Ben-Hur (1959) - Análise - Um dos maiores e melhores épicos da história do cinema!
Por: Rudnei Ferreira
No dia 12 de Novembro de 1880, o escritor americano Lew Wallace lançou o livro ''Ben-Hur: A tale Of the Christ'', no Brasil, chamado ''Ben-Hur: uma história dos tempos de Cristo''. Sendo um sucesso na época de seu lançamento e considerado até hoje um marco na literatura mundial, o romance épico que mistura ficção com fatos bíblicos foi adaptado para o teatro e também para as telas do cinema. A primeira adaptação veio em 1907, em plena era do cinema mudo, com direção de Sidney Olcott. 18 anos depois, em 1925, Fred Niblo trazia sua versão para as telas do clássico romance literário. A história ainda foi adaptada para uma minissérie em 2010 e em uma versão cinematográfica em 2016 dirigida por Timur Bekmambetov.
Embora todas essas versões sejam interessantes e valham a pena conferir, nenhuma delas foi tão impactante, importante e memorável para o cinema quanto a versão lançada em 1959, com direção do premiado William Wyler. O filme se tornou um grande sucesso de bilheteria, o que salvou sua produtora MGM da falência, e recebeu muitos elogios da crítica especializada. O filme veio para fazer história desde o início. Tanto que ''Ben-Hur'' foi o primeiro filme da história do cinema a vencer 11 Oscar das 12 categorias que foi indicado, incluindo ''Melhor Filme'', ''Melhor Diretor'' e ''Melhor Ator'', muito merecidamente. O longa ficou durante 38 anos como o recordista de vitórias na academia, superado apenas em 1998 por ''Titanic'' de James Cameron e em 2003 por ''O senhor dos anéis: O retorno do rei'', de Peter Jackson, ambos também vencedores de 11 Oscar. ''Ben-hur'' é um longa deslumbrante e espetacular em todos os sentidos, permanecendo impecável mesmo visto nos dias de hoje, tornando-se um dos maiores e melhores épicos da história do cinema e servindo de inspiração para outras obras que vieram depois. Sem ele, não teríamos hoje outros ótimos filmes como ''Gladiador'', ''300'', ''Tróia'' e até mesmo a trilogia ''O senhor dos anéis''.
O filme conta a incrível jornada de Judah Ben-Hur (Charlton Heston), um príncipe comerciante que mora em Jerusalém com sua mãe Mirian (Martha Scott), sua irmã Tirzah (Cathy O'Donnell), seu leal amigo e serviçal Simonides (Sam Jaffe) e a filha de Simonides, Esther (Haya Harareet), que nutre um forte sentimento por Ben-Hur, mas está prometida a casamento para outro. Depois de ser traído e acusado injustamente por um crime que não cometeu pelo seu amigo de infância Messala (Stephen Boyd), um leal general romano, Ben-Hur inicia uma jornada épica em busca de vingança. No caminho, irá conhecer novos amigos e aliados, além de ter um encontro inesquecível com o próprio Jesus Cristo.
''Ben-Hur'' é uma trama épica que fala de drama, traição, superação e vingança. A jornada envolvendo Judah Ben-Hur é hipnotizante, imersiva e envolvente do início ao fim. É um baita estudo e desenvolvimento de personagem e a sua história é brilhantemente bem contada. Além disso, os temas religiosos funcionam tão bem quanto. O roteiro, de maneira inteligente e brilhante, mistura ficção com fatos presentes na Bíblia e a junção de ambos os elementos torna tudo emocionante e espetacular. Não é um filme exatamente bíblico, mas tais temas estão presentes. E acredite, ver o protagonista, ao longo de sua trajetória, conhecendo e interagindo com personagens das sagradas escrituras como Pôncio Pilatos, os Três Reis Magos e o próprio Jesus Cristo é algo realmente enriquecedor e fascinante. Sem contar as famosas passagens bíblicas, que não são o foco principal, mas fazem parte de grandes momentos ao longo da jornada do herói, e cada um deles se encaixam magistralmente na trama. Não é a toa que o subtítulo da obra se chama ''A tale of the Christ'' ou ''Uma história dos tempos de Cristo''.
O filme mostra os costumes típicos da época, além de trazer com grande precisão nos detalhes o domínio do terrível Império Romano. Esse império governou com tirania e soberania uma boa parte do mundo, achando-se no direito de conquistar e dominar tudo e todos. Mesmo que nem tudo seja contado, o roteiro nos dá uma boa noção dos ideais envolvendo esse sombrio e tirânico governo. A trama principal envolvendo o protagonista e todas as sub-tramas que fazem parte são um verdadeiro triunfo e cada personagem é bem escrito e bem construído, graças a um roteiro bem trabalhado e bem estruturado, preocupado com cada detalhe. Não é para menos que a história de ''Ben-Hur'' é tão celebrada e aclamado por amantes de cinema no mundo todo até hoje.
