Toy Story 4 (2019) - Análise - Uma bela conclusão para a inesquecível franquia da Pixar!


 Por: Rudnei Ferreira


Parece que foi ontem, mas na verdade já se passaram 26 anos desde que a Pixar lançou nos cinemas o filme que deu o pontapé inicial para a sua grande jornada no mundo do cinema de animação. ''Toy Story: Um Mundo de Aventuras'' de 1995 não só foi o primeiro filme do estúdio como também entrou para a história como o primeiro longa metragem totalmente produzido por computação gráfica. Assistindo ao filme nos dias de hoje, ele parece datado na questão da animação, o que é compreensível, já que na metade dos anos 90 a tecnologia para produzir esse tipo de animação era novidade, o que fez do longa um projeto bem ambicioso para a época. No entanto, na questão da história e no desenvolvimento de seus personagens, ele continua irretocável. A premissa em torno dos brinquedos que ganham vida quando estão longe dos olhares das crianças é absolutamente divertida e inteligente. E essa premissa ganhou o coração de crianças e adultos, fazendo de ''Toy Story'' um fenômeno de público, além da imensa aclamação da crítica especializada. 

Tal sucesso permitiu que a Pixar continuasse a história quatro anos depois, precisamente em 1999, no ótimo ''Toy Story 2''. Assim como seu antecessor, o filme foi um sucesso estrondoso entre críticos e cinéfilos. Não só a história conseguiu ser tão boa quanto o original como foi perceptível as evoluções na qualidade da animação. Uma década se passou e em 2010, ''Toy Story 3'' tinha a importante missão de encerrar a trilogia com chave de ouro. Para a alegria de todos os fãs, o filme foi muito além do que se era esperado, nos entregando um ótimo roteiro e uma história bem amarrada, com um desfecho maravilhoso que fez muitos marmanjos derramarem lágrimas (e eu me incluo nisso rsrs). Um foi bom, dois foi ótimo, já o terceiro filme foi tão espetacular e entregou um final tão satisfatório para a trilogia que ele é indiscutivelmente o melhor filme não só da trilogia como também de toda a franquia, levando o Oscar de Melhor Animação e se tornando o segundo longa da Pixar, depois de ''UP: Altas Aventuras'' a receber uma indicação também para Melhor Filme. 

Agora, com o lançamento de ''Toy Story 4'', a pergunta que muitos fizeram, e eu fui um deles, era se um quarto capítulo para a saga dos adoráveis brinquedos realmente precisava existir. Como a Pixar poderia se superar ou pelo menos se igualar a trilogia anterior e principalmente a ''Toy Story 3'' em questões de qualidade narrativa e visual? E a resposta é: não. ''Toy Story 4'' não era um filme necessário. Para mim, como para muitos, o terceiro capítulo havia entregado um final mais do que satisfatório para a saga de Woody e seus amigos. Porém, ao assistir a esse quarto episódio, cheguei a conclusão que o filme, embora desnecessário, me deixou bem satisfeito por existir, já que ele me proporcionou uma experiência cinematográfica muito agradável. 







A história acontece tempos depois de ''Toy Story 3''. Woody (voz de Tom Hanks) e seus amigos brinquedos agora estão sob os cuidados da pequena Bonnie (voz de Madeleine McGraw) depois que Andy foi embora para a faculdade. Tudo parecia perfeito até que um novo brinquedo é apresentado ao grupo: o Garfinho (voz de Tony Hale), criação da própria Bonnie. Uma série de circunstâncias inesperadas acontecem, o que faz com que Woody e seus amigos embarquem em uma fascinante jornada para ajudar o Garfinho a encontrar a sua dona. No caminho, Woody irá conhecer novos brinquedos, além de reencontrar um antigo amor. 

