O PRÍNCIPE DO EGITO (1998) - ANÁLISE - UMA OBRA-PRIMA EM FORMA DE ANIMAÇÃO!

 Por: Rudnei Ferreira

A épica jornada de Moisés já foi contada várias vezes nas telas do cinema. Desde clássicos como ''Os dez mandamentos'' de 1956 até o mais recente ''Êxodo: deuses e reis'' de 2014, a história narrada no livro de Êxodo, presente no velho testamento é, até os dias de hoje, um grande símbolo de fé, aclamada por cristãos do mundo inteiro. Porém, em 1998, a Dreamworks Animation, estúdio de animação criado por Steven Spielberg concorria forte com a Disney no  mercado de animações. Disposta a bater de frente com sua rival, a empresa teve a ideia de contar mais uma vez essa história bíblica para o público, dessa vez em um filme de animação. Foi lançado então, ''O príncipe do Egito'', longa animado que fez bastante sucesso entre o público, recebendo muitos elogios da crítica e se tornando um clássico das animações, ficando marcado como o primeiro desenho animado da Dreamworks a utilizar a tradicional técnica de animação 2D. 

A história se passa no Egito antigo. Moisés (Voz de Val Kilmer) é um jovem resgatado de uma cesta no rio e adotado pelo Faraó Seth (Voz de Patrick Stewart) e a Rainha Tuia (voz de Helen Mirren), tornando-se irmão de Ramsés (Voz de Ralph Fiennes). Criados como grandes amigos e saldáveis rivais, tudo muda quando Moisés descobre toda a verdade em relação ao seu passado. Anos depois, sendo escolhido por Deus como seu mensageiro, Moisés recebe a missão de confrontar o Faraó para livrar o povo Hebreu da escravidão e do sofrimento no Egito. Porém, tal missão irá desencadear uma série e fenômenos e acontecimentos marcantes. 

''O príncipe do Egito'' é uma obra-prima em forma de animação. A história é conhecida por todos, mas a maneira como é contada aqui se torna muito cativante e envolvente, trazendo uma poderosa mensagem de fé, esperança, determinação, amor, respeito e coragem. O roteiro toma algumas liberdades artísticas em prol de um entretenimento para todas as idades, mas consegue ser fiel aos princípios de uma história que é um verdadeiro marco na fé de milhares de pessoas ao redor do mundo. O filme faz um bom resumo dessa história grandiosa e a reproduz nas telas com grandiosidade, bom humor e momentos pontuais e certeiros no drama e nas sequências mais tocantes. Os personagens são ótimos e bem desenvolvidos e suas histórias são marcantes.

 A narrativa apresenta os costumes e as tradições que eram comuns na época do antigo Egito e elementos como a escravidão de homens, mulheres e crianças que eram obrigados a trabalharem na construção de estruturas gigantes como as pirâmides, estatuas e monumentos, eram muito comuns na época. Nesse aspecto, o filme funciona ainda mais para quem tem algum conhecimento da história descrita no livro de Êxodo, já que alguns elementos narrativos e visuais ne sempre são explicados pelo roteiro. Mas, vendo por outro lado, isso é bom, pois incentiva a busca pelo material original do qual o filme se inspira.  

Acima de tudo, o filme é um verdadeiro espetáculo visual deslumbrante. Misturando várias técnicas de animação como a tradicional 2D com efeitos visuais gerados por computação gráfica, o filme possui uma riqueza de detalhes impressionante e fascina nossos olhos com tamanha beleza visual. E graças a esse cuidado e capricho com a animação que o filme é cheio de sequências marcantes. Cenas como a da Sarça Ardente e as dez Pragas do Egito são belissimamente bem animadas, visualmente deslumbrantes e magnificamente bem dirigidas,  transmitindo o peso e o impacto necessário que elas exigem. Os cuidados com os cenários, figurinos, personagens humanos e elementos naturais como água, fogo e poeira são outros recursos ricamente bem trabalhados. Todo esse primor técnico tem o auge da sua beleza na imponente e arrepiante sequência da abertura do Mar Vermelho, resultando em uma cena digna de suspiros de tão linda que é, além de ser a coroação dos vários momentos marcantes do filme. Mesmo com uma classificação livre, o filme possui seus momentos mais intensos para os pequenos e incrivelmente marcante para os adultos, resultando em algo magistralmente bem equilibrado e quebrando a cara daqueles que ainda acham que animação é só para criança. 

Como se o filme já não fosse visualmente perfeito, a trilha sonora tem um papel tão importante quanto o visual deslumbrante. Nesse quesito, a Dreamworks seguiu o padrão Disney, com personagens que cantam. Mas a melhor coisa disso é que as músicas são muito boas e afinadamente bem interpretadas, servindo perfeitamente bem como recurso narrativo. Aplausos para a parceria perfeita entre Hans Zimmer e Stephen Schwartz. Destaque para a bela ''When You Believe'' que faz parte de uma cena inspiradora, mas que originalmente é cantada por Mariah Carey e Whitney Houston, sendo merecidamente vencedora do Oscar de Melhor Canção Original. 

O elenco de vozes é simplesmente um dos melhores já vistos em um filme de animação. Val Kilmer e Ralph Fiennes merecem destaque por acharem o tom perfeito para as vozes de Moisés e Ramsés. A excelente química entre os dois atores é tão formidável quando a dos dois personagens em cena. Kilmer também é a voz de Deus em determinados momentos da história e é muito interessante a sua interpretação do criador, com um tom suave e firme em seu timbre de voz e um leve sussurro ao fundo, gerando um resultado muito legal e, porque não dizer, arrepiante e misterioso. 

Outros nomes de talento que emprestam suas vozes para os demais personagens incluem Sandra Bullock como Mirian, Michelle Pfeiffer como Ziporah, Patrick Stewart como o Faraó Seth, Jeff Goldblum como Aaron, Steve Martin e Martin Short como os sacerdotes Hotep e Huy, Danny Glover como Jetro, Helen Mirren como a Rainha Tuia e Ofra Haza como a mãe biológica de Moisés, Yocheved. Seguindo o exemplo dos protagonistas, cada um desses talentosos atores e atrizes entregam um competente e bem feito trabalho de dublagem, onde todos transmitem as características de seus personagens através de suas vozes. Não desmerecendo a dublagem brasileira, mas com um elenco de voz incrível como esse, recomendo que assista no áudio original porque, acredite, vale a pena e garante uma experiência sensorial recompensadora. 

''O príncipe do Egito'' é mais do que um entretenimento: é uma celebração de uma das maiores histórias já contadas e um símbolo de fé para milhares de pessoas. É um filme estupendo, com a capacidade de encantar e emocionar todas as idades com sua mensagem poderosa, sua animação deslumbrante, seus personagens bem construídos e seu elenco inesquecível. Um clássico do gênero que infelizmente é pouco lembrado nos dias de hoje, mas merece ser lembrado, apreciado, visto e revisto.

Nota: ★★★★★★★★★★ 10

O PRÍNCIPE DO EGITO (THE PRINCE OF EGYPT - 1998) - Animação/aventura/drama/épico, 98 Minutos. / DIREÇÃO: Brenda Chapman, Simon Well e Steve Hickner. - COM AS VOZES DE: Val Kilmer, Ralph Fiennes, Michelle Pfeiffer, Sandra Bullock, Jeff Goldblum, Danny Glover, Patrick Stewart, Helen Mirren, Steve Martin, Martin Short. CLASSIFICAÇÃO: LIVRE. 

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