Meu Pai (2020) - Análise - Um drama familiar realista e emocionante, marcado pela atuação colossal de Anthony Hopkins!
Por: Rudnei Ferreira
Muito provavelmente algum leitor desse texto conviveu ou convive com algum familiar, parente ou conhecido que sofre com o chamado Mal de Alzheimer. Essa enfermidade ocorre em sua maioria com pessoas de maior idade, nesse caso idosos. Digo em sua maioria porque existem sim casos de pessoas mais jovens que são vitimas da doença. É um período difícil tanto para o enfermo quanto para aqueles que acompanham esse drama de perto. A pessoa com o Mal de Alzheimer sofre constantes lapsos de memória, muitas vezes se esquecendo de tudo a sua volta, até chegar o ponto de não saber quem ele mesmo é. Não sou um especialista no assunto e muito menos quero dar uma de especialista aqui, mas, é possível ter uma noção dos transtornos que essa doença podem causar.
''Meu Pai'', filme baseado na peça teatral escrita por Florian Zeller, com roteiro e direção do próprio, traz o veterano Anthony Hopkins com uma atuação espetacular dando vida a um homem que convive com esse drama. Aclamado pelo público e pela crítica, o longa foi um dos grandes indicados ao Oscar de 2021, muito merecidamente, pois ''Meu Pai'' é um filme incrível e que com certeza merece ser visto.
O longa nos conta a história de Anthony (Anthony Hopkins), um idoso de 81 anos que se recusa a receber ajuda da sua filha Anne (Olivia Colman) que por outro lado preocupa-se em deixá-lo sozinho por conta da velhice e dos sinais do mal de Alzheimer que ele vem apresentando. Porém, conforme o tempo passa, Anthony começa a sofrer com a demência e testemunha coisas estranhas ao seu redor, fazendo com que ele questione as pessoas que estão a sua volta e até a sua própria sanidade mental.
Diferente de outros filmes que mostram pessoas convivendo com indivíduos vítima de uma doença, ''Meu Pai'' conta a sua história através do ponto de vista do personagem de Anthony Hopkins que é o doente e aos poucos encara as consequências de sua condição mental. O roteiro deixa no espectador a constante sensação de estranheza e confusão e isso é proposital. A intenção é trazer realismo ao explorar a incômoda situação vivida pelo protagonista de maneira que mostre como uma pessoa que passa por essa condição se comporta e como ela vê o mundo ao seu redor. A mente fica confusa e cheia de dúvidas. É assustador e ao mesmo tempo comovente de ver como o personagem se comporta e encara a realidade estranha que está diante dele, mesmo que ele seja orgulhoso demais e se recuse a acreditar que precisa de fato de ajuda. Ao acompanhar sua trajetória, o espectador é convidado a pensar e refletir sobre o tema, imaginando o quão triste deve ser passar por isso e ir aos poucos se esquecendo de tudo e todos, além de si mesmo. Embora o roteiro pareça estranho, todas as peças vão se encaixando para no final podermos entender toda a resolução da trama e os dramas de seus personagens.
O design de produção ajuda a traduzir muito bem a sensação de estranheza e confusão proposta pelo roteiro, ilustrando os sentimentos e a condição dramática que o protagonista vive. A câmera foca bastante em cada detalhe dos ambientes, que conta com uma mise-en-scène belíssima. Esse foco nos detalhes é muito importante pois a cada mudança de cena, alguma diferença nos cenários é percebida, tanto pelo protagonista quanto pelo público, contribuindo para a confusão visual proposital do longa. Méritos e elogios também para o ótimo trabalho da montagem nesses momentos. A trilha sonora é comovente, usando a música lírica ouvida por Anthony Hopkins como tema para ilustrar toda a carga dramática e sensível das cenas vividas por ele e a sua filha interpretada por Olivia Colman, em um clima tenso e bem comovente. Florian Zeller, com uma direção consistente e segura, explora tudo isso com muito talento e sensibilidade, fazendo com que o espectador, especialmente aqueles que vivem com uma situação semelhante, se emocione e sinta de verdade o que o filme quer passar. E mesmo aqueles que nunca passaram por algo parecido podem sair comovidos e realmente tocados com a história que acabaram de presenciar na tela.
Anthony Hopkins é a grande estrela desse drama comovente e o ator entrega uma atuação convincente, realista e colossal, provavelmente uma das melhores de sua carreira. Ele traduz suas características e seus dramas familiares com tanto empenho e dedicação que faz o público por um momento acreditar que o ator realmente é uma pessoa que sofre com tais condições de saúde. Sua fisicalidade, seus diálogos, seus trejeitos, a maneira como ele se movimenta e se comunica é impressionantemente real e o veterano ator nem precisa se esforçar para nos convencer, já que o seu imenso talento sempre foi algo inquestionável e aqui não poderia se esperar menos do seu brilhante trabalho na arte de atuar. Olivia Colman é outra que arrebenta na atuação e responde a altura em sua responsabilidade de atuar ao lado do extraordinário ator. Com uma performance sincera, ela transmite para o público a imagem de alguém triste, cansada e esgotada pela situação em que se encontra, tentando achar forças para superar as dificuldades e seguir em frente. Por outro lado, a química entre os dois faz com que o sentimento de pai e filha seja muito palpável e convincente. E no elenco de apoio, Imogen Poots, Rufus Sewell, Olivia Williams e Mark Gatiss tem pouco o que fazer, mas a aparição de seus personagens, de certo modo, tem relevância e importância para o desenrolar da história.
''Meu Pai'' é um emocionante drama que toca fundo no coração do espectador, independente se quem assiste está passando ou já passou pela mesma situação. É um filme dramático e triste, mas ao mesmo tempo é sensível, bonito e emocionante, fazendo o público pensar sobre o que está assistindo. Todo mundo está sujeito em algum momento da vida a viver a mesma experiência. Diante disso, o que realmente importa é ter compaixão, bondade e paciência para encarar tal situação. Não sabemos o que o destino nos reserva para o dia de amanhã, e se no final eu ou você passarmos pela mesma enfermidade, só nos resta esperar que tenhamos ao nosso lado alguém realmente bondoso e que nos ame de verdade. Bem dirigido, bem produzido e com atuações fortes, principalmente do fantástico Anthony Hopkins, esse é um filme para continuar lembrando mesmo depois que acabar.
Nota: ★★★★★★★★★★ 10
CURIOSIDADES:
- Anthony Hopkins e Olivia Colman foram indicados ao Oscar nas categorias de ''Melhor Ator'' e ''Melhor Atriz Coadjuvante''. Ambos já venceram a premiação em outra ocasião. No caso de Anthony Hopkins, ele levou o Oscar de Melhor ator em 1992 pela sua atuação no filme ''O Silêncio dos Inocentes'' (1991) dirigido por Jonathan Demme. Já Olivia Colman foi prestigiada com o Oscar de Melhor Atriz na cerimônia de 2019 por sua performance no filme ''A Favorita'' (2018) dirigido por Yorgos Lanthimos.
- Com ''Meu Pai'', Anthony Hopkins, no auge dos seus 83 anos, conseguiu sua sexta indicação ao Oscar, sendo atualmente o ator mais velho a ser indicado ao prêmio.
Comentários
Postar um comentário