O filme de William Wyler não é um triunfo apenas em seu roteiro. ''Ben-Hur'' é lembrado eternamente como uma super produção capaz de fazer inveja a muitos filmes recentes. E o mais incrível disso é que estamos falando de um filme de 1959, uma época em que a tecnologia e os efeitos visuais de hoje nem sonhavam em existir. Na época, o longa foi simplesmente considerado um dos filmes mais caros já produzidos. É notável o quanto isso contribuiu para o longa ser o que é, uma obra-prima feita sem efeitos digitais, somente com efeitos práticos e cenas de ação verdadeiras, dando o máximo de realismo e impacto ao seu conteúdo
Ao todo, o departamento de arte criou mais de 300 sets de filmagens, e cada um deles impressiona pela sua grandiosidade e riqueza de detalhes. Todo o glamour e poder das paisagens da época de Cristo saltam na tela em um espetáculo visual, o que fica evidente o cuidado da produção com estudos e pesquisas para reproduzir esses cenários deslumbrantes. Contrariando os dias de hoje, em que uma grande multidão pode ser toda criada através de efeitos digitais, ''Ben-Hur'' contou com a presença de mais de 8.000 figurantes, além do elenco principal, o que impressiona pela grandiosidade das multidões de pessoas que vemos em cena. E cada uma dessas pessoas realmente estão ali, de verdade, o que surpreende. O mesmo pode ser dito dos mais de 100.000 figurinos criados para o filme, retratando a época em que se passa, com uma beleza estética digna de bater palmas.
Não podemos deixar de mencionar a cinematografia lindíssima que embala os vários tons da fotografia, dando um ar de época riquíssimo, a montagem caprichada, que empolga principalmente nas sequências de ação, a edição de som, o ótimo uso da Mise-en-scène e a grandiosa trilha sonora que se encaixa perfeitamente nas várias sequências memoráveis do filme. Falando em sequências memoráveis, temos aquela que entrou para a história como uma das mais bem realizadas e bem sucedidas presente em um filme: a eletrizante cena da corrida de Bigas. Grandiosa, emocionante, poderosa, visceral e toda realizada através de um ótimo trabalho de câmera, a sequência de um pouco mais de 10 minutos é o ponto alto do espetáculo, impressionando pela qualidade e a presença e dedicação de todos os envolvidos, tanto na frente quanto atrás das câmeras. E o melhor: é tudo de verdade, sem grande uso de efeitos visuais. O ritmo do filme é tão bom, tão imersivo e tão envolvente que as 03h42 minutos de duração passam voando. Mesmo com sua longa duração, esse tempo é brilhantemente usado para desenvolver satisfatoriamente história e personagens. Literalmente, ''Ben-Hur'' é um GRANDE filme.
No elenco, Charton Heston entrega uma performance impagável como Judah Ben-Hur. Um personagem que desperta fascínio em cada um dos seus aspectos e o célebre ator deu vida ao herói com uma entrega convincente e dedicada, o que justifica sua merecida vitória ao Oscar de Melhor Ator. Stephen Boyd também está ótimo como o vilão Messala. Traiçoeiro e imprevisível, o personagem é venenoso e o ator consegue traduzir bem as facetas do antagonista, o tornando tão bom quanto o herói. Na verdade, para muitos, existe um subtexto Homossexual na relação entre os dois, principalmente na primeira cena em que protagonizam juntos. Mesmo que tal relação homo afetiva jamais seja desenvolvida ao longo da narrativa, a sensação de algo implícito fica no ar, deixando para que cada um que assista ao filme tire suas próprias conclusões. O elenco de apoio compõe personagens secundários tão bom quanto, com boas performances de Haya Harareet, Martha Scott, Cathy O'Donnell, em sua primeira e última performance no cinema e Hugh Griffith, que recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo personagem.
Claude Heater, ator e cantor consagrado na época, não é creditado, mas faz de Jesus Cristo uma figura misteriosa dentro da história. Sem nunca mostrar o rosto e sem nunca nos deixar ouvir sua voz, o ator cria a composição perfeita para a glamorosa figura do salvador filho de Deus e suas pequenas aparições são memoráveis. O protagonista é ótimo e os demais personagens são tão bons e interessantes quanto, o que é difícil de acontecer em vários filmes, mas que se torna um grande mérito aqui.
Mais de 60 anos se passaram desde o seu lançamento nos cinemas. Porém, ''Ben-Hur'' permanece sendo reconhecido como um épico clássico irretocável, cheio de sequências memoráveis e uma produção de qualidade e altíssimo nível. Poucos filmes conseguem envelhecer tão bem, mas essa obra-prima cinematográfica dirigida por William Wyler conseguiu esse feito com louvor e se tornou uma obra que merece ser lembrada para sempre como um dos filmes mais importantes, revolucionários e inspiradores da história do cinema. Para quem nunca assistiu, assista, pois irá ter uma das melhores experiências cinematográficas de todos os tempos. ''Ben-Hur'' é uma joia do cinema e merece a atenção de todo amante do bom cinema feito com amor, carinho e cuidado.
Nota: ★★★★★★★★★★ 10
BEN-HUR (1959) - Épico/Drama, 222 Minutos. / DIREÇÃO: William Wyler. - ELENCO: Charton Heston, Stephen Boyd, Haya Harareet, Hugh Griffith, Jack Hawkins, Cathy O'Donnell, Sam Jaffe, Frank Thring, Finlay Currie, Claude Heater. CLASSIFICAÇÃO: 12 Anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 86%
VENCEDOR DE 11 OSCARS NAS SEGUINTES CATEGORIAS:
Melhor Filme
Melhor Diretor - William Wyler
Melhor Ator - Charlton Heston
Melhor Ator Coadjuvante - Hugh Griffith
Melhor Direção de Arte
Melhor Fotografia
Melhor Figurino
Melhores Efeitos Visuais
melhor Edição
Melhor Música
Melhor Edição de Som
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