Êxodo: Deuses e Reis (2014) - O épico bíblico de Ridley Scott
A história de Moisés, o homem que foi escolhido por Deus para libertar o povo hebreu da tirania do faraó do Egito é uma das passagens mais famosas da Bíblia. Presente no Velho Testamento, no livro do êxodo, a impressionante jornada do messias hebreu serve até hoje de inspiração para a fé de milhares de pessoas no mundo todo. A história bíblica também já esteve presente nas telas do cinema em várias adaptações cinematográficas, desde o clássico ''Os Dez Mandamentos'' (1956) até a aclamada animação da Dreamworks ''O Príncipe do Egito'' (1998).
A última grande adaptação veio em 2014, quando o aclamado diretor Ridley Scott, diretor de grandes obras como ''Blade Runner: O Caçador de Androides'' (1982) e ''Gladiador'' (2000) trouxe para as telas grandes a sua visão da celebrada história bíblica. Como resultado, o longa foi mal visto por algumas entidades religiosas devido o seu conteúdo, fazendo pouco alarde nas bilheterias, além de ser mal avaliado pela maioria dos críticos. Tudo isso é realmente uma pena, já que a versão de Scott para a passagem de Moisés na terra é realmente interessante e merece ser conferido por todos aqueles que, assim como eu, gosta do cinema épico do cineasta.
Na época do antigo império egípcio, Moisés (Christian Bale), nascido entre o povo hebreu, foi resgatado do rio ainda bebê e criado em meio as riquezas do faraó Seth (John Turturro). Ao lado do irmão Ramsés (Joel Edgerton), ele comanda o exército real, além de exercer outras funções. Porém, ao descobrir os mistérios do seu passado, Moisés deixa de ser um príncipe do Egito e se transforma em um mensageiro de Deus na missão de libertar o seu povo da escravidão e da opressão do cruel governo.
Ao longo de suas 2 horas e 30 minutos de duração, o que o diretor Ridley Scott faz é transformar ''Êxodo: Deuses e Reis'' em mais um de seus grandiosos épicos, no mesmo estilo de outros de seus filmes como ''Gladiador'', ''Robin Hood'' (2010) e ''Cruzada'' (2005). Para isso, o roteiro toma algumas liberdades artísticas que se diferenciam dos textos bíblicos. Mesmo que criativas, essas mudanças em relação a história e aos personagens originais podem desagradar aqueles que são mais adeptos da Bíblia. Não são mudanças grotescas, já que o essencial da história conhecida por muitos está presente na narrativa. No entanto, é notável as diferenças, já que Ridley Scott muda algumas passagens em prol do tom mais épico e realista. Tais elementos já são a marca registrada do diretor, portanto, o filme tem nitidamente a sua assinatura. No entanto, ao meu ver, tais mudanças e liberdades são muito válidas dentro da proposta do filme, já que o tom épico do diretor se encaixa muito bem com a trama em si. Sejamos justos, a trajetória de Moisés é belíssima, bem construída e grandiosa na sagrada escritura. É compreensível que Scott opte pela grandiosidade épica, mesmo que alguns segmentos e sequências destoem da verdadeira história do famoso profeta hebreu. No mais, o filme de Ridley Scott é até fiel aos princípios bíblicos da jornada de Moisés. Ou seja, um homem comum que foi escolhido pelo criador para libertar o seu povo da tirania, da ignorância e da maldade propagada por aqueles que achavam que estavam acima de tudo e de todos. No caminho, é deixada uma poderosa e importante mensagem de fé, otimismo e perseverança.
Comum em seus filmes épicos, Ridley Scott traz em ''Êxodo: Deuses e Reis'' um espetáculo visual de encher os olhos. A cinematografia explora a beleza de várias locações reais. Com a ajuda da fotografia cheia de cores fortes e quentes, as imagens ficam ainda mais deslumbrantes. Os efeitos visuais são espetaculares e impressionam na criação de vários momentos inesquecíveis como por exemplo as sequências envolvendo as pragas do Egito ou a fantástica passagem pelo mar vermelho, sem contar a recriação perfeita do antigo Egito, exibida magistralmente, principalmente através das belíssimas tomadas aéreas. Ambas as sequências chamam a atenção por causa do toque pessoal e diferente do diretor. O resultado é simplesmente incrível. Com uma boa montagem e ótimos planos de câmera, as cenas de ação e batalhas empolgam, algo que já era de se esperar de um épico do diretor. Vale mencionar o design de produção caprichado, com uma bela cenografia, figurinos bonitos e bem detalhados e uma maquiagem bem feita, contribuindo para uma boa caracterização egípcia.
