator e consequentemente personagens em cena tem o seu momento de destaque. São vilões incomuns, alguns deles beirando a bizarrice e o absurdo. Mas a história é tão boa e tão bem desenvolvida que todos eles funcionam dentro da proposta do filme, com suas motivações e histórias por trás. Margot Robbie, Joel Kinnaman, Jai Courtney e Viola Davis reprisam os seus personagens do primeiro filme da equipe. Courtney faz apenas uma participação como o Capitão Bumerangue. Kinnaman, como o Coronel Rick Flagg, é melhor trabalhado pelo roteiro do que no filme de David Ayer e Viola Davis está ainda mais venenosa e desprezível como Amanda Waller. No entanto, é a Arlequina de Margot Robbie que se destaca mais uma vez dentro desse universo cinematográfico da DC. A essa altura, a atriz já conhece a personagem como a palma da mão. E depois de roubar a cena no fraquíssimo ''Aves de Rapina'', ela está de volta, protagonizando uma das melhores cenas com a personagem dentro dessa leva de filmes. Claro que ela está ótima com sua beleza, fisicalidade e humor maluco em todo o filme, mas é nessa cena em específico que a personagem apresenta todo o seu potencial.
Já no grupo dos novatos, Idris Elba tem carisma e presença na sua performance como O Sanguinário. E o mesmo pode ser dito de John Cena como O Pacificador. A atriz portuguesa Daniela Melchior e David Dastmalchian estão bem nos seus personagens de dons incomuns. E por último, Sylvester Stallone está absolutamente hilário emprestando a sua voz grave para o divertido Tubarão-Rei. Michael Rooker, Taika Waititi e a brasileira Alice Braga, embora bem, não passam de meras participações especiais sem nenhum desenvolvimento.
Ousado, insano, eletrizante e divertido, ''O Esquadrão Suicida'' é a redenção da DC para aqueles que se frustraram com o primeiro filme da equipe. Cheio de momentos marcantes, ótimos personagens, bom desenvolvimento e uma direção segura, é um prato cheio para quem curte ação, comédia e fantasia na medida certa. Depois das decepções que foram ''Aves de Rapina'' e ''Mulher-Maravilha 1984'', esses sim verdadeiras decepções, a DC volta aos trilhos com essa imperdível e maluca aventura. Só nos resta esperar que ela mantenha esse nível de qualidade nas suas futuras produções. Ah, e fiquem até o final pois o filme tem duas cenas pós-créditos. Valeu, James Gunn!
Nota: ★★★★★★★★★ 9
- Tanto o primeiro filme de 2016 quanto esse novo filme de 2021 são baseados nos quadrinhos da DC criados por John Ostrander. A intenção do diretor James Gunn era se aproximar o máximo possível dos quadrinhos, o que explica o fato do filme ser bastante violento, já que a obra original também é.
- De acordo com o próprio James Gunn, o astro Sylvester Stallone foi facilmente convencido para participar do filme dublando o simpático Tubarão-Rei. O diretor ligou para Stallone explicando que tinha escrito um personagem para ele, que rapidamente aceitou. Essa conversa entre eles durou o máximo de 10 minutos. Ambos já haviam trabalhado juntos em ''Guardiões da Galáxia vol. 2'' (2017)
- A ideia original do estúdio era chamar Idris Elba para interpretar O Pistoleiro, personagem do primeiro filme do Esquadrão Suicida e que foi interpretado por Will Smith, que não retornou para esse novo filme. No entanto, a ideia foi deixada de lado e um novo personagem foi oferecido para o ator, nesse caso, O Sanguinário.
- James Gunn chegou a escalar o ator Dave Bautista. Ambos trabalharam juntos nos dois filmes dos Guardiões da Galáxia pelo Marvel Studios. O diretor chegou a convidá-lo pessoalmente para o filme, no entanto, o ator recusou a oferta para atuar em ''Army Of The Dead'', produção original da Netflix dirigida por Zack Snyder.
- David Ayer, que dirigiu o filme do Esquadrão Suicida em 2016, havia sido cotado para dirigir uma sequência do longa. No entanto, a recepção negativa do público e da critica com o filme fizeram com que o cineasta fosse retirado do projeto.
- Com a intenção de evitar vazamentos e informações sobre o filme, todos os funcionários, incluindo os atores, foram proibidos de usar celulares no set de filmagem.
- Durante os intervalos das filmagens, o ator John Cena aprendeu a tocar Piano.
- Joel Kinnaman, o intérprete do Coronel Rick Flagg, ganhou 9 kg de massa muscular para viver o personagem.
- ''O Esquadrão Suicida'' foi o responsável por dar a atriz portuguesa Daniela Melchior o seu primeiro papel norte americano no cinema. No filme, ela interpreta a personagem Caça-Ratos 2.
- Algumas frases mais ousadas ditas pelo personagem O Pacificador no filme foram totalmente improvisadas por John Cena. O ator teve essa permissão do diretor James Gunn.
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