''Toy Story 4'' traz uma nova história e novos acontecimentos para a franquia. Porém, nada do que vemos em cena é exatamente inovador. O roteiro apresenta vários elementos familiares e situações que são muito queridos pelos fãs, porém repetitivos. Mesmo que a história mude e novos personagens sejam apresentados, o fio narrativo desse quarto filme lembra muito os seus antecessores. Veja bem: mais uma vez, os brinquedos se encontram diante de uma jornada inesperada, o que os levará para longe de casa, distante do seu dono. Eles são forçados a encarar  muitos obstáculos e perigos pelo caminho para retornar ao seu lar. Como podem ver, a formula utilizada pela Pixar na trilogia anterior é a mesma. Tudo o que muda é um acontecimento ou outro. Até mesmo os temas que vimos nos outros filmes como infância, amadurecimento, coragem, amizade, família, empoderamento e metáforas sobre adoção estão presentes. É o estúdio repetindo uma fórmula de sucesso. No entanto, mesmo com toda essa familiaridade do roteiro, a maravilhosa experiência de viver mais uma aventura ao lado desses personagens tão queridos não é diminuída, muito pelo contrário. ''Toy Story 4'' me entregou tudo o que eu esperava e fez isso lindamente. Depois de 9 anos, é muito bom voltar a esse encantador universo de aventura e fantasia que foi o ponta pé inicial para o sucesso da Pixar. Melhor ainda, é muito bom poder rever esses brinquedos tão queridos e apaixonantes. Quando os vi pela primeira vez, eu tinha apenas 5 anos de idade. portanto, é um prazer embarcar em uma nova jornada ao lado deles, relembrando a infância e os bons momentos que toda a franquia me proporcionou ao longo de todos esses anos. 






Uma coisa que chama muita a atenção do espectador e se destaca um pouquinho mais que os filmes anteriores é a qualidade de produção. ''Toy Story 3'' já apresentava uma evolução considerável nos traços da animação. E ''Toy Story 4'' consegue ir muito mais além, com uma riqueza de detalhes impressionante. Sem grandes spoilers, pegue por exemplo a cena de abertura, que envolve chuva. A fluidez da água e a preocupação com os detalhes nos pingos de chuva caindo fora da casa e nas janelas é absurdamente realista. Nem parece animação e sim uma filmagem real da chuva caindo, com os bonecos inseridos digitalmente. Porém, não é esse o caso, já que tudo o que está presente essa cena foi totalmente criado por computador, o que é impressionante e lindo. Não apenas esse momento, como também vários outros que são super valorizados pela riqueza da animação, como é o caso dos mínimos detalhes presentes nos objetos dos cenários, na textura e aparência dos brinquedos e até mesmo em um gato, presente em determinada cena e que parece realmente um animal de verdade. O orçamento de 200 milhões é bem perceptível na tela, o que mostra que a Pixar não mediu esforços para impactar o espectador com um cuidado visual impecável e belíssimo. No mais, o longa enche o público de referências aos filmes anteriores, especialmente dos dois primeiros filmes, junto com a trilha sonora marcante que nos faz cantarolar durante os minutos em que ela é inserida em cena (''You've Got a Friend In Me''). 

Além dos personagens conhecidos e amados pelo público como Woody, Buzz Lightyear, Jesse e Betty, novos brinquedos são inseridos na trama, e eles são muito bons. A dupla Ducky e Bunny funcionam como alívio cômico, sendo de fato muito engraçados. E nas vozes de Jordan Peele e Keegan-Michael Key, a experiência se torna ainda mais divertida, rendendo algumas cenas hilárias e inteligentes. O mesmo é válido para o divertido Duke Kaboo. Igualmente engraçado, o personagem foi super valorizado pela dublagem de Keanu Reeves. A bonequinha Gabby Gabby é uma das melhores coisas do filme. No início, a impressão que dá é que ela foi escrita para ser uma antagonista no mesmo estilo do urso Lotso em ''Toy Story 3''. Porém, o roteiro apresenta uma reviravolta inesperada e interessante para a personagem, revelando mais sobre as suas verdadeiras intenções, sendo que no fim ela é o brinquedo com o arco narrativo mais triste e dramático da trama. O desfecho dado a ela é muito comovente, bonito e digno de marejar os olhos. Sem contar que a dublagem de Christina Hendricks traz muita personalidade e carisma a personagem. Fechando o grupo dos novos personagens, temos o irreverente e maluquinho Forky, ou Garfinho, sob a divertida dublagem de Tony Hale. Seu jeito de ser é muito divertido e o personagem protagoniza momentos geniais com o xerife Woody.  

