Maligno (2021) - O novo triunfo de James Wan!


 Por: Rudnei Ferreira 


Eu sou suspeito em falar, mas pra mim, James Wan é um dos melhores e mais talentosos diretores que já apareceu dentro do gênero de terror em muito tempo. O diretor e roteirista, nascido na Malásia, iniciou a sua carreira em 2004 com o primeiro filme da franquia ''Jogos Mortais'', amplamente elogiado por público e crítica. Tal sucesso permitiu que ele ganhasse a confiança de um grande estúdio de cinema, nesse caso a Universal, para comandar ''Gritos Mortais'' de 2007, sendo esse o seu primeiro filme de terror com temática sobrenatural. A consagração definitiva veio em 2013 quando ele dirigiu ''Invocação do Mal'', o filme que deu inicio a uma das franquias de terror de maior sucesso do cinema na atualidade. Depois disso, foi só alegria para o cineasta, que rapidamente se tornou um dos queridinhos de Hollywood. 

Em 2016, foi mais uma vez bem sucedido com ''Invocação do Mal 2'', outro grande fenômeno crítico e financeiro. Depois disso, ele se afastou do terror e se aventurou em outros gêneros cinematográficos como as adaptações de HQs (Aquaman) e o sétimo episódio da franquia de ação estrelada por Vin Diesel (Velozes e Furiosos 7), ambos bons filmes. Apesar de ter agradado, seus fãs e admiradores se questionavam quando seria o próximo filme de terror comandado por ele. Pois bem, eis que nesse fatídico 2021, 5 anos depois de ''Invocação do Mal 2'', o seu último filme de terror, o genial cineasta retorna ao gênero que o consagrou com ''Maligno'', sua mais nova aposta dentro do gênero. E a melhor coisa disso é que o filme é muito bom, sendo na humilde opinião deste que vos escreve, um dos melhores trabalhos dentro da sua filmografia e um forte candidato para entrar na minha lista de melhores filmes do ano!





Na trama, depois do misterioso assassinato do seu marido Derek (Jake Abel), Madison (Annabelle Wallis) começa a ser atormentada por terríveis sonhos envolvendo um misterioso Serial Killer com dons e presença sobrenaturais. Não demora para ela perceber que esses sonhos são na verdade visões que acontecem no exato momento em que brutais assassinatos são cometidos. Enquanto isso, é dado início a uma intensa investigação policial liderada pelo detetive Kekoa Shaw (George Young), cuja missão é descobrir a identidade e o paradeiro do assustador maníaco. 

Como foi dito no segundo parágrafo desse texto, James Wan se consolidou dentro do terror, mas ele também se aventurou por outros gêneros cinematográficos, ampliando a sua visão e experiência como cineasta, produtor e roteirista. E é justamente o resultado de todo esse crescimento dele dentro da indústria que encontramos em ''Maligno''. Mas você deve estar se perguntando: o filme não é um terror? é também. Na verdade, em seus primeiros minutos, ''Maligno'' realmente transita pelo terror sobrenatural, com ambientes e entidades sobrenaturais. O roteiro, que também é assinado pelo próprio diretor, até utiliza alguns desses clichês do gênero, como luzes que piscam, vultos assustadores escondidos nas sombras, sustos Jumpscare, barulho e um rádio velho cuja vozes e músicas assustadoras são ouvidas. Porém, engana-se quem acha que James Wan iria se render mais uma vez apenas a isso. Pelo contrário. O que ele faz é misturar um pouco de outros gêneros cinematográficos que já se aventurou com o terror sobrenatural que ele sabe trabalhar tão bem.

Veja bem, o filme começa como um terror sobrenatural. Tempos depois, ele trabalha com uma trama policial, inserindo um pouco de ação á narrativa. Em outros momentos, temos doses de suspense e drama psicológico até que finalmente somos envolvidos por uma atmosfera bem carregada de horror extremo, com direito a muito sangue, violência mais gráfica e imagens perturbadoras. Ou seja, ''Maligno'' nada mais é do que a junção de tudo o que James Wan já viveu e aprendeu na indústria cinematográfica. E o melhor é que é uma junção muito bem feita. Como um bom produtor e um excelente diretor e roteirista, ele sabe envolver o espectador ao contar uma boa história com um nível imersivo de tirar o fôlego. E é exatamente isso que encontramos aqui: uma narrativa que sabe equilibrar muito bem todos os seus elementos, resultando em algo fascinantemente bom. Isso torna o longa um dos trabalhos mais complexos, criativos e diferenciados da filmografia do diretor, mesmo com uma coisa ou outra familiar, conseguindo nos surpreender de maneira positiva. 





