Especial Charles Chaplin (1899 - 1977) - Análise - Um dos maiores gênios da história do cinema! - PARTE 2


 Por: Rudnei Ferreira 


Há algum tempo atrás, escrevi uma primeira parte de um especial sobre Charles Chaplin, com análises e curiosidades sobre três de seus melhores filmes. Para quem ainda não viu, basta clicar aqui. Nessa segunda parte, trago meus comentários pessoais e mais algumas curiosidades de outras obras cinematográficas desse genial cineasta. Então, vamos lá. 


O GRANDE DITADOR (THE GREAT DICTATOR - 1940) - Comédia dramática/sátira, 124 minutos. ESCRITO, PRODUZIDO E DIRIGIDO POR: Charles Chaplin. ELENCO: Charles Chaplin, Paulette Goddard, Jack Oakie, Reginald Gardiner, Billy Gilbert, Maurice Moscovitch. CLASSIFICAÇÃO: Livre. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 93%


Um barbeiro judeu (Charles Chaplin) passa anos hospitalizado depois de servir o seu pais na Primeira Guerra Mundial. Sem muitas memórias do que aconteceu, ele acorda e decide voltar para o pequeno bairro onde mora com a intenção de voltar a trabalhar em sua barbearia. Porém, ele não sabe que agora o seu amado pais foi dominado por um regime totalitário e opressor sob a liderança do tirano Adenoid Hynkel (também interpretado por Charles Chaplin) que planeja dominar o mundo. 

Mesmo depois de aposentar o seu icônico vagabundo em ''Tempos Modernos'', Chaplin não deixou de lado toda a sua genialidade. A prova disso veio com ''O Grande Ditador'', mais uma de suas obras-primas, marcante por ser o primeiro filme totalmente falado do ator e diretor. Afinal, durante anos, mesmo com o surgimento do cinema falado, Charles se manteve firme na sua decisão de não inserir diálogos nos seus filmes. E como foi praticamente obrigado a se adequar a essa nova condição no meio cinematográfico, Chaplin fez isso da melhor maneira possível com essa obra espetacular de 1940. Em ''O Grande Ditador'', o cineasta satiriza e critica o regime nazista e seu líder Adolf Hitler, junto com aliados como Benito Mussolini e Joseph Goebbels que na época comandaram a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Chaplin sempre se considerou um humanitário a favor dos direitos humanos e usa cada minuto do filme para tirar sarro do ditador alemão e fazer pesadas críticas e comentários sociais sobre a guerra no geral, o que faz deste um dos filmes mais sérios de sua filmografia. Mesmo assim, o humor inteligente, pastelão e genuinamente engraçado de suas obras estão presentes aqui, onde mais uma vez o diretor nos faz rir, ao mesmo tempo que nos convida a analisar e refletir sobre o seu conteúdo.

Ao longo de suas mais de duas horas de duração, fazendo deste um dos seus filmes mais longos, Charles Chaplin faz o público se dar conta do quanto ele foi audacioso e corajoso em levar ''O Grande Ditador'' para as telas, em uma época tão turbulenta e conturbada. No caso de 1940, os Estados Unidos ainda não haviam entrado na Segunda Guerra Mundial. sendo que isso só viria acontecer após o ataque japonês a Pearl Harbor no ano seguinte. Mesmo assim, o filme de Chaplin despertou a atenção das autoridades que o acusaram de ser comunista. Ao meu ver, ''O Grande Ditador'' é um desabafo do ator contra o mal e a injustiça propagada por um tirano, com toques do humor genial do cineasta. O mais incrível é que o filme se mantém relevante mesmo com mais de 80 anos do seu lançamento, já que a injustiça, opressão e ignorância de alguns governos infelizmente ainda existem no cenário atual. O Brasil que o diga. 