Meu único grande porém com o filme é o fato do elenco escalado ser composto quase todo por atores e atrizes brancos, contrariando o tom de pele do povo egípcio antigo. Infelizmente, não é a primeira vez que Hollywood traz o conceito ''Whitewashing'' em suas produções cinematográficas e provavelmente não será a última. Afinal, eles fizeram isso dois anos depois em ''Deuses do Egito'' de 2016, outro filme que também se passa no Egito antigo. No entanto, o elenco cheio de talentosos atores e atrizes quase me fizeram contornar esse problema. Christian Bale leva nas costas o protagonismo da história. Sua versão mais guerreira para a figura de Moisés combina com a proposta do filme e o ator demonstra talento e competência, visando em entregar um bom papel. Já Joel Edgerton é um pouco inexpressivo como Ramsés. Mesmo assim, o personagem consegue ser um bom antagonista, trazendo uma boa rivalidade entre ele e o protagonista. Me incomodou um pouco o fato de que talentosos veteranos como Sigourney Weaver e Ben Kingsley foram mal aproveitados pelo roteiro. Mesmo assim, é sempre um prazer vê-los em cena.
Entre controvérsias e algumas ressalvas, ''Êxodo: Deuses e Reis'' porém, merece ser assistido e apreciado. Ridley Scott faz do seu épico bíblico mais uma grande aquisição a sua filmografia, com uma boa narrativa e um visual espetacular. Pode não ser a melhor das adaptações cinematográficas baseada na Bíblia, mas como entretenimento, é um filme bem satisfatório.
Nota: ★★★★★★★★ 8
ÊXODO: DEUSES E REIS (EXUDUS: GODS AND KINGS - 2014) - Ação/Aventura/Épico, 150 minutos. PRODUZIDO E DIRIGIDO POR: Ridley Scott. ELENCO: Christian Bale, Joel Edgerton, Sigourney Weaver, Aaron Paul, John Turturro, Ben Kingsley, Maria Valverde, Ben Mendelsonhn, Isaac Andrews. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 40%
CURIOSIDADES:
- Originalmente, o diretor Darren Aronofsky queria o ator Christian Bale interpretando o protagonista do seu filme ''Noé'', também de 2014. No entanto, o astro recusou a oferta por causa de conflitos na agenda. Por outro lado, Russell Crowe, o grande astro do filme ''Gladiador'' de Ridley Scott é quem ficou com o papel de Noé e Bale, por fim, foi o escolhido para ser o profeta hebreu no filme de Scott.
- O ator Joel Edgerton só descobriu que iria interpretar Ramsés no filme depois de receber muitos e-mails de felicitações das pessoas que viram a escalação do elenco na internet.
- Antes de Joel Edgerton, o papel do faraó foi oferecido aos atores Oscar Isaac e Javier Bardem. No entanto, eles o recusaram.
- As filmagens duraram 74 dias com um orçamento de produção de 140 milhões.
- O veterano Ben Kingsley, vencedor do Oscar pelo seu trabalho interpretativo em ''Gandhi'' (1982), já interpretou Moisés no cinema no filme ''Bíblia Sagrada: Moisés'' de 1995.
- Ao se preparar para interpretar Moisés, Christian Bale estudou as escrituras bíblicas, lendo os cinco primeiros livros da Bíblia Sagrada, além do Alcorão e os clássicos literários ''Legends of the Jews'' de Louis Ginzberg e ''Moses, A Life'' de Jonathan Kirsch.
- Essa não foi a primeira vez que Christian Bale interpretou um personagem da Bíblia. Em 1999 ele havia interpretado Jesus Cristo em ''Maria: Mãe de Jesus'', um filme feito para a televisão.
- Moisés já foi interpretado no cinema por outro grande ator. Nesse caso, foi Val Kilmer, que emprestou a sua voz para o personagem no desenho animado da Dreamworks ''O Príncipe do Egito'' (1998).
- O filme é a terceira colaboração entre Ridley Scott e o roteirista Steven Zaillian. Ambos já haviam trabalhado juntos em ''Hannibal'' (2001) e ''O Gângster (2007).
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