Essa mistura bem sucedida de gêneros também permitiu que James Wan fizesse homenagens e referências a outras produções cinematográficas. Ao longo de suas quase 2 horas de projeção, automaticamente veio na minha cabeça a lembrança de clássicos como ''Pânico'', ''A Hora do Pesadelo'' e ''Sexta-Feira 13'', até os mais modernos como ''Quando as Luzes se apagam'' e os próprios ''Invocação do Mal'' e ''Jogos Mortais''. O roteiro não chega a copiar esses filmes citados, mas é perceptível a inspiração e James Wan sabe muito bem o que fazer com essas inspirações dentro do enredo, construindo e desenvolvendo uma história cheia de mistérios muito instigante e imersiva que culmina em uma reviravolta perturbadora, arrepiando até o último cabelo do corpo. 

O filme conta com algumas cenas que, pra mim, já são icônicas. Destaco justamente aquelas que fazem parte do terceiro ato em diante, onde o nível de violência e imagens bizarras presentes na reviravolta vão surpreender o público. E no meio de tudo isso, o roteiro encontra tempo para falar de temas sérios como relacionamento abusivo, luto e traumas do passado. Terror e outros gêneros com questões sociais super funciona. Pegue como exemplo o bom '' O Homem Invisível'', o remake de 2020. 

Como era de se esperar, James Wan trabalha com suas marcas registradas na composição da direção, como os seus movimentos de câmera cheios de maneirismo e estilo. Em algumas cenas, sua câmera transita pelos ambientes como uma criatura assustadora a espreita. Já em outras, o diretor utiliza bastante a câmera nas mãos, seguindo os personagens, principalmente diante do perigo. A fotografia sombria e a edição de som dão ao filme o tom assustador necessário. A trilha sonora mescla composições modernas e um clima sufocante muito interessante, lembrando, de novo, outros de seus filmes como ''Jogos Mortais'' e ''Gritos Mortais''.  Merece elogios a montagem bem orquestrada, gerando no espectador a dúvida se o que a protagonista está vendo e vivendo é real ou não. Os efeitos visuais em CGI estão na medida, assim como os efeitos práticos como maquiagem e animatrônica. 





O elenco, na medida do possível, está muito bem, mas ninguém se sai melhor do que a protagonista vivida por Annabelle Wallis. Aqui, a atriz volta a encarnar uma personagem atormentada por uma entidade sombria, quase nos mesmos moldes da sua personagem no primeiro filme da boneca Annabelle, em 2014. O que ela passa aqui chega a níveis absurdos, alcançando o ápice nos minutos finais, onde as revelações sobre o seu passado e a sua ligação com o grande mal presente na história resulta em momentos que eu não estava esperando. Sério, nem passava pela minha cabeça que eu veria o que eu vi. É louco, bizarro, assustador e ao mesmo tempo genial e criativo, mostrando que James Wan sabe o que faz. Sem dúvida uma das surpresas mais legais que eu já vi em um filme do diretor desde o final de ''Gritos Mortais''. 

''Maligno'' é um dos melhores filmes do ano, pelo menos até agora. Misturando gêneros, James Wan nos proporciona uma experiência fílmica eletrizante, assustadora, perturbadora e surpreendente. Vale muito a pena se aventurar por essa trama louca e inesperada. 

Nota: ★★★★★★★★★



MALIGNO (MALIGNANT - 2021) - Terror/Suspense, 111 minutos. PRODUZIDO E DIRIGIDO POR: James Wan. ELENCO: Annabelle Wallis, Ingrid Bisu, McKenna Grace, Jake Abel, George Young, Michole Briana White. CLASSIFICAÇÃO: 16 anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 78%



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