Falcão e o Soldado Invernal (2021) - Análise - A Marvel preserva com maestria o legado do Capitão América em uma ótima série!

 


Por: Rudnei Ferreira 


Não é surpresa para mais ninguém que a Marvel, uma das maiores editoras de histórias em quadrinhos da história, se consolidou também como uma das maiores gigantes do entretenimento no cinema. Como bem sabemos, tudo começou a treze anos atrás, quando em 2008, o primeiro ''Homem de Ferro'' foi lançado. O longa dirigido por Jon Favreau e estrelado por Robert Downey Jr. foi um grande sucesso de público e crítica, dando origem a um universo compartilhado fantástico, contando as origens de alguns dos maiores super-heróis da Marvel e unindo seus filmes entre si com muita inteligência e criatividade, até finalmente colocar todos esses heróis juntos para dividir a tela nos quatro filmes dos Vingadores. Atualmente contando com um total de 23 filmes, as produções cinematográficas do Marvel Studios arrecadaram muito dinheiro para os cofres da Disney, tornando-se uma das franquias de filmes de maior sucesso na história da sétima arte. 

Com o lançamento do serviço de Streaming da Disney chamado ''Disney +'' ou ''Disney Plus'', uma das grandes ambições da empresa do Mickey era repetir esse sucesso dos cinemas também na televisão. ''Wandavision'' foi a primeira investida do Marvel Studios em produções televisivas, dando continuidade a história desse universo de super-heróis depois de ''Vingadores: Ultimato''. E não deu outra: a super produção estrelada por Elisabeth Olsen e Paul Bettany foi um sucesso avassalador de público e crítica, o que encorajou o Marvel Studios a prosseguir com mais uma produção para a TV. É ai que chegamos a ''Falcão e o Soldado Invernal'', que assim como a série anterior, também continua os acontecimentos depois de ''Ultimato'', só que agora menos fantasioso e mais sério e realista. E mesmo que seja uma série curta, com apenas seis episódios que dão muito mais a sensação de estarmos assistindo a um telefilme de longa duração, a produção se destaca como mais um grande acerto da Marvel e da Disney sem nenhum exagero ao afirmar isso. 






A trama de ''Falcão e o Soldado Invernal'' se passa pouco tempo depois dos eventos de ''Vingadores: Ultimato''. Temendo não ser capaz ou digno de tamanha responsabilidade que lhe foi concedida, Sam Wilson (Anthony Mackie) deixa de lado o escudo do Capitão América e decide continuar combatendo o crime como o Falcão. Ao reencontra Bucky Barnes, o Soldado Invernal (Sebastian Stan), ambos terão de unir forças para impedir que uma organização terrorista de super soldados inicie seus planos contra o governo americano e a humanidade em geral. 

A trilogia do Capitão América composta pelos filmes ''O Primeiro Vingador'' (2011), ''O Soldado Invernal'' (2014) e ''Guerra Civil'' (2016) conta com alguns dos melhores filmes de todo o Universo Cinematográfico Marvel (MCU), sendo que ''Capitão América: O Soldado Invernal'' é até hoje o meu filme favorito produzido pelo Marvel Studios. E para a minha alegria, ''Falcão e o Soldado Invernal'' vai pelo mesmo caminho desse filme e da trilogia em geral. Com uma trama séria, trazendo um clima digno dos melhores filmes de ação e espionagem, a série de seis episódios conta com um roteiro ágil, bem elaborado e muito imersivo, além de personagens memoráveis e interessantes, com destaque para a dupla de protagonistas. O humor típico da Marvel está presente, porém, nos momentos certos e pontuais, sem ser extravagante como em outras produções do estúdio. Indo um pouco além de ser apenas mais uma adaptação de histórias em quadrinhos e mais um exemplar desse universo compartilhado com muitas referências, a história trabalha com temas reais e muito relevantes, o que ajuda ainda mais o envolvimento e investimento do público. 

Ao mostrar o povo americano elegendo um novo Capitão América nos seus moldes do herói perfeito para preencher um espaço vazio, a série aborda o orgulho e a necessidade de heroísmo por trás de um símbolo. Em uma decisão ainda mais acertada, a abordagem do preconceito racial no enredo, em tempos do movimento ''Black Lives Matter'' ou ''Vidas Negras Importam'' é extremamente atual, deixando clara e necessária a representatividade negra. Não é a primeira vez que a Marvel trabalha com esse conceito em suas produções, afinal ''Pantera Negra'' é brilhante e poderoso por justamente dar a merecida importância a essa representatividade e a mensagem sobre o empoderamento negro.  Em certos momentos, os diálogos usam de palavras fortes para fazer uma crítica social dentro da série sobre os moldes impostos pela sociedade de que um negro não pode ser alguém importante, o que é um absurdo sem tamanho. Afinal, quem disse que não podemos ter um Capitão América negro ou qualquer super-herói negro? Até quando a sociedade vai impor que os nossos irmãos negros não merecem ser lembrados por grandes feitos em um lugar de destaque? Ao usar o entretenimento da série para inserir em sua trama essas questões e conceitos, a Marvel sobe mais um degrau da escada da representatividade e a discussão social levantada por ''Pantera Negra'' e outras tantas produções cujo os personagens principais lutam pela causa, assim como muitos que assistem também fazem. 







