Duna: Parte 1 (2021) - O deslumbrante épico de Denis Villeneuve
Em 1965, o americano Frank Herbert escreveu e publicou uma das maiores ficções científicas do século 20: o romance literário "Duna". Aclamado pelos críticos e amantes de livros, a obra chegou a vencer o Prêmio Hugo em 1966 e entrou para a história como um dos livros mais vendidos de todos os tempos. Como era de se esperar, a trama do livro foi adaptada para as telas do cinema em 1984 sob a direção de David Lynch, que também escreveu o roteiro. Embora tenha alcançado o status de clássico cinematográfico, o longa foi apontado por muitos como decepcionante e falho em adaptar a obra original.
Mais de 30 anos depois, a obra-prima de Frank Herbert está de volta aos cinemas em uma nova adaptação, dessa vez dirigida por um dos melhores diretores da atualidade e com um elenco de cair o queixo. E para a satisfação de muitos, e eu me incluo nessa, esse novo "Duna" é um filmaço, entrando facilmente na minha lista de melhores filmes do ano.
A trama se passa em um futuro distante. O poderoso Duque Leto Atreiders (Oscar Isaac) aceita ser enviado para o misterioso planeta Arrakis, também conhecido como Duna, para liderar uma grande operação cuja a função é dominar e extrair do lugar uma substância com poderes que prolongam a vida humana. Com ele, vai a sua concubina Lady Jessica (Rebecca Ferguson) e seu herdeiro Paul Atreides (Timothée Chalamet), cujo o mesmo desconhece a grandeza do seu destino, um destino que vai muito além do que ele jamais imaginou. No entanto, acontecimentos inesperados e uma traição farão com que o jovem descendente embarque em uma jornada de descobertas e autoconhecimento.
De um lado, temos uma das maiores e mais aclamadas obras de ficção científica da literatura mundial. Do outro, Denis Villeneuve, um dos melhores cineastas da sua geração, responsável por ótimos filmes como "A Chegada" (2016) e "Blade Runner 2049" (2017). Unindo esses dois argumentos, temos um filme de proporções gigantescas, cuja a sua magnitude vai muito além do que se possa imaginar. Isso porquê esse novo "Duna" é uma das maiores experiências cinematográficas do ano de 2021 e impressiona do início ao fim com sua junção brilhante de sons, imagens e as performances do elenco.
Sobretudo, "Duna" é um espetáculo visual arrebatador. Com uma cinematografia deslumbrante, o filme enche os nossos olhos com a beleza da sua fotografia de cores predominantemente quentes e dos efeitos visuais que ajudam a dar vida a um universo riquíssimo em detalhes e com um auto grau de realismo, nos fazendo acreditar que tal mundo fantástico realmente poderia existir. Claro que os vários efeitos práticos e as locações reais também ajudam bastante nessa construção de mundos, já que os cenários escolhidos para compor o visual do desértico planeta Arrakis é magnífico. Os figurinos são outro detalhe que chamam a atenção, cheios de alegorias e estilo, quase todos muito elegantes. E por último, o belo trabalho de cabelo e maquiagem que com certeza merecem aplausos.
Somado a isso, a montagem, unida aos ótimos planos de câmera do diretor, dão ao filme um ar contemplativo belíssimo. Na verdade, contemplativo é a palavra que define muito bem "Duna". Denis Villeneuve nitidamente constrói o filme de uma maneira que faz com que ele seja feito para ser muito bem contemplado e apreciado, com o mesmo efeito que temos ao comtemplar e apreciar uma obra de arte pintada sobre uma tela. E de fato, basicamente todos os takes, movimentos cinematográficos, cenografia e enquadramentos captados pelas lentes do diretor são verdadeiras pinturas de tão bonitos. Ou seja, uma verdadeira obra de arte do cinema atual. Não tem como deixar de elogiar a magnifica trilha sonora do experiente Hans Zimmer, com toda a sua grandiosidade e beleza.