Como era de se esperar, o filme é cheio de grandes momentos, como a famosa cena do globo terrestre e o emocionante discurso final, onde Chaplin sai do papel e se dirige não apenas aos demais personagens do filme mas também ao público com seus belos diálogos e a mensagem motivacional de esperança e dias melhores. O diretor, visionário como sempre foi, impressiona o espectador com a produção caprichada, cheia de efeitos práticos, ótimos figurinos, planos de câmera belíssimos e a elegante fotografia preto e branco. A trilha sonora é inesquecível e as atuações merecem aplausos. Charles Chaplin, além de escrever e dirigir o longa, dá um show de atuação, cheia do carisma e talento de sombra. Ele está absolutamente hilário dando vida ao simpático barbeiro judeu, que visualmente se parece muito com o seu inesquecível personagem Carlitos, o vagabundo, e ao tirano ditador Adenoid Hynkel. Para compor esse segundo personagem, Chaplin arranca gargalhadas da plateia imitando as principais características de Adolf Hitler. O resultado é muito divertido, já que ele propositalmente se transforma na caricatura perfeita do ditador alemão. O elenco de apoio corresponde muito bem ao imenso talento e carisma do protagonista. Chama a atenção a bela Paulette Goddard, que já havia contracenado com o ator em ''Tempos Modernos'' e volta a ser o interesse amoroso do carismático barbeiro judeu. Todos tem o seu momento para brilhar e Chaplin os lidera com a competência que o tornou um dos maiores profissionais da história da sétima arte.  

''O Grande Ditador'' é uma joia do cinema e mais um entre tantas obras sensacionais da vasta filmografia do gênio Charles Chaplin. Um filme maravilhoso que envelheceu muito bem. Absolutamente tudo funciona e nada fica faltando, o que faz desse clássico do cinema um dos melhores filmes de todos os tempos. Prepare-se mais uma vez para rir, se emocionar e pensar, algo que Chaplin se especializou em fazer com o seu público. 






Nota: ★★★★★★★★★★ 10



O GAROTO (THE KID - 1921) - Comédia/Drama, 68 minutos. ESCRITO E DIRIGIDO POR: Charles Chaplin. ELENCO: Charles Chaplin, Jackie Coogan, Edna Purviance, Lita Grey. CLASSIFICAÇÃO: Livre. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 100%


Uma mulher (Edna Purviance), devido a suas dificuldades financeiras, abandona o seu bebê dentro de um carro com uma carta. Depois que o veículo é roubado por uma dupla de malfeitores, a criança é descartada na rua como lixo. É ai que entra em cena o Vagabundo (Charles Chaplin) que a encontra e, mesmo relutante no início, decide levá-lo para a sua humilde casa. Conforme o tempo passa, esse gentil homem aprende a amar o garotinho de cinco anos como se fosse de fato o pai dele. Tempos depois, já estabelecida como uma consagrada atriz, a mulher decide procurar pelo seu filho oferecendo uma recompensa para quem o encontrar, o que acaba causando as mais diversas situações para o vagabundo e o garoto. 

A filmografia de Charles Chaplin é marcante por vários motivos, indo muito além das histórias cativantes, personagens memoráveis e grandes atuações. ''Tempos Modernos'', por exemplo, foi marcante por ter sido o último filme mudo escrito, produzido, dirigido e estrelado por Chaplin, além de ser a despedida nas telas do seu icônico personagem Carlitos ou o Vagabundo. ''O Grande Ditador'' foi o primeiro filme inteiramente falado dele e ''Em Busca do Ouro'' foi o filme favorito do próprio Chaplin, sendo o longa que o ator queria que as pessoas se lembrassem dele. Já ''O Garoto'' entrou para a história do cinema como o primeiro filme escrito e dirigido pelo genial cineasta. E na sua estreia como diretor, produtor e roteirista, ele não decepciona. Ao meu ver, e isso é uma opinião própria, ''O Garoto'' não é uma obra-prima como esses filmes citados acima, mas também está longe de ser ruim. Muito pelo contrário. Como o filme que lançou Chaplin e seu talento ao mundo da sétima arte, a obra é maravilhosa em todos os seus sentidos e sua importância para a indústria é inquestionável. Afinal, foi esse clássico do início da década de 20 que mostrou para o mundo pela primeira vez as principais características e ideias que iriam fazer parte de praticamente toda a sua filmografia a partir de então. 

