Gladiador (2000) - O inesquecível épico de Ridley Scott!
O Império Romano teve início no ano 27 d.C. e se estendeu até 395 d.C. Foi um dos maiores governos que existiram no mundo, contando com uma duração de mais de 500 anos. Foi a época dos grandes imperadores que governaram Roma em meio a glória, tirania política e também escravidão. Desses escravos surgiram os imponentes gladiadores, homens que eram treinados e obrigados a competir em controversos jogos físicos, onde se confrontavam em arenas cercadas por milhares de pessoas que os assistiam em sangrentos e violentos combates corporais até a morte. Lutavam pela sobrevivência e principalmente por liberdade. Era uma época onde os senhores de gladiadores lucravam alto com esse terrível espetáculo de sangue e morte. O Coliseu, antigo anfiteatro construído entre os anos 68-79 d.C. e cuja as ruínas se encontram até hoje em Roma, foi o principal cenário para esse show de mortes, onde muitos homens perderam suas vidas em prol da diversão em massa. Hoje, considerado uma das maravilhas do mundo, a bela estrutura em ruínas guarda em seu passado um dos momentos mais brutais e vergonhosos da história mundial.
E foi no ano de 2000, a exatos 21 anos que esse período controverso e violento da história da humanidade foi retratado nas telas sob o ponto de vista de um dos maiores veteranos da sétima arte. Ridley Scott, a mente genial por trás de filmes como os clássicos ''Alien: O Oitavo Passageiro'' (1979), ''Blade Runner: O Caçador de Androides'' (1982) e até os mais recentes como ''Êxodo: Deuses e Reis'' (2014) e ''Perdido em Marte'' (2015), aceitou a responsabilidade de recriar da melhor forma possível esses acontecimentos, escalando um ótimo elenco liderado por Russell Crowe e Joaquim Phoenix. E o resultado disso foi um dos maiores épicos da história do cinema.
Na Roma antiga, durante os últimos dias do governo de Marco Aurélio (Richard Harris), o general Máximus (Russell Crowe), comandante do exército, é traído por Cômodus (Joaquim Phoenix), o filho do imperador, que deseja mais do que tudo assumir o império construído pelo pai. Essa traição resulta no exílio de Máximus e no assassinato de toda a sua família. Capturado e vendido como escravo, o ex-general aos poucos se transforma no maior de todos os gladiadores, prometendo retornar a Roma jurando vingança contra aquele que lhe tirou tudo.
Embora tome algumas liberdades artísticas em relação aos fatos reais em que se baseia, ''Gladiador'' apresenta um retrato honesto da Roma antiga, onde guerras eram travadas com o propósito de se conquistar novas terras em meio a um cenário cheio de intrigas políticas, corrupção e glória. Diante dessa realidade, existiam as diferenças de classes sociais que se dividia entre os que ganhavam cada vez mais poder e riquezas e aqueles que lutavam diariamente para sobreviver em meio a miséria e a pobreza. E mesmo com essas diferenças sociais, a maioria do povo se permitia ser manipulado pelo governo imperial, onde espetáculos eram realizados para distrair a população dos problemas ao seu redor ou para impedir que lutassem pelos seus próprios direitos. Observando esse contexto com um olhar mais crítico, chega a ser impressionante como o roteiro e sua temática política conseguem ser tão atual, mesmo que a trama aconteça a vários séculos atrás. É exatamente isso que testemunhamos principalmente no nosso pais nos dias atuais, onde o governo quer ludibriar e manipular o povo com suas maquinações, com o propósito de esconder os seus problemas. Em determinado momento do filme, é estabelecido de onde surgiu a chamada ''Política do pão e circo'', algo perfeitamente plausível na nossa atualidade.
Tirando o contexto político presente na obra, a jornada de Máximus é sensacional. Através de um excelente estudo de personagem, vemos as várias facetas do protagonista, que passa de um poderoso general a um imponente gladiador. Sua motivação de vingança é perfeitamente plausível. Porém, seu caráter e a sua honra são admiráveis, já que ele nunca se deixa corromper, mesmo que planeje algo tão nefasto como a vingança.
Além de um roteiro primoroso, o filme de Ridley Scott é visualmente impressionante, mostrando que envelheceu muito bem, mesmo com mais de 20 anos desde o seu lançamento. A cinematografia traz uma primorosa reconstituição de época, com um design de produção atento aos detalhes, visando em representar da maneira mais fiel possível o período de tempo em que a história acontece. Os figurinos e adereços são grandiosos, assim como o caprichado trabalho de maquiagem. Ridley Scott utiliza muitos efeitos práticos, principalmente nas cenas de batalhas. Mesmo assim, os efeitos computadorizados são utilizados corretamente, sem pesar a mão. É graças a eles que podemos ver o majestoso Coliseu ser recriado na tela de forma magnífica, com toda a sua beleza e glória da época. O resultado é impressionante, deixando não apenas os personagens mas também o público boquiaberto. A montagem do filme é notável e se destaca principalmente nas lutas entre os gladiadores no Coliseu, o que gera sequências bem violentas e sangrentas. Porém, a direção tem o cuidado e a sensibilidade de não focar inteiramente nas mutilações e ferimentos, utilizando cortes precisos e estilosos que mostram apenas o necessário ou sugerem o que aconteceu em cena. Visualmente, é muito bom. E o que falar da trilha sonora: simplesmente épica. Sem contar a maravilhosa canção-tema ''Now We Are Free'' de Lisa Gerrard, que se tornou um dos maiores hinos da história do cinema moderno.
