A Menina que Matou os Pais / O Menino que Matou Meus Pais (2021) - O Crime que chocou o Brasil!


 Por: Rudnei Ferreira


Foi em outubro de 2002, há quase 20 anos atrás, que o Brasil se surpreendeu e ficou chocado com um terrível crime. A jovem Suzane Von Richthofen assassinou de maneira cruel e brutal os seus pais, o engenheiro Manfred Albert Von Richthofen e a psiquiatra Marísia Von Richthofen. Para isso, ela contou com a ajuda do seu namorado na época Daniel Cravinhos e o seu cunhado Cristian Cravinhos. O crime bárbaro abalou o pais naquele ano e é lembrado até hoje como um dos mais brutais e hediondos do país. O trio foi preso pouco tempo depois e julgados quatro anos depois, em 2006, onde receberam a sua sentença. Suzane e Daniel foram condenados a 39 anos de reclusão. Já Cristian recebeu 38 anos de reclusão, um ano a menos que o casal. 

O caso teve enorme repercussão na época e no decorrer dos anos seguintes, com ampla cobertura nos jornais, na mídia e também em livros. Nesse 31 de outubro de 2021, a tragédia completa 19 anos. E pensando nisso, o caso que abalou o Brasil foi relembrado e reconstituído nas telas em ''A menina que Matou os Pais'' e ''O Menino que Matou Meus Pais'', dois longas metragem, ambos dirigidos por Mauricio Eça e estrelados por Carla Diaz e Leonardo Bittencourt que dão vida a Suzane Richthofen e Daniel Cravinhos. Disponíveis com exclusividade no catálogo nacional do Amazon Prime Video, confesso a vocês, meus leitores, que fiquei impressionado e bastante satisfeitos com os filmes, graças aos seus méritos audiovisuais e principalmente interpretativos. 






Os filmes exploram os detalhes por trás dos acontecimentos que levaram a morte brutal do casal Marísia Von Richthofen (Vera Zimmermann) e Manfred Von Richthofen (Leonardo Medeiros) pelas mãos da sua filha Suzane Richthofen (Carla Diaz) e o namorado dela, Daniel Cravinhos (Leonardo Bittencourt). Presos e levados aos tribunais para julgamento, ambos decidem contar as suas versões do crime. 

Quando foram anunciados, ambos os filmes causaram um imenso burburinho e polêmicas entre aqueles que acharam um absurdo o fato de que um assassinato tão cruel e brutal seria retratado nas telas do cinema nacional. Para muitos, esses filmes seriam nada mais do que um prato cheio para glorificar e relembrar os tristes acontecimentos daquele 31 de outubro de 2002. Na minha humilde opinião, toda essa polêmica e comentários contra os filmes não passa de uma grande hipocrisia. Sim, as duas obras de Mauricio Eça nos faz reviver com tristeza e pesar um crime horroroso que abalou as estruturas do país na época. Um crime bárbaro que marcou os brasileiros de maneira absurda e se mantém vivo em nossas lembranças até os dias de hoje. No entanto, digo que toda a polêmica com os filmes é hipocrisia por um simples motivo: milhares de filmes estrangeiros, especialmente filmes hollywoodianos, já retrataram ou retratam nas telas da TV e do cinema crimes reais terríveis e marcantes. Obras como ''Monster: Desejo Assassino'' (2003) ''Zodíaco'' (2007) são ótimos exemplos disso. Detalhe: ambos os filmes foram aclamados pela crítica e elogiadíssimos pelo público, inclusive o público brasileiro, cujos roteiros envolvem assassinos que realmente existiram e mortes terríveis que realmente aconteceram. E as pessoas gostaram e gostam bastante. 