Em aspectos técnicos, a série também é um prato cheio, com tudo o que tem direito para agradar os fãs. A produção é rica em detalhes, com cenas de ação bem dirigidas, coreografias ágeis e movimentos de câmera frenéticos porém compreensíveis e bem executados que são enriquecidos pela ótima montagem, no melhor estilo do impecável trabalho dos irmãos Russo em ''Capitão América: O Soldado Invernal'' e ''Capitão América: Guerra Civil''. Os figurinos são espetaculares, onde os uniformes dos heróis se destacam bastante por serem visualmente muito chamativos. Muitos efeitos práticos são utilizados para as cenas, e os efeitos digitais são mínimos e pontuais, em alguns momentos quase imperceptível. Boa cinematografia e um bom design de som completam o espetáculo. 

Anthony Mackie e Sebastian Stan voltam a reprisar os seus personagens dentro do Universo Cinematográfico Marvel, agora como os protagonistas. E os dois se saem muito bem. O roteiro dá a ambos os personagens mais desenvolvimento, explorando os dramas familiares e pessoais do Falcão e os traumas do passado do Soldado Invernal. Quando estão juntos, a química entre eles é excelente, sendo divertido ver as farpas trocadas e os laços de amizade se fortalecendo. E mesmo quando não estão dividindo a tela juntos, eles ainda assim protagonizam sequências memoráveis. Os coadjuvantes também tem a sua contribuição para a história. Emily VanCamp e Daniel Bruhl são outros dois conhecidos pelos fãs. Ela retorna cheia de surpresas e ele é o vilão redimido disposto a ajudar, o que rende momentos bem interessantes. Carl Lumbly, mesmo com poucas cenas, se destaca por causa dos seus diálogos fortes e realistas. Adepero Oduye interpreta a irmã do Falcão e é uma personagem agradável e bastaste carismática. O ponto fraco desse elenco é justamente o grupo de antagonistas. Digo antagonistas porque não os considero vilões, apenas um seleto grupo de pessoas que lutam pelo o que acham certo, embora os seus métodos sejam um tanto controversos. Tanto a líder interpretada por Erin Kellyman quanto os demais membros não são explorados a fundo pelo roteiro dos episódios, o que faz com que o público até entenda as suas motivações mas não se envolva emocionalmente por sua causa. E por último, o personagem de Wyatt Russell se aproveita da imagem de um ícone, porém se preocupa mais em ser o que as pessoas querem que ele seja do que se preocupar com o que ele mesmo quer. O ator se entrega ao personagem e ganha facilmente a antipatia do público, o que propositalmente já era o esperado por ele. Não entendam mal: o elenco não é ruim, longe disso. O que quero dizer é que alguns se destacam mais do que outros. 





A Marvel acertou mais uma vez e faz de ''Falcão e o Soldado Invernal'' um entretenimento de primeira, cujo os seus maiores méritos é preservar todo um legado em torno da imagem do Capitão América, mas que ainda assim sabe andar com as próprias pernas ao contar uma história nova e tão legal quanto. Os fãs do MCU muito provavelmente sairão satisfeitos ao final do último episódio, o que faz com que a série seja um ótimo tempo investido. Com um encerramento satisfatório, o Marvel Studios mantém a sua tradição em trazer uma cena pós-créditos que irá deixar os fãs ansiosos pelo que vem pela frente em futuras produções do estúdio, sejam elas na TV ou no cinema. Um programa imperdível para os fãs e admiradores desse rico universo das adaptações dos quadrinhos. 

Nota: ★★★★★★★★★ 9



FALCÃO E O SOLDADO INVERNAL (THE FALCON AND THE WINTER SOLDIER - ORIGINAL DISNEY + - 2021) - Ação/Aventura. DURAÇÃO: 6 episódios de 40 a 50 minutos cada. CRIADA POR: Malcolm Spellman, com roteiro baseado na obra de Stan Lee, Gene Colan, Joe Simon e Jack Kirby. ELENCO: Anthony Mackie, Sebastian Stan, Erin Kellyman, Emily VanCamp, Wyatt Russell, Daniel Bruhl, Adepero Oduye, Carl Lumbly, Don Cheadle, Florence Kasumba. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 89%


CURIOSIDADES: 

  • A série faz parte da chamada ''Fase 4'' do Universo Cinematográfico Marvel, que ainda inclui produções como ''WandaVision'', a série ''Loki'' e o filme solo da ''Viúva Negra''. 
  • As filmagens começaram em outubro de 2019 na cidade de Atlanta, Geórgia e mudaram para a República Tcheca em março de 2020. Pouco tempo depois, a produção foi suspensa por causa da Pandemia da COVID-19. De volta a Atlanta, as gravações retornaram em setembro de 2020. 
  • O orçamento final por cada episódio da série foi de 25 milhões. 
  • O Blip, que é mencionado pelos personagens em alguns momentos da série, foi o nome dado para o estalar de dedos do vilão Thanos em ''Vingadores: Guerra Infinita''. No roteiro de ''Falcão e o Soldado Invernal'' é mostrado que o mundo ainda tenta se adaptar com as consequências desse evento. A intenção dos realizadores foi criar um paralelo entre o Blip e a pandemia da COVID-19, onde em ambos os casos, a humanidade tenta se reorganizar em meio ao caos causado por um evento traumático. 

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