Cleópatra (1963) - Um épico ambicioso e de grande beleza!


 Por: Rudnei Ferreira 


Cleópatra foi a rainha do antigo Egito, cujo o reinado ocorreu em meados dos anos 50 D.C. Independente se você que está lendo essa matéria é ou não um grande aficionado por história, com certeza já ouviu falar dessa importante figura, tida por muitos como uma das mais belas mulheres que já existiu na história da humanidade. É claro que, de acordo com estudos e pesquisas mais recentes, essa questão da sua beleza pode não ser tudo isso que falam. No entanto, a jornada da jovem rainha egípcia é bem conhecida pela maioria das pessoas. 

Desde 1899, quando surgiu pela primeira vez em uma representação cinematográfica pelas mãos do genial e revolucionário George Méliès, a personagem protagonizou ou foi mencionada em várias produções do audiovisual, desde aquelas mais sérias, que procuravam retratar com detalhes e precisão a vida da rainha do Egito até as mais fantasiosas voltadas para o puro entretenimento. Hoje, venho comentar sobre aquele que é provavelmente um dos filmes mais famosos sobre a personagem: ''Cleópatra'', super produção da 20th Century Fox, escrita e dirigida por Joseph L. Mankiewicz e estrelada pela bela Elisabeth Taylor, uma das maiores atrizes da clássica Hollywood. Um filme grandioso e extremamente ambicioso, mas também uma das produções mais conturbadas e problemáticas da história do cinema que quase fez a Fox fechar as suas portas devido ao prejuízo financeiro. Mesmo com os seus problemas, é uma experiência cinematográfica que todo bom cinéfilo ou estudante de cinema merece viver nem que seja uma vez na vida.  






Na época do grande império egípcio e romano, a rainha do Egito, Cleópatra (Elisabeth Taylor), forma uma aliança com Júlio César (Rex Harrison) para continuar o seu reinado e evitar a invasão do país pelo império romano. Os dois iniciam um intenso relacionamento, até uma tragédia pessoal cair sobre eles. Com isso, ela se concentra em recorrer a ajuda do poderoso general romano Marco Antônio (Richard Burton) com a intenção de manter e proteger os seus poderes reais. É uma história de intrigas políticas, amores, sedução e morte. 

Para aqueles que nunca assistiram ''Cleópatra'' e querem se aventurar por essa super produção cinematográfica, vai aqui uma recomendação: separem um longo tempo livre para se dedicar a obra. Afinal, estamos falando de um épico com nada mais nada menos que 4 horas e 08 minutos de duração. Ao longo dessas 4 horas, o espectador é levado para uma trama que exige paciência, atenção e comprometimento. Isso porquê o roteiro é extremamente detalhista e didático com a história, dependendo muito dos diálogos e das performances de todo o elenco para se desenvolver, o que pode tornar o filme um pouco arrastado e cansativo para alguns. E devo dizer que realmente é. Por mais que seja um filme que tenha me absorvido e me mantido interessado por tudo o que estava vendo, devo reconhecer que ele me cansou um pouco. É fácil sentir o peso dessas quatro horas, principalmente para quem espera um épico cheio de aventura e ação no mesmo estilo de ''O Senhor dos Anéis''. Dito tudo isso, é preciso ressaltar que ''Cleópatra'' não é esse tipo de épico, nem muito menos foi feito para ser um simples entretenimento pipoca. É um filme contemplativo, que precisa ser sentido e apreciado enquanto sua história caminha por uma trama que envolve intrigas políticas e de poder, amores e tragédias.

É um filme com grande valor histórico, dedicado para aqueles que apreciam história, principalmente a história dessa que foi uma das mulheres mais poderosas do mundo. Além disso, a narrativa mostra os costumes e os acontecimentos comuns na época retratada. Essa é a proposta do filme de Joseph L. Mankiewicz, ou seja, ser uma cinebiografia épica, cuja cada detalhe é importante. E mesmo que tenha as suas falhas, sejam elas em questão de precisão histórica ou em questões cinematográficas, ''Cleópatra'' me proporcionou uma incrível experiência cinematográfica, me mantendo interessado da primeira até a última cena no decorrer de sua longa duração. E como apreciador de filmes longos com teor histórico, me senti bem servido com essa experiência. 






Se tem uma coisa que com certeza chama muita a atenção no filme é a sua qualidade de produção. É notável logo nas primeiras cenas de ''Cleópatra'' o cuidado e o investimento da Fox com o design de produção. Com muitos efeitos práticos e uma cenografia estonteante, o filme reconstitui o Egito e a Roma antigos com uma riqueza de detalhes de cair o queixo. Tudo impressiona visualmente, desde as joias usadas pela protagonista, passando pelos figurinos espetaculares até os grandiosos cenários que retratam o luxo e a riqueza da época, tudo muito bem auxiliado e valorizado pelos ótimos trabalhos da Mise-en-scènes e da montagem, além da fotografia exuberante. E o que falar da trilha sonora? grandiosa e muito bem orquestrada, contribuindo para o tom épico do filme. É realmente incrível.  Assim como é o caso de ''Ben-Hur''(1959), clássico extraordinário dirigido por William Wyler lançado quatro anos antes, ''Cleópatra'' é mais um exemplo de filme  que envelheceu absurdamente bem com o tempo. E isso é incontestável. Vale muito a pena mergulhar na beleza visual da obra, pois o resultado de tamanho investimento financeiro é muito recompensador. 