Os personagens conhecidos continuam ótimos, onde o Xerife Woody de Tom Hanks mais uma vez rouba a cena. Porém, outra personagem importante da franquia e que não esteve presente no terceiro filme retorna aqui com tudo. Me refiro a boneca de porcelana Bo, ou Betty, como ficou conhecida no Brasil. Diferente da figura mais contida e delicada dos dois primeiros filmes, cuja a principal função era servir de interesse amoroso de Woody, aqui ela retorna muito mais imponderada, inteligente e astuta. Mais uma vez interpretada pela ótima Annie Potts, a mudança na personagem foi grata e bem vinda. Merece uma pequena menção a participação do Buzz Lightyear de Tim Allen e da vaqueira Jessie de Joan Cusack. Embora pouco favorecidos pelo roteiro, contam com uma cena ou outra que vale a pena.  






Mesmo que não traga nada de inovador para a franquia, ''Toy Story 4'' justifica bem a sua existência, divertindo e emocionando o espectador na medida certa. Apelando para a nostalgia e as várias referências aos filmes anteriores, a Pixar encerra com dignidade e competência a saga dos brinquedos mais famosos e adoráveis das animações. Fiquem até os créditos finais pois existem algumas pequenas cenas muito legais, assim como o filme em geral. ''Toy Story 4'' não é o meu favorito, pois o terceiro filme ainda permanece insuperável. Mas decididamente eu gostei bastante e super recomendo para quem gosta muito da franquia, assim como é o meu caso. 

Nota: ★★★★★★★★ 8




TOY STORY 4 (2019) - Animação/Aventura, 100 minutos. PRODUZIDO POR: Pete Docter, Andrew Stanton, Lee Unkrich e John Lasseter. DIRIGIDO POR: Josh Cooley. COM AS VOZES DE: Tom Hanks, Tony Hale, Keanu Reeves, Christina Hendricks, Annie Potts, Tim Allen, Keegan-Michael Key, Jordan Peele, Joan Cusack. CLASSIFICAÇÃO: Livre. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 97%


CURIOSIDADES: 

  • Em 2018, durante a produção do longa, o ator Tom Hanks, que dubla o xerife Woody, chegou a se emocionar ao ler as últimas linhas do roteiro por considerar bastante emocionante. 
  • Muito antes da Pixar querer realizar ''Toy Story 4'', Tom Hanks e Tim Allen já haviam assinado contrato para um futuro quarto filme. 
  • Para a dublagem do Sr. Cabeça de Batata, a Pixar utilizou áudios arquivados com a voz do ator Don Rickles, que fez a voz do brinquedo nos três filmes anteriores. Infelizmente, Don faleceu em 2017 e não pode participar do quarto episódio da franquia. Isso fez com que ''Toy Story 4'' fosse o segundo longa do estúdio a homenagear um membro do elenco de dublagem que faleceu. A primeira vez foi no filme ''Carros 2'', cuja a dublagem do falecido Paul Newman para o personagem Doc Hudson também foi tirada de arquivos de áudio. 
  • Tom Hanks começou a gravar a sua dublagem para o filme em 2015, época em que ele também estava gravando o filme ''Sully: O Herói do Rio Hudson'' de 2016. 
  • ''Toy Story 4'' levou o Oscar de Melhor Filme de Animação na cerimônia de 2020. 


Agora que você acabou de conferir a análise e as curiosidades de ''Toy Story 4'', não deixe de ler a matéria especial do Recomendo Filmes listando ''Os Melhores Filmes da Pixar''. Basta clicar aqui.

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