No caso de ''O Garoto'', Chaplin nos apresenta uma comédia dramática que denuncia os problemas típicos da época e até mesmo dos dias atuais como desigualdade social e miséria e ainda assim consegue arrancar risos, sorrisos, lágrimas e muitas cenas marcantes. Ou seja, elementos que estão presentes em várias de suas obras surgiram a partir desse clássico inesquecível. Muitos amantes de cinema e historiadores também acreditam que esse primeiro filme sob a direção de Chaplin seja também o seu trabalho mais íntimo e pessoal. Afinal, o cineasta teria se inspirado em suas próprias experiências de vida como a infância pobre e até mesmo a perda do seu filho pouco antes das gravações para escrever o roteiro. Isso explica o amor puro e verdadeiro que ele deu para o Vagabundo e seu filho adotivo que divertiu e emocionou o público ao longo de 100 anos desde o seu lançamento. ''O Garoto'' é um filme com alma e coração, para sentir e se apaixonar, ver e não esquecer jamais. 






Mesmo que seja um dos filmes mais antigos não apenas da filmografia de Charles Chaplin como também do cinema, é impressionante ver a sua qualidade técnica e a criatividade sem tamanho do cineasta. Mesmo com uma produção simples, a cenografia é ótima, assim como a montagem e os movimentos de câmeras, além da cinematografia preto e branco que é um dos motivos que tornam esse e outros grandes filmes do diretor tão inesquecíveis. A pequena quebra da quarta parede, onde os personagens, especialmente Chaplin olham para a câmera como se quisesse se comunicar com o público que assiste, é algo revolucionário para um filme tão antigo. Curiosamente, quando foi lançado em 1921, ''O Garoto'' chegou aos cinemas sem som ou qualquer trilha sonora, oferecendo ao espectador apenas os gestos dos personagens e os letreiros com alguns diálogos na tela para poder entender a história. Muitos anos depois, a música foi acrescentada ao filme em uma trilha sonora magnífica criada pelo próprio Charles Chaplin. Mesmo para os padrões de hoje, ao assistirmos ao filme, é realmente notável que tudo isso tenha envelhecido tão bem. 

Charles Chaplin que até então tinha protagonizados alguns curtas metragens com o seu Carlitos, dá mais camadas e peso ao personagem. Com muito carisma e talento, o criador e a criatura roubam a cena. Foram os primeiros passos de ambos para se tornarem lendas cinematográficas e Chaplin já mostrava o quanto tinha total controle da situação tanto na frente quanto atrás das câmeras. Ao seu lado está o pequeno Jackie Coogan que impressiona a audiência com seu talento, onde ele e Chaplin possuem uma química maravilhosa e uma interação apaixonante. O pequeno imita os trejeitos de seu companheiro de cena com uma naturalidade tão grande que a impressão é que ambos realmente são pai e filho na vida real. Juntos, são os protagonistas de várias cenas hilárias de comédia pastelão mas também estão presentes em alguns dos momentos mais tocantes e dramáticos do filme. Entre risos e lágrimas, o público só tem a ganhar com o imenso talento dessa dupla em um filme encantador.






Com risadas e emoção, ''O Garoto'' foi um ótimo início para Charles Chaplin e seu icônico personagem no cinema. Cheio de grandes momentos, foi a partir desse grande sucesso que o ator e diretor criou as ideias e conceitos sensacionais que foram se aprimorando com o tempo e deram origem a verdadeiras obras-primas da sétima arte. Um filme inesquecível, importantíssimo para o cinema e indispensável para os fãs e admiradores do ator e diretor que poderão conferir o nascimento de uma lenda do cinema em grande estilo. É cinema de muita qualidade hoje e sempre. 

Nota: ★★★★★★★★★ 9


CURIOSIDADES: 

O GRANDE DITADOR (1940)