O elenco é excelente, com destaque para a presença estonteante e marcante de Elisabeth Taylor. No auge da sua beleza, a veterana atriz encarna a rainha egípcia com muito charme, carisma e determinação em uma performance hipnotizante, sedutora, encantadora e fascinante, o que faz com que o espectador não desgrude os olhos da tela toda vez que ela está em cena. Embora várias outras atrizes tenham dado vida a Cleópatra no audiovisual, é fato que Elisabeth Taylor fez um trabalho inesquecível, ficando para sempre marcada, e com razão, pelo papel. Seus interesses amorosos na trama são vividos por dois grandes astros da época: Richard Burton e Rex Harrison, ambos igualmente bem, transmitindo através das figuras históricas de Marco Antônio e Júlio César um bom desenvolvimento de personagem. Um trio talentoso e a altura desse projeto cinematográfico. 

Entre pós e contras, ''Cleópatra'' é um filme que merece ser visto e apreciado por todo o seu conteúdo. Mesmo com uma longa duração e um ritmo arrastado, é um importante e contemplativo retrato histórico fílmico sobre a marcante e enigmática rainha do Egito antigo. Mais do que um simples entretenimento, é uma experiência cinematográfica que vale a pena viver. 

Nota: ★★★★★★★★ 8




CLEÓPATRA (1963) - Drama biográfico épico, 248 minutos. PRODUZIDO E DIRIGIDO POR: Joseph L. Mankiewicz. ELENCO: Elisabeth Taylor, Richard Burton, Rex Harrison, Roddy McDowall, Hume Cronyn, Martin Landau, Cesare Danova. CLASSIFICAÇÃO: Livre. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 62%



CURIOSIDADES: 

  • Na época das suas filmagens, a produção de ''Cleópatra'' foi uma das mais caras da história do cinema, custando a bagatela de 44 milhões, o que nos anos 60 era um valor astronômico. Mesmo se pagando, já que foi considerado uma das maiores bilheterias no seu ano de lançamento, o filme de Joseph L. Mankiewicz ficou mundialmente conhecido como um dos maiores fracassos comerciais do cinema, já que recuperou os seus gastos mas não obteve lucros. 
  • Duas das maiores atrizes da época foram consideradas para interpretar a rainha egípcia no filme. A primeira foi Joan Collins que até chegou a ser contratada, mas teve que abandonar o projeto devido aos atrasos para iniciar as gravações. Com a sua saída, Audrey Hepburn, a eterna ''Bonequinha de Luxo'', foi cotada para substituí-la. Por fim, o estúdio escolheu a atriz Elisabeth Taylor. 
  • Falando em Elisabeth, ela foi a primeira atriz hollywoodiana a receber um cachê de 1 milhão de dólares por um único filme. Esse foi o valor exigido pela atriz para atuar em ''Cleópatra''. 
  • As filmagens sofreram um enorme atraso de 6 meses, já que Elisabeth Taylor adoeceu e não pode gravar até está totalmente recuperada. 
  • O filme precisou de um total de três anos para ficar pronto. É um dos maiores períodos de produção da história do cinema. 
  • Originalmente, seria Rouben Mamoulian (Do clássico ''O Médico e o Monstro'' de 1932), o diretor de ''Cleópatra''. No entanto, com os atrasos nas filmagens devido ao afastamento de Elisabeth Taylor, o cineasta abandonou o projeto para se dedicar a outras produções cinematográficas. 
  • Outros que se afastaram da produção por causa dos atrasos foram os atores Stephen Boyd e Peter Finch, originalmente escalados para interpretar Marco Antônio e Júlio César respectivamente. Com suas saídas, Richard Burton e Rex Harrison assumiram  os papéis. 
  • O corte final do filme que foi entregue ao estúdio pelo diretor Joseph L. Mankiewicz tinha duração total de 6 horas de duração. No entanto, a Fox propôs cortar o filme para que tivesse uma duração mais aceitável, o que faria com que o longa pudesse ter mais sessões diárias em sua exibição nos cinemas. Sentindo-se contrariado, o diretor chegou a propor que o filme fosse dividido em duas partes, com a sugestão de que a primeira se chamasse ''César e Cleópatra'' e a segunda se chamasse ''Marco Antônio e Cleópatra''. Para ele, cada uma das partes teria a duração de 3 horas. Contudo, o estúdio não aprovou e não quis aceitar essa proposta, decidindo lançar o filme com a conhecida duração de 4 horas e 08 minutos. 
  • Mesmo assim, de acordo com o próprio diretor, foram cortadas muitas cenas para que a versão de 4 horas fosse lançada. Juntas, essas cenas dariam mais 2 horas de filme. 
  • Durante o filme, Elisabeth Taylor troca de figurino 65 vezes. Até hoje, esse é um recorde para um único filme. 
  • Mesmo que a versão comercializada do filme tenha 248 minutos (4h08m), uma versão de 194 minutos (3h14m) já foi lançada. 
  • O filme, por sua vez, é baseado no clássico de 1934 dirigido por Cecil B. DeMille e estrelado por Claudette Colbert, Warren William e Henry Wilcoxon. 
  • ''Cleópatra'' fez sucesso entre os votantes da academia do Oscar. Tanto que o filme recebeu 9 indicações ao prêmio, incluindo ''Melhor Filme''. Foi vencedor em 4 categorias: ''Melhor Direção de Arte'', ''Melhor Figurino'', ''Melhor Fotografia'' e ''Melhores Efeitos Visuais''. 

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