O Artista (2011) - Uma carta de amor ao cinema!


 Por: Rudnei Ferreira 


Ah, o cinema. Essa fábrica mágica de sonhos e histórias que todos nós amamos. Já são 125 anos de história com centenas de milhares de produções cinematográficas, de todos os anos, décadas e gêneros. Tem para todos os gostos e para todas as faixas etárias. E tudo isso nasceu graças aos irmãos Alguste e Louis Lumière, que em 1895 criaram o cinematógrafo, o primeiro objeto capaz de registrar imagens em movimento. Isso lhes permitiu que filmassem aquele que é considerado o primeiro filme da história do cinema. Trata-se apenas de uma pequena filmagem de um único Take e pouquíssimos minutos, porém, ''A chegada de um Trem a Estação'' de 1896 se tornou o primeiro e mais antigo registro cinematográfico da história sétima arte. Junto com George Méliès, um genial e talentoso cineasta francês, os irmãos Lumière deram os primeiros passos para a criação do cinema que conhecemos hoje. Afinal, se não fosse por eles, o maravilhoso universo da sétima arte não existiria. Poucos anos depois, o trabalho desses gênios influenciou outros grandes artistas como Charles Chaplin, Buster Keaton, Harold Lloyd, Oliver Hardy, Stan Laurel, entre outros. 

A história do cinema se iniciou com os filmes mudos, já que muitos da época acreditavam que as imagens e a trilha sonora falavam por si só, sem a necessidade de diálogos. Isso e o fato de que não existiam os recursos que existem nos dias de hoje. Charles Chaplin e muitos artistas desse período, como os nomes citados acima, se tornaram grandes ícones da era do cinema mudo. Seus filmes viraram grandes sucessos entre o público e hoje são lembrados eternamente como algumas das melhores e mais inesquecíveis obras da indústria, que influenciou muitos outros atores e cineastas que vieram depois. Porém, foi a partir da década de 30 que o silêncio nos filmes foi aos poucos deixado de lado, abrindo portas para que os primeiros longas com falas ganhassem o seu espaço. Os muitos atores, atrizes e diretores dessa época tiveram que se adaptar aos novos tempos, que prometiam ser o futuro do cinema. No entanto, vários desses artista não viram com bons olhos essa mudança. O próprio Charles Chaplin resistiu bravamente contra o cinema falado até o final da década de 30, onde ele finalmente se despediu dos filmes mudos com o maravilhoso ''Tempos Modernos'' (1936). ''O Grande Ditador'' (1940), obra-prima da sua filmografia, foi oficialmente o seu primeiro longa metragem falado. 

Com produção e direção do francês Michel Hazanavicius, ''O Artista'', grande vencedor do Oscar de ''Melhor Filme'' em 2012 retrata a Hollywood dos anos 20/30, onde os grandes filmes do cinema mudo tiveram a sua glória. É um filmaço que todo amante de cinema precisa ver. 






O longa nos conta a história de George Valentin (Jean Dujardin), um famoso ator de filmes mudos que, aos poucos, observa a sua carreira cair em declínio com a chegada dos primeiros filmes com falas. Desesperado, ele tenta se manter dentro da indústria cinematográfica. Enquanto isso, a bela Peppy Miller (Bérénice Bejo), de atriz coadjuvante acaba se tornando uma grande estrela graças aos filmes que ela protagoniza. Nutrindo um grande interesse romântico por Valentin, ela tenta ajudá-lo da melhor maneira possível.

''O Artista'' é um filme que resgata a gloriosa era do cinema mudo, ao mesmo tempo que declara todo o seu amor pela indústria cinematográfica em uma belíssima homenagem fílmica. Curiosamente, o longa de Michel Hazanavicius foi lançado no mesmo ano de ''A Invenção de Hugo Cabret'', obra dirigida por Martin Scorsese cujo o enredo também homenageia o cinema. Inclusive, ambos os filmes se passam praticamente no mesmo período de tempo. A diferença é que o filme de Scorsese utiliza a fantasia e mistura ficção com realidade para explorar as origens do cinema e a vida e obra do inesquecível George Méliès. Já em ''O Artista'', a proposta é retratar a época que os filmes mudos foram aos poucos substituídos pelos filmes com falas, mostrando também os bastidores das grandes produções cinematográficas das décadas de 10, 20 e 30.  O mais legal e interessante de tudo isso é a maneira como o diretor resolveu contar isso: através de um filme mudo. É uma proposta diferente, muito interessante e também arriscada. Interessante e diferente pela ideia de falar sobre o cinema sem falas através de um filme sem falas, algo até então não realizado, pelo que eu me lembre, dentro do cinema moderno. E arriscado pelo fato de que poucos irão se interessar em assistir um filme mudo nos dias de hoje, algo que somente os cinéfilos mais fervorosos farão. 