  • A ideia para ''O Grande Ditador'' ocorreu a Charles Chaplin quando o seu amigo Alexander Korda apontou semelhanças físicas entre o personagem Carlitos e o ditador alemão Adolf Hitler. Curiosamente, Chaplin acabou descobrindo que ele e o Fuhrer tinham nascidos com apenas uma semana de diferença entre eles, além de ambos possuírem na época o mesmo peso e altura. Ambos eram de origem pobre, mas depois cresceram na carreira. Com isso, Charles decidiu se aproveitar dessas características e semelhanças para criticar Hitler que na época iniciava o seu regime nazista na Alemanha.  
  • Chaplin começou a produzir e filmar o filme em 1937, pouco tempo depois do lançamento de ''Tempos Modernos''. Nessa época, existiam dúvidas se o nazismo seria ou não uma ameaça. Porém, essa dúvida foi deixada de lado quando a guerra estava em alta em 1940, ano em que ''O Grande Ditador'' chegou aos cinemas. 
  • Quando ''O Grande Ditador'' foi anunciado, a Inglaterra divulgou para a imprensa que iria censurar o filme nos seus cinemas por conta do seu conteúdo satírico e crítico. Na época, o pais procurava entrar em acordo com Adolf Hitler e o seu regime nazista. As negociações não obtiveram sucesso e os dois países entraram em guerra. Com o lançamento do filme de Chaplin em 1940, a Inglaterra decidiu por exibi-lo nos cinemas como uma propaganda anti-nazista. 
  • A principio, o estúdio tentou convencer Charles Chaplin a não realizar o filme. Ao saber disso, o presidente dos Estados Unidos na época, Franklin Delano Roosevelt mandou um representante para falar com Chaplin para incentiva-lo a realizar o longa. 
  • O custo de produção do filme foi totalmente bancada pelo próprio Chaplin. Tal esforço deu resultado, já que ''O Grande Ditador'' é um dos maiores sucessos de crítica e bilheteria da carreira do cineasta. 
  • As filmagens duraram incríveis 539 dias, um tempo demasiado longo para um filme de Charles Chaplin. Conforme as gravações avançavam, o cineasta ia se mostrando cada vez mais desconfortável em interpretar Hitler ao saber dos seus terríveis atos na Alemanha. Isso fazia com que ele ficasse mais agressivo toda vez que tinha que vestir o uniforme para parodiar o ditador alemão. 
  • A famosa cena final com o discurso de Charles Chaplin foi inspirada a partir do momento que Alemanha invadiu a França. 
  • Embora demonstrem uma química muito boa no filme, durante as filmagens, o relacionamento amoroso entre Charles Chaplin e a atriz Paulette Goddard foi se deteriorando aos poucos. Tanto que tempos depois, eles se divorciaram. 
  • De acordo com alguns relatos, após o final da Segunda Guerra Mundial em 1945, Chaplin disse que se na época das filmagens de ''O Grande Ditador'' ele soubesse de todas as atrocidades cometidas pelos nazistas, jamais teria inserido elementos de comédia no filme. Segundo ele, seria impossível rir de tempos tão cruéis. 
  • Com o lançamento do filme em 1940, Adolf Hitler mandou censurar o longa nos cinemas da Alemanha e também de todos os países que ele controlava. No entanto, ele mandou que uma cópia do filme lhe fosse enviada de Portugal para que ele pudesse assisti-lo. Até hoje não se sabe qual foi a sua reação depois de ver o filme. 
  • O filme ficou banido da Espanha até 1975, sendo liberado no país somente depois da morte do ditador Francisco Franco. Na França, após a vitória dos seus aliados contra Hitler, cópias do filme foram exibidas nos cinemas franceses. 
  • Com o grande sucesso crítico e financeiro, ''O Grande Ditador'' foi ainda indicado em 5 categorias do Oscar em 1941, entre elas ''Melhor Filme'', ''Melhor Ator'' e ''Melhor Roteiro Original''. Os gastos de produção foram de 2 milhões, o que na época era considerado bem caro. 


O GAROTO (1921)

  • Com um orçamento de 250 mil, ''O Garoto'' arrecadou mais de 2 milhões só nas bilheterias dos cinemas nos Estados Unidos. 
  • Exibido nos cinemas sem trilha sonora, o filme só foi ter música em 1971, com composições criadas e inseridas pelo próprio Charles Chaplin. 
  • Assim como ''O Grande Ditador'', as filmagens de ''O Garoto'' levaram muitos dias para serem finalizadas. Foram quase seis meses de gravações, o que para a época do cinema mudo era bastante tempo. Isso se deu muito por causa do conhecido perfeccionismo de Charles Chaplin que era considerado extremante exigente com sua equipe e atores. 
  • Chaplin enfrentou dificuldades e turbulência durante as gravações, como o alcoolismo da atriz Edna Purviance, além do processo de divórcio com a sua primeira esposa, a atriz Midred Harris. Foi ainda durante as gravações que ele conheceu a jovem atriz Lita Grey. 
  • O ator mirim Jackie Coogan era filho de um casal da alta sociedade amigo de Chaplin. Coogan foi convidado pelo cineasta para fazer parte do elenco do filme depois de impressiona-lo com o seu carisma e talento. 



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