O Escândalo (2019) - Um choque de realidade necessário!


 Por: Rudnei Ferreira


No dia 8 de Março, como bem sabemos, é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Um dia importante para celebrar os direitos que as mulheres tem na sociedade. E que direitos são esses? Os direitos perante a sociedade de serem respeitadas de todas as formas possíveis e imagináveis. Para mim, esse dia não passa de mais uma data comemorativa, já que o correto é que todas as mulheres merecem respeito e direitos iguais todos os dias, seja no trabalho, em casa, na rua ou onde quer que elas escolham ir ou ficar. Mas porque estou citando o Dia Internacional da Mulher? Simples. Porque infelizmente esse dia não mudou em absolutamente nada a maneira como as mulheres são vistas e tratadas pela sociedade. Muitas até hoje se submetem a situações desagradáveis como a violência, tanto física quanto verbal, além do machismo tóxico, cuja a função é denegrir a imagem feminina. Junto com esse machismo tóxico, vem um dos atos mais sujos e repugnantes cometidos contra uma mulher: o assédio sexual, que em muitos casos culmina em algo ainda mais repugnante: o estupro. É através dessa abominação que a mulher é tratada como objeto. E o pior, muitas delas ainda se sentem culpadas por terem passado por tamanho ato sujo. O mais revoltante disso tudo é que várias aceitam passar por isso para entrar ou para se manter em um emprego ou simplesmente para manter um relacionamento abusivo. A maioria não tem culpa, já que não tem escolha, movidas pelo medo e o receio de denunciar, por exemplo. 

Um caso real que apresenta muito dessas lamentáveis condições em relação as mulheres ocorreu em meados dos anos de 2014 a 2016 envolvendo o até então presidente e chefe do canal Fox News, Roger Ailes, falecido em 2017, cuja a sua figura foi associada a várias denúncias de assédio sexual por parte das funcionarias que trabalhavam na emissora. Um escândalo que causou uma imensa polêmica e balançou as estruturas do grupo Fox Television na época. Uma história de absurdos revoltantes, injustiças mas também justiça, que ganhou as telas do cinema em 2019 no correto ''Bombshell'', ou como ficou conhecido aqui no Brasil, ''O Escândalo'', filme produzido e dirigido por Jay Roach, indicado em 3 categorias do Oscar 2020 e com um trio composto por três das maiores e mais talentosas atrizes do cinema na atualidade. 







No ano de 2016, em plena época de eleições, com Donald Trump se candidatando ao cargo de presidente dos Estados Unidos, uma série de denuncias de abuso sexual contra o presidente da Fox News, Roger Ailes (John Lithgow), tomam conta da mídia americana, todas elas incentivadas pela demissão de Gretchen Carlson (Nicole Kidman), apresentadora da emissora. Ao seu lado está a novata Kayla Pospisil (Margot Robbie) e a experiente Magyn Kelly (Charlize Theron), ambas também envolvidas no meio desse escândalo divisor de opiniões. 

''O Escândalo'' não traz todos os detalhes dessa polêmica história que abalou os Estados Unidos a cinco anos atrás. No entanto, ele é um resumo correto e decente na retratação do acontecimento, além de acertar em cheio na crítica social oportuna contra o machismo e o assédio sexual que infelizmente existe nos meios de comunicação, especialmente na Televisão. Afinal, não é de hoje que a figura feminina é sexualizada na tela em prol da audiência e do ibope. Com isso, os realizadores lucram cada vez mais com a exposição desnecessária do corpo e da beleza de suas contratadas. O filme nos mostra o quanto muitas aceitam se submeter, mesmo contra a sua vontade, a essa exposição, tudo para manter o seu emprego e os benefícios adquiridos, chegando inclusive a fazer ''certos favores'' aos seus chefes e patrões para se manter. Algo humilhante e absolutamente revoltante. E ''O Escândalo'' toca fundo nessa questão através das ações dos seus personagens e nos diálogos fortes e incômodos. Incômodo é uma palavra bem empregada para definir a ideia do filme, em um contexto geral. A intenção do roteiro dirigido por Jay Roach é ser desconfortável não apenas para as mulheres, mas principalmente para os homens que enxergam o machismo e o assédio como algo perfeitamente normal. O filme quer mostrar o quanto tais ações são abomináveis, colocando o espectador no lugar das vitimas desses abusos, inclusive mostrando fotos e relatos verdadeiros das mulheres que sofreram dentro da emissora com as supostas investidas com cunho sexual de Roger Ailes e o denunciaram. É um filme sugestivo, que não exibe nada exatamente explicito. Somente a simples ideia do que essas mulheres passaram já é revoltante e chocante por si só. A obra retrata outro tipo de abuso que é o preconceito homofóbico vivido por uma personagem lésbica, deixando claro que esse tipo de abuso também é revoltante e extremamente grave.  







