Soul (2020) - Análise - A Pixar e a sua brilhante capacidade de nos impressionar e nos emocionar mais uma vez!


 Por: Rudnei Ferreira 


Nos dias atuais, é mais do que seguro afirmar que a Pixar é uma das maiores referências quando o assunto é o cinema de animação. Claro que possui os seus deslizes, como ''Carros 2'' e ''O Bom Dinossauro'' dois dos longas mais fracos que já foram produzidos pelo estúdio até agora. Porém, a empresa de animações que hoje pertence a casa do Mickey é também a responsável por verdadeiras obras-primas para o gênero como é o caso de ''Wall.e'', ''Viva: A Vida é Uma Festa'', ''Divertidamente'' e o meu favorito ''UP - Altas Aventuras'', isso sem mencionar a trilogia ''Toy Story'', cujo os três filmes são ótimos. Com um total de 22 filmes lançados até agora, eis que essa maravilhosa fábrica de grandes obras animadas nos brinda com mais um de seus triunfos com o belíssimo ''Soul''. 

Lançado no dia 25 de dezembro de 2020, o filme de animação dirigido pelo talentoso Pete Docter (de ''Divertidamente'' e ''UP-Altas Aventuras) foi um entre tantos longas metragens que sofreram com a crise provocada pela pandemia do Corona vírus (COVID-19), portanto, não foi visto nas grandes telas dos cinemas mundiais, sendo lançado diretamente pela plataforma de Streaming da Disney, o ''Disney +'' ou ''Disney Plus''.  Embora deva ter sido fascinante poder assistir ao longa em uma tela gigante, a experiência de vê-lo em casa não diminui em nada a sua qualidade e o nosso fascínio, já que ''Soul'' é espetacular em todos os aspectos que você possa imaginar, resultando em um dos melhores filmes de 2020. 







O longa nos conta a história de Joe (voz de Jamie Foxx), um professor de música que é simplesmente apaixonado pelo cenário musical, especialmente pelo Jazz. Porém, frustrações e desilusões ao seu redor fazem com que ele não tenha exatamente a vida que sempre sonhou. Depois de sofrer um acidente, ele acaba vivendo uma experiência espiritual fora do seu corpo e conhece novos amigos, entre eles a jovem 22 (voz de Ivana Wong), uma alma que simplesmente vive sem um propósito para a sua existência. Conforme os seus laços de amizade vão crescendo, a dupla embarca em uma emocionante jornada entre as duas realidades para descobrirem juntos muito mais do que eles poderiam imaginar sobre a vida. 

Ao assistir aos trailers ou ver os materiais de divulgação, muitos podem achar que ''Soul'' é mais um entre os vários trabalhos da Pixar voltados para o público infantil, como foi o caso por exemplo da trilogia ''Carros''. Mas acreditem, estão bem enganados em relação a isso. Claro que o filme tem sim elementos, principalmente visuais, que com certeza irão atrair os pequenos. Porém, o roteiro é de uma complexidade, profundidade e criatividade tão fascinantes que muitos dos temas abordados no decorrer da história são mais voltados para os adultos do que para as crianças, fazendo com que ''Soul'' seja um dos filmes mais maduros da Pixar. Não é exatamente inovador, já que seu enredo lembra um pouco do que pode ser visto em ''Divertidamente'', mas com outra proposta. Indo além da sua animação deslumbrante e seus personagens interessantíssimos, o filme fala de crise existencial, busca de identidade, propósitos na vida e reflexões profundas sobre o que é viver, em um contexto geral. 

 O roteiro ainda brinca com a ideia de onde pode surgir as motivações para os nossos planos, nossa personalidade e nossas vocações de vida. A grande reflexão que o filme quer passar é justamente essa: qual o propósito da nossa existência? O que realmente faz a vida valer a pena? São os nossos sonhos que nos movem ou são as coisas simples a nossa volta que nos impulsionam? cabe a cada um que parar para refletir sobre essas questões encontrar a resposta. Como podem ver, ''Soul'' vai muito além de ser apenas um desenho para crianças. Tem todo um conteúdo muito bem trabalhado, complexo e fascinante, feito com uma qualidade absurda, uma inteligência que impressiona e uma criatividade sem tamanho. Tudo isso foi desde o primeiro ''Toy Story'' de 1995 o segredo do sucesso da Pixar, porém aqui, vemos isso em outro patamar de qualidade. 