Para completar o espetáculo, o longa nos brinda com um elenco grandioso e cheio e atuações espetaculares. Russell Crowe brilha desde a primeira a última cena no papel que merecidamente lhe concedeu o Oscar de Melhor Ator. Seu personagens é um dos mais fascinantes do cinema e o ator o interpreta com muito empenho e dedicação. Sem dúvida um dos seus grandes momentos nas telas. O elenco de apoio não fica atrás na qualidade das interpretações. Joaquim Phoenix dá um show como o traiçoeiro e venenoso novo imperador. É um personagem que clama por adoração, mas em suas ações covardes só consegue ganhar o desprezo. Joaquim desenvolve esse antagonista de maneira fascinante, apresentando um personagem que o público ama odiar. A bela Connie Nielsen consegue nos transmitir o medo e a angústia vivida pela sua personagem. No início, parece que ela será tão arrogante e cruel quanto o irmão, mas conforme a trama avança, essa primeira impressão é dissolvida, fazendo dela mais uma vítima do regime opressor e egoísta do novo imperador. É uma personagem bem interessante e digna de se simpatizar com sua situação. Ainda temos o carisma de Djimon Hounsou e as notáveis participações dos saudosos veteranos Richard Harris e Oliver Reed, todos muito bem. É mais um dos exemplos no cinema onde praticamente todo o elenco tem o seu momento para brilhar, não apenas o protagonista. Ridley Scott, além do filme em aspectos gerais, dirige os seus atores e atrizes com talento e competência, extraindo o melhor de suas atuações.
''Gladiador'' é uma obra atemporal e magnífica, que parece ficar melhor a cada revisitada. É um épico intenso, eletrizante, envolvente e com uma comovente jornada de herói, que começa muito bem e se encerra ainda melhor, terminando naquele que é, na minha opinião, um dos melhores e mais bem realizados finais para uma obra cinematográfica. Um final que inevitavelmente pode levar o espectador as lágrimas devido a sua sensibilidade e satisfação. Ridley Scott é um diretor talentoso e eficiente, responsável por alguns dos melhores filmes do cinema. E ''Gladiador'' é sem dúvida um dos seus mais notáveis e marcantes trabalhos.
Nota: ★★★★★★★★★★ 10
GLADIADOR (GLADIATOR - 2000) - Ação/Drama, 155 minutos. DIRIGIDO POR: Ridley Scott. ELENCO: Russell Crowe, Joaquim Phoenix, Connie Nielsen, Oliver Reed, Richard Harris, Djimon Hounsou, Derek Jabobi, Ralf Moeller, Tommy Flanagan. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 77%
CURIOSIDADES:
- Antes de Russell Crowe ser o escolhido para interpretar o protagonista, o diretor Ridley Scott tinha como primeira opção o ator Mel Gibson. Ele até chegou a ler o roteiro do filme, mas recusou a proposta de interpretar Máximus por achar o enredo do filme semelhante ao de ''Coração Valente'', épico de 1995 que foi produzido, dirigido e estrelado por ele.
- Ridley Scott não utilizou apenas efeitos visuais computadorizados para recriar o Coliseu. Sob as suas ordens, foi erguida uma réplica em tamanho real do monumento histórico em Marrocos para gravar as cenas envolvendo os combates na arena.
- Durante as filmagens do filme, o veterano ator Oliver Reed, intérprete do personagem Proximus, faleceu vitima de um ataque cardíaco. O diretor pediu permissão dos familiares do ator para usar algumas cenas adicionais feitas com ele e que originalmente seriam descartadas do corte final. Com isso, ele pode manter o personagem até o fim. No entanto, o roteiro precisou ser modificado para alterar o destino do senhor dos gladiadores. Na versão original idealizada por Ridley Scott, Proximus sobreviveria. Já na versão que foi para as telas, o personagem é morto pela guarda do imperador. Nessa cena, o rosto do falecido ator foi inserido digitalmente no corpo de um dublê.
- ''Gladiador'' foi o primeiro trabalho entre o ator Russell Crowe e o diretor Ridley Scott. Depois disso, eles trabalharam juntos em outros quatro filmes: ''Um Bom Ano'' (2006), ''O Gângster'' (2007), ''Rede de Mentiras'' (2008) e ''Robin Hood'' (2010).
- O filme recebeu um total de 12 indicações ao Oscar 2001 e venceu 5 estatuetas: ''Melhor Filme'', ''Melhor Ator - Russell Crowe'', ''Melhor Figurino'', ''Melhor Edição de Som'' e ''Melhores Efeitos Visuais''.
- Além disso, foi vencedor em várias categorias em outras importantes premiações do cinema como o Globo de Ouro e o BAFTA.
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