Agora, se os filmes estrangeiros podem contar suas histórias reais nos cinemas e na TV e conseguem agradar inclusive os brasileiros, porque dois filmes nacionais que contam a história de um crime nacional real merecem ser tão repudiados e criticados? Falar de crimes e tragédias do estrangeiro, tá tudo certo. Agora, falar do mesmo assunto no Brasil em um filme nacional, ai é um absurdo inaceitável? Para aqueles que pensam isso, sugiro reavaliarem os seus conceitos e deixem a hipocrisia de lado. Convenhamos, se o mundo lá fora conta suas histórias e mesmo assim agradam, não vejo problema nenhum o cinema brasileiro fazer o mesmo. Afinal, crimes e outras coisas do tipo infelizmente acontecem no mundo inteiro. Não estou e jamais irei enaltecer um caso bárbaro e repugnante como o Caso Richthofen. Muito pelo contrário. Apenas não vejo problema ambos os filmes relatarem tal caso, que jamais será esquecido e nem deve ser esquecido. É um dos poucos exemplos onde a justiça brasileira realmente foi feita, já que até hoje, quase 20 anos depois, Suzane Richthofen está pagando pelo que fez. 







Dito tudo isso, vou falar o que achei de ambos os filmes: eu gostei bastante. Os roteiros tem como base os depoimentos reais de Suzane e Daniel nos tribunais, além de vários materiais informativos sobre o caso que foram divulgados na mídia, tornando o caso público. Minha satisfação foi saber que os roteiros, ambos escritos pela dupla Ilana Casoy e Raphael Montes, são extremante comprometidos em reproduzir nas telas, com o máximo de realismo e fidelidade, os principais  detalhes em torno do caso. Cada um dos filmes conta a mesma história sob pontos de vista diferentes. Por exemplo, toda  a história de ''O Menino que Matou Meus Pais'' é relatada sob o olhar de Suzane Richthofen, que exalta o quanto ela foi aos poucos manipulada por Daniel até ser convencida de cometer o crime contra os seus progenitores. Já em ''A Menina que Matou os Pais'', conhecemos o relato de Daniel Cravinhos, que descreve Suzane como uma garota sedutora, manipulativa e problemática, que usou das suas artimanhas para convence-lo a ajudá-la a cometer o crime. É interessante poder ver diferentes perspectivas do mesmo caso. Mais interessante ainda é ver como os roteiros se completam e ambos os filmes se encaixam entre si, mesmo com alguns detalhes e situações que os diferenciam.

Outro detalhe positivo é que ambos os filmes não julgam e nem muito menos apontam dedos para um culpado. Eles apenas apresentam os fatos, com os pós e contras de ambos os personagens, deixando a cargo do espectador avaliar e tirar as suas próprias conclusões sobre os acontecimentos. No final, quem estava falando a verdade? Quem foi o manipulador e quem foi a vítima? Quais das versões apresentadas é a verdadeira? Os roteiros não dão as respostas, já que o próprio caso real até hoje é cercado de mistérios. Por fim, cabe ao espectador decidir quem falou a verdade...ou não. No caminho, os roteiros também tocam em outros temas fortes como as causas e consequências da juventude, abusos físicos e mentais, liberdade, opressão e diferenças de classes sociais. Assuntos sérios e bastante relevantes. 





Tecnicamente, ''A Menina que Matou os Pais'' e ''O Menino que Matou Meus Pais'' são muito decentes. Bem produzidos e bem executados, as obras possuem um ritmo envolvente capaz de imergir o espectador para dentro da realidade apresentada pelo casal. Além de tudo, ambos os filmes são muito bem dirigidos, com Mauricio Eça fazendo bom uso dos movimentos cinematográficos. Em ambos os casos, gostei bastante dos planos e movimentos de câmera, além da fotografia com variações de tons em sua paleta de cores, que vai desde a mais alegre e colorida, passando por tons mais escuros até chegar a um avermelhado intenso. Isso faz com que não apenas o roteiro mas também a cinematografia dos filmes tenha muito a dizer e transmitir sobre as histórias contadas. A trilha sonora aposta em várias canções bem conhecidas do público, e elas são bem inseridas nos momentos certos, até mesmo ilustrando as mudanças de tom. Para dois filmes com produções estilo independentes, a qualidade cinematográfica é bem notável. 