''O Escândalo'' conta com um bom trabalho técnico e um competente design de produção. Graças ao excelente trabalho de cabelo, maquiagem e figurino, as caracterizações de Nicole Kidman, Charlize Theron, Margot Robbie e John Lithgow impressionam pelas semelhanças físicas e visuais das atrizes e do ator com as personagens e o personagem reais que eles interpretam. Excelente e bem bolado também é o estilo adotado pela direção para os planos de câmera, com leve movimentação frenética e pequenos zoons nas expressões faciais dos personagens, o que dá ao filme um tom de documentário ou de matéria desenvolvida para a televisão. O filme tem uma boa Mise en Scene entre atores e os cenários, tornando crível a reconstituição do ambiente que retrata a emissora e os seus funcionários. A montagem mescla muito bem imagens de arquivo e dramatização, dando ao filme o realismo e a seriedade necessários. 

O trio principal está comprometido em entregar da melhor maneira possível as características físicas/visuais e os dramas de suas personagens com elogiáveis atuações. O roteiro dá a cada uma delas o seu momento em cena, mesmo que não exista um profundo desenvolvimento de roteiro para suas figuras. Como a trama resume os pontos mais importantes e polêmicos da história real, o que sabemos sobre elas é o básico exigido para compreender a narrativa, seus dramas e motivações. Mesmo assim, as três estão ótimas, principalmente Charlize Theron e Margot Robbie, cujas situações vividas por elas ganham mais importância dentro do filme, o que justifica as indicações ao Oscar de Melhor Atriz para Charlize e Melhor Atriz Coadjuvante para Margot. A atuação de John Lighgow não tem nada de impressionante. Contudo, a performance do ator convence o suficiente para que seu personagem e suas ações sejam tão polêmicos e detestáveis.  




Embora faça um resumo dos polêmicos acontecimentos em torno da história real, ''O Escândalo'' representa a incansável luta contra o preconceito, o machismo e o assédio que infelizmente ainda fazem parte da realidade de vida de muitas mulheres. É um choque de realidade necessário e oportuno para os dias de hoje que precisa ser direcionado aqueles que contribuem com essa infeliz realidade. Claro que nem todo mundo pensa igual, portanto, nem todo mundo se conscientiza  da gravidade dos temas abordados pelo filme, preferindo fechar os olhos para um problema tão sério. No entanto, a mensagem é bem clara, e o filme faz questão de expor. A esperança é que um dia tudo seja diferente, em uma sociedade cujo o respeito e a dignidade sejam prioridades. 

Nota: ★★★★★★★★ 8




O ESCÂNDALO (BOMBSHELL - 2019) - Drama, 108 minutos. PRODUZIDO E DIRIGIDO POR: Jay Roach. ELENCO: Charlize Theron, Nicole Kidman, Margot Robbie, John Lighgow. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 70%



CURIOSIDADES: 
  • A Annapurma Picures, produtora de filmes fundada por Megan Ellison originalmente seria a responsável por financiar e produzir o filme de Jay Roach. No entanto, ela desistiu do projeto, sem uma explicação oficial, duas semanas antes das filmagens começarem. Algumas fontes afirmam que o motivo da desistência foi o orçamento do filme que seria alto. 
  • Além de receber indicações ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, o filme também foi indicado ao Oscar de Melhor Cabelo e Maquiagem

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