A história é muito bem contada e, na medida do possível, com um bom desenvolvimento de personagens. Pegue como exemplo o próprio protagonista vivido pelo jovem Timothée Chalamet. É construído todo um mistério em torno do seu personagem. E mesmo que seja possível entender quem ele é e qual é a sua importância dentro da história, o roteiro propositalmente deixa algumas lacunas e pontas soltas em torno da sua imagem e das suas ações com a intenção de entregar as respostas no segundo filme. O demais personagens tem a sua função dentro da trama e o que sabemos sobre eles é o básico. O ritmo pode parecer um pouco arrastado para alguns, mas tal ritmo é muito bem equilibrado e se completa bem com os momentos pontuais de ação, além de ser um bom artifício para introduzir o espectador nesse universo de ficção científica.
Se aproveitando bem do bom roteiro e dos aspectos visuais grandiosos, o elenco recheado de estrelas tem os seus momentos. A trama se concentra mais no misterioso personagem de Timothée Chalamet, cuja sua figura desperta interesse e curiosidade no espectador. E o jovem ator se sai bem, com uma atuação contida, mas que funciona por combinar com a proposta dada a ele pelo roteiro. Não há dúvidas de que um segundo filme promete grandes acontecimentos e surpresas para sua figura emblemática. Só nos resta aguardar. Outros grandes nomes como Oscar Isaac, Jason Momoa, Rebecca Ferguson, Javier Barden, entre outros, estão no filme para cumprir tabela, mas funcionam. A personagem de Zendaya é outro Mistério dentro da trama. Sua participação se resume a poucas cenas, mas mesmo assim, lhe é dado um futuro promissor dentro desse universo.
"Duna" é provavelmente a experiência cinematográfica mais ousada e impressionante do ano em questões de roteiro, elenco e principalmente aspectos técnicos. Tudo o que se vê na tela possui um cuidado incrível, capaz de abalar os sentidos e as emoções. É tudo muito bem orquestrado para satisfazer os nossos olhos e ouvidos, provocando êxtase e deslumbramento. Como cinema, é um deleite para os amantes de ficção científica, fãs do diretor Denis Villeneuve e apreciadores da sétima arte em geral.
Nota: ★★★★★★★★★ 9
DUNA: PARTE 1 (DUNE - 2021) - Aventura/Fantasia/Ficção Científica, 155 minutos. ESCRITO, PRODUZIDO E DIRIGIDO POR: Denis Villeneuve. ELENCO: Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Jason Momoa, Oscar Isaac, Stellan Skarsgard, Javier Barden, Dave Bautista, Josh Brolin, David Dastmalchian. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 83%
CURIOSIDADES:
- Originalmente, nenhuma editora queria publicar o livro original que Denis Villeneuve baseou o seu filme. No total, foram 23 editoras que se recusaram a publicar a obra criada e escrita por Frank Herbert, que só conheceu a luz do dia graças a uma pequena empresa na Filadélfia chamada Chilton que por fim concordou em publicá-la. Como resultado disso, a obra vendeu mais de 20 milhões de cópias e foi traduzido para 12 idiomas diferentes.
- O filme de Villeneuve é a terceira adaptação audiovisual do livro de Frank Herbert. A primeira foi realizada em 1984 em um filme dirigido por David Lynch e a segunda em 2000 em uma minissérie do canal Sci Fi Channel.
- O grande compositor cinematográfico Hans Zimmer concordou em criar a trilha sonora de ''Duna'' por ser um grande fã da obra literária. Sua intenção era compor algo marcante que parecesse de outro mundo, assim como a história contada no longa.
- Ao todo, cerca de mil figurinos foram confeccionados para o longa de Denis Villeneuve.
- Segundo o diretor de ''A Chegada'' e ''Blade Runner 2049'', um dos grandes desafios para as filmagens foi simular elementos naturais como areia e poeira no set, tudo isso para evitar o máximo possível o uso de efeitos visuais gerados por computação gráfica.
- Para interpretar o principal antagonista do longa, o ator Stellan Skarsgard passou mais de 80 horas na cadeira de maquiagem, o que equivaleu a 30% das filmagens do filme.
- De acordo com o próprio Denis Villeneuve, ''Duna'' foi o projeto mais difícil e mais ambicioso da sua carreira como diretor até agora.
Comentários
Postar um comentário