O elenco, na medida do possível, está muito bem. Cada um dos atores e atrizes se entregam a proposta de ambos os filmes e fazem um bom trabalho. Quem rouba a cena, e não poderia ser diferente, é Carla Diaz. A jovem atriz sabia da grande responsabilidade e do desafio que seria encarnar nas telas Suzane Von Richthofen e encara esse desafio com extrema competência e talento. É realmente impressionante como ela procura imitar da melhor maneira possível as variadas personalidade de Suzane e todos os seus trejeitos. Até mesmo na aparência ela se assemelha a verdadeira, embora na minha opinião, Carla seja bem mais bonita. No entanto, isso é irrelevante, já que o que realmente importa é que a jovem atriz dá conta do recado nessa que é até o momento a melhor performance da sua carreira, o que pode futuramente lhe render trabalhos ainda mais interessantes. Outro que se destaca é Leonardo Bittencourt dando vida a Daniel Cravinhos. Assim como Carla, o ator consegue variar as características e personalidade do personagem de uma versão para a outra com muita naturalidade e talento. Sua química com Carla Diaz em cena é muito boa e o casal protagoniza momentos de bastante tensão mas também de sensualidade em cenas bem quentes e ousadas, porém sem grande apelação. Não há dúvidas que tanto Leonardo quanto Carla fizeram um ótimo trabalho na reconstituição e na construção dos seus intrigantes personagens. Personagens esses que ficaram marcado para sempre na cultura popular e na história brasileira. 

''A Menina que Matou os Pais'' e ''O Menino que Matou Meus Pais'' apresentam duas versões interessantes e diferenciadas do crime que abalou o Brasil. Um crime cercado de mistérios e controvérsias que mexe com o imaginário do público até os dias de hoje. Bem executado e com uma direção competente, ambos os filmes ainda são enriquecidos pelo talento e comprometimento do seu elenco e principalmente da sua dupla de protagonistas. São filmes que proporcionam um olhar intimista desse lamentável acontecimento. Acima disso, como obras cinematográficas, são dois trabalhos muito bem realizados. 

Nota: ★★★★★★★★★ 9




A MENINA QUE MATOU OS PAIS / O MENINO QUE MATOU MEUS PAIS (2021) - Drama policial, 80 minutos cada filme (duração total: 160 minutos). ELENCO: Carla Diaz, Leonardo Bittencourt, Kauan Ceglio, Vera Zimmermann, Leonardo Medeiros, Allan Souza Lima. CLASSIFICAÇÃO: Não recomendado para menores de 16 anos. 



CURIOSIDADES: 

  • De acordo com o diretor Mauricio Eça, o espectador pode escolher a ordem que preferir para começar a assistir aos filmes. No entanto, ele recomenda para quem se interessar que comece pelo filme ''O Menino que Matou Meus Pais'' e logo em seguida, ''A Menina que Matou os Pais''. 
  • Ambos os filmes foram rodados ao mesmo tempo no período total de 33 dias. 
  • De acordo com a atriz Carla Diaz, ter os dois filmes gravados simultaneamente exigiu demais da equipe e de todo o elenco. Concentração e foco foram essenciais para não se confundirem. 
  • Os roteiros dos dois longas metragens foram inspirados nos depoimentos reais de Suzane Richthofen e Daniel Cravinhos nos tribunais, além de ter como base o livro ''Casos de Família: Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni'' de 2016, escrito por Illana Casoy cuja a mesma ajudou a escrever os dois filmes ao lado de Raphael Montes. 
  • Falando nisso, a dupla é a mesma que escreveu a ótima ''Bom Dia, Verônica'', série policial da Netflix protagonizada por Tainá Muller em 2020. 
  • Originalmente, a trama seria contada apenas em um filme, cujo o roteiro traria os depoimentos de Suzane e Daniel. Foi o produtor Gabriel Gurman que sugeriu que a história fosse desenvolvida em um segundo filme. 
  • Antes de comandar a direção dos dois filmes, Mauricio Eça foi o responsável por dirigir os filmes ''Carrossel 1 e 2'' e também o videoclipe da música ''Sou a Barbie Girl'' em 2005 da cantora Kelly Key. 
  • Ao contrário do que muitos possam imaginar, Nem a verdadeira Suzane Richthofen, nem os irmão Cravinhos ou qualquer uma das pessoas relacionadas ao caso real tiveram qualquer envolvimento com a produção dos filmes, nem muito menos receberam qualquer dinheiro dos mesmos. Como os roteiros são baseados em um caso público, nenhuma das partes tiveram envolvimento ou bonificação. 
  • Os filmes não tiveram qualquer tipo de investimento público em seu orçamento. Todo o custo de produção veio totalmente de investimento privado. 


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