No entanto, é justamente por causa dessa sua proposta que ''O Artista''  é um filme tão brilhante e inteligente. O fato de ser um filme mudo não é por acaso, já que a proposta de ser assim tem absolutamente tudo a ver com a história contada. Veja bem: através da sua metalinguagem cinematográfica, o protagonista, que é um grande astro da era muda do cinema, vê o seu mundo desabar com a chegada da evolução da indústria. Mesmo fora das produções que ele atuou e o fizeram um grande artista, sua própria vida pessoal lhe parece ser como um grande filme mudo. Ou seja, ele está preso e acostumado com essa realidade que lhe deu fama e fortuna. Quando isso começa a lhe escapar pelos dedos, a figura de linguagem do filme também muda, mostrando sua reação diante dos novos tempos. Tempos que ele se recusa a aceitar. É um trabalho narrativo impecável com uma proposta brilhante. Parando para analisar mais atentamente, a trama lembra bastante a do clássico ''Crepúsculo dos Deuses'' (1950), excelente filme de Billy Winder, e até cria paralelos com a realidade de artistas da indústria no período, como o próprio Charles Chaplin, que durante muito tempo também renegou com todas as forças essa evolução. No processo, o roteiro fala de orgulho e arrogância. Do poder da fama, mas também do declínio que ela pode proporcionar.  Em suma, ''O Artista'' faz muito bem o seu trabalho de entreter com sua belíssima homenagem a sétima arte ao mesmo tempo que nos dá algo para refletir. E isso é genial. 






Merece atenção e muitos elogios também o design de produção do filme, com cenários, cabelos, maquiagem, objetos, adereços e figurinos que permitem uma excelente reconstituição de época. Juntando todos esses elementos cinematográficos mais a belíssima e elegante fotografia preto e branco, a sensação que temos é que realmente estamos acompanhando um filme da era muda de Hollywood. Com a intenção de convencer ainda mais as plateias com a sua proposta, a trilha sonora é magnífica, inserida nos momentos certos e dando todo o peso necessário para a obra. Os planos de câmera bem executados e a montagem primorosa completam o nível de qualidade e máximo realismo do filme. Concluindo, é um trabalho de produção elogiável e muito convincente. 

Um elenco formidável nos agracia com sua presença e talento, onde se destacam os protagonistas Jean Dujardin e Bérénice Bejo. Ele traz com perfeição a imagem do artista arrogante e orgulhoso construído pela fama, mas que sofre uma grande queda por causa dela, precisando tirar forças de algum lugar para se reerguer. O ator tem charme e presença e o roteiro o favorece com um belo estudo de personagem. Já ela encanta o espectador com sua doçura e beleza, além do talento para compor a sua fascinante personagem. É realmente incrível como ambos conseguem nos dizer muito, mesmo sem dizer uma única palavra, através de suas atuações e do ótimo auxílio da direção que sabe extrair o melhor dessa dupla. Vale mencionar as boas participações de veteranos como John Goodman, do saudoso James Cromwell e do eterno astro de ''Laranja Mecânica'' e ''Calígula'' Malcolm McDowell. São participações bem especiais mesmo. Ah, e não podemos nos esquecer do cãozinho Uggie, o pequeno companheiro de cena de Jean Dujardin. Simplesmente maravilhoso, divertido e encantador. 





Com ''O Artista'', somos levados por uma maravilhosa viagem no tempo até os primórdios do cinema Hollywoodiano, com toda a sua glória e grandiosidade. É uma bela homenagem audiovisual que os cinéfilos de plantão precisam tirar um tempo para conferir. Trata-se de cinema de qualidade que fala sobre cinema de qualidade, recomendado para aqueles que, assim como eu, amam ou se interessam pela maravilhosa história da sétima arte. 

Nota: ★★★★★★★★★★ 10




O ARTISTA (THE ARTIST - 2011) - Drama/Romance/mudo, 100 minutos. PRODUZIDO E DIRIGIDO POR: Michel Hazanavicius. ELENCO: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, Penelope Ann Miller, Uggie, John Goodman, James Cromwell, Malcolm McDowell. CLASSIFICAÇÃO: 12 anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 95%


CURIOSIDADES: 

  • Com a intenção de entrar no clima do filme, o ator Jean Dujardin se mudou para uma antiga casa construída no ano de 1930 em Hollywood Hills. 
  • A atriz Penelope Ann Miller já interpretou Edna Purviance, uma famosa atriz da época do cinema mudo, na cinebiografia ''Chaplin'' (1992) 
  • Três cachorros da raça Jack Russell Terrier foram usados para interpretar o simpático cãozinho do personagem de Jean Dujardin. No entanto, foi o pequeno Uggie que fez a maioria das cenas no filme. 
  • O filme teve um orçamento de 15 milhões para ser produzido e arrecadou mais de 130 milhões nas bilheterias. 
  • O diretor Michel Hazanavicius sempre quis dirigir um filme mudo. O motivo se deve ao fato de que muitos dos seus atores e cineastas favoritos foram desse período do cinema. 
  • O roteiro levou quatro meses para ficar pronto. O diretor fez uma intensa pesquisa sobre a era do cinema mudo e estudou as técnicas utilizadas nos filmes dessa época como forma de trazer o máximo de realismo para o seu filme. 
  • Na cerimônia do Oscar 2012, ''O Artista'' foi o grande favorito da noite, ao lado do filme ''A Invenção de Hugo Cabret''. Recebeu 10 indicações ao Oscar e foi o vencedor de cinco categorias: ''Melhor Filme'', ''Melhor Diretor'' ''Melhor Ator - Jean Dujardin'', ''Melhor Trilha Sonora'' e ''Melhor Figurino''. Foi indicado ainda para ''Melhor Atriz Coadjuvante - Bérénice Bejo'', ''Melhor Roteiro Original'', ''Melhor Fotografia'', ''Melhor Direção de Arte'' e ''Melhor Edição''. 

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