 

Além de contar com um roteiro primoroso, o longa é mais um exemplar da Pixar que acerta em cheio na qualidade de sua animação. A construção de mundos é deslumbrante. Indo para o cenário mais realista e urbano, o filme impressiona pela riqueza e o capricho com os detalhes, recriando as ruas, os estabelecimentos, as casas, prédios, arvores e veículos com muito primor técnico, revelando um realismo de cair o queixo que beira a perfeição. Já as sequências que se passam no mundo das almas são bem coloridas e vibrantes, cheia de aspectos técnicos muito criativos e ideias geniais, como resultado da criatividade infinita de seus realizadores. Todos os personagens são muito bem animados, com fluidez,  expressividade e fisicalidade impressionantes.  Os diálogos são muito bons, onde alguns revelam o bom humor típico da Pixar. Já outros chegam a arrepiar por causa de suas frases fortes e realistas. Como o Jazz faz parte da vida do protagonista, a trilha sonora arrasa, dando uma atenção especial a esse gênero musical. A movimentação e os planos de câmera estão na medida certa, sem contar que mesmo que se trate de uma animação computadorizada, a fotografia é absolutamente linda. 

Como sempre, a Pixar criou personagens tão bons que o público facilmente se envolve com cada um deles. Joe não é profundamente explorado pelo roteiro, sendo que alguns diálogos e cenas em flashbacks fazem com que o público saiba o suficiente sobre ele. Mas ele tem carisma e presença suficientes para segurar o filme e a atenção do público, além do bom trabalho de voz do ator Jamie Foxx que dá muita energia e personalidade para ele. A personagem 22 é uma ótima coadjuvante, com uma personalidade forte, irônica e divertida. E assim como Foxx, Ivana Wong faz um trabalho competente e esforçado para dar vida a ela e todas as suas características. Grahan Norton funciona como alívio cômico, cujo seu personagem tem os seus momentos para arrancar algumas risadas. Phylicia Rashãd injeta diálogos mais emotivos para a mãe do protagonista e Angela Bassett, incrível sempre, esbanja presença e inspiração para a cantora Dorotheas Williams, mesmo que ela apareça pouco. Com um elenco tão talentoso e empenhado, cujos personagens foram moldados de maneira precisa para suas interpretações, a não ser que você seja uma criança ou vai assistir ao filme com uma criança, não tenho outra escolha se não recomendar que ''Soul'' seja visto no idioma original, pois a experiência é realmente recompensadora. 

''Soul'' é maravilhosamente deslumbrante, tanto em questão de roteiro quanto em questão da qualidade magnifica de sua animação. Poético, reflexivo e imersivo, tem os seus momentos divertidos, como qualquer obra do estúdio, mas também emociona por causa do impacto da sua mensagem e das reflexões que provoca sobre o seu conteúdo. Mais uma obra-prima da Pixar, que mantém intacto o seu talento e a sua capacidade encantadora de nos fazer rir e se emocionar. 

Nota: ★★★★★★★★★ 9



SOUL (2020) - Animação/Drama/Aventura, 101 minutos. ESCRITO E DIRIGIDO POR: Pete Docter. COM AS VOZES DE: Jamie Foxx, Graham Norton, Ivana Wong, Angela Bassett, Phylicia Rashãd, Rachel House, Alice Braga. CLASSIFICAÇÃO: Livre. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 95%


CURIOSIDADES: 

  • ''Soul''  já entrou para a história da Pixar como a primeira animação do estúdio a ser protagonizada por um negro. Durante o desenvolvimento do roteiro, o diretor Pete Docter e o co-roteirista Mike Jones evitaram trazer na tela qualquer tipo de estereótipo racista durante a criação do protagonista e os demais personagens humanos que aparecem na história. 
  • Além disso, o filme foi a primeira produção da Pixar que não foi para os cinemas, sendo lançado diretamente no Streaming do ''Disney +'', como consequência das salas de cinema fechadas em decorrência da pandemia do Corona vírus. 
  • Para animar as várias almas vistas no filme, a Pixar recorreu a um material chamado Aerogel, uma espécie de material leve feito com camadas de gel. De acordo com os realizadores, o uso do material foi para servir de modelo para as pequenas almas que não poderiam ter a aparência de um fantasma, muito menos a de uma pessoa viva.  
  • O filme foi um dos indicados ao Oscar de 2021 na categoria de ''Melhor Animação''. 






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