Rosa e Momo (Original Netflix - 2020) - Análise - Um tocante drama sobre amizade e amor!


 Por: Rudnei Ferreira 


A amizade entre uma criança e um idoso não é nenhuma novidade no cinema. Filmes como o brasileiro ''Central do Brasil'' do diretor Walter Salles e até mesmo o encantador ''UP: Altas Aventuras'' da Pixar estão ai para comprovar isso. Entretanto, mesmo sendo um tema conhecido por todos, existem alguns bons filmes, como esses dois exemplos citados, que ainda exploram muito bem essa relação. 

''Rosa e Momo'', no original ''La Vida Davanti a Sé'' é mais uma grande recomendação que traz essa temática em seu enredo. Uma produção original Netflix, o filme escrito e dirigido por Edoardo Ponti é baseado no livro escrito por Romain Gary e traz em seu elenco Sophia Loren, uma das mais elogiadas e respeitadas atrizes italianas de todos os tempos. Longe das telas desde 2014, a veterana atriz brilha nesse tocante drama da plataforma vermelha de Streaming. 





O filme se passa na Itália, onde Madame Rosa (Sophia Loren), uma sobrevivente dos campos de concentração em Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial, vive os seus dias cuidado de crianças filhas de prostitutas, cuja algumas foram abandonadas por suas mães. Ela concorda, mesmo contra sua vontade, em receber e também cuidar do rebelde Momo (Ibrahima Gueye), um garoto rebelde e órfão que procura sobreviver fazendo algumas escolhas erradas de vida. Aos poucos, os laços entre eles vai aumentando, o que resulta em uma tocante história de amizade e amor. 

Com delicadeza e sensibilidade, o longa trabalha com os dramas pessoais e a história de vida de seus protagonistas, que tem muito em comum, mesmo que a idade entre eles seja grande. Ambos são marcados por uma vida difícil, cheia de dor, sofrimento, com um passado sombrio e lembranças dolorosas. Nem sempre é fácil tentar recomeçar e se adaptar a uma nova realidade pois em alguns casos, certas feridas são difíceis de cicatrizar. E é exatamente sobre isso que a história fala: recomeçar uma nova vida, deixando para trás dores e angústias do passado, mesmo que não seja tão simples, usando o amor e a amizade como a principal fonte de cura. É um filme bem humano, cujos personagens não são apenas meras caricaturas. Pelo contrário, é possível sentir os seus dramas pessoais, suas tristezas e entender suas histórias e suas motivações, o que torna muito fácil a nossa empatia e aproximação por cada um deles. O roteiro é cuidadosamente bem estruturado, com um competente estudo de personagens e situações, em um ritmo envolvente e imersivo. Trata-se de um drama bem conduzido, cuja a história traz elementos narrativos suficientes para prender a atenção de quem assiste. Os personagens, protagonistas ou meros coadjuvantes, são muito interessantes e bem trabalhados, onde todos tem algo a mostrar que vale a pena ver, seja através de um diálogo, de uma ação ou através da boa construção de cada um.





O longa possui uma belíssima cinematografia, cujos planos de câmera e movimentações exploram as belezas naturais dos cenários que servem de locação para a trama. A direção de Edoardo Ponti extrai o melhor das atuações e usa a linguagem cinematográfica a favor da história, como uma forma de ganhar o público já nos primeiros minutos. A trilha sonora é marcante, indo de notas mais alegres e agitadas até as mais tocantes e comoventes. Assim como é o caso da cinematografia, a música tem um papel importante a desempenhar aqui, pois ela é uma representação do estado de espírito que se encontram principalmente os protagonistas. O público brasileiro vai gostar muito de uma determinada cena, muito bonita, delicada e bem realizada diga-se de passagem, onde duas personagens dançam embaladas pelo som de Elsa Soares. É muito legal de ver como uma produção estrangeira faz bom uso de um produto genuinamente brasileiro, rendendo uma das sequências mais adoráveis do filme. Vale mencionar a bela canção cantada pela cantora italiana Laura Pausine, que com sua voz doce e poderosa encanta nosso ouvidos com uma melodia suave e letra poética. 

O elenco dá um show com performances memoráveis. Ibrahima Gueye é uma grande revelação. O ator de apenas 12 anos impressiona com uma atuação forte para sua faixa etária, mas que representa muito bem a imagem de muitos jovens que fazem escolhas erradas de vida para sobreviver. Sem carinho, sem amor e sem cuidados, esses jovens justificam com isso suas ações questionáveis e acabam se perdendo, o que é uma pena. O jovem ator transmite tudo isso com muita verdade e realismo e seu personagem evolui significativamente no decorrer da trama. Embora esteja muito bem em cena, ele tem a imensa responsabilidade de contracenar com uma das maiores veteranas do cinema. Sophia Loren está incrível como uma mulher cansada e que carrega marcas tanto físicas quanto psicológicas em decorrência de ser uma sobrevivente de um passado grotesco, marcado por tanta maldade e crueldade humana. Isso é perceptível principalmente através do seu olhar triste e vazio e suas reações. Quando está em cena, Sophia atrai os olhares para si, com um talento maior que ela mesma. Juntos, protagonizam momentos muito bonitos e comoventes, dignos de algumas lágrimas, em uma relação praticamente maternal entre uma mãe e um filho. Um tenta ajudar o outro para se curarem das feridas do passado, e essa encantadora relação é linda de se acompanhar. O elenco de apoio também esbanja talento, com boas participações de Abril Zamora, Renato Carpentieri e Babak Karimi, cujos personagens são tão interessantes quanto os protagonistas. 

''Rosa e Momo'' é um comovente drama que fala sobre o poder do amor e da amizade para curar feridas profundas e marcantes. Claro, não é tão simples assim se desassociar dessas feridas, mas esses são sentimentos muito importantes para recomeçar. Um filme curto e direto, cheio de significados importantes para a vida. Bem dirigido e com atuações espetaculares, é um filme que merece a sua atenção. 

Nota: ★★★★★★★★★ 9



  
ROSA E MOMO (LA VITA DAVANTI A SÉ - 2020) - Drama, 95 minutos. ESCITO E DIRIGIDO POR: Edoardo Ponti. ELENCO: Sophia Loren, Abrahima Gueye, Abril Zamora, Babak Karimi, Renato Carpentieri, Massimiliano Rossi. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos. NOTA NO ROTTEN     TOMATOES: 92%



CURIOSIDADES:                                                                                          

  •  O longa da Netflix é baseado no romance escrito pelo francês Romain Gary. No livro, toda a trama se passa em Paris. Porém, o filme foi gravado em Puglia, no sul da Itália.
  • O filme marca o retorno da veterana atriz italiana Sophia Loren, de 86 anos,  que estava longe das telas desde 2014 quando estrelou o filme ''Voce Umana''.
  • O diretor Edoardo Ponti é filho da atriz na vida real.    
  • ''Rosa e Momo'' recebeu uma indicação ao Oscar na categoria ''Melhor Canção Original'' pela música ''Io Sì (Seen)'' cantada por Laura Pausini.          

                                                                                                   


                                                                                                                    




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