King Kong (2005) - Análise - A ambiciosa visão de Peter Jackson para um clássico do cinema!

 


Por: Rudnei Ferreira 


Quem nunca ouviu falar no King Kong, não é mesmo? O gigantesco gorila criado por Merian C. Cooper e Edgar Wallace apareceu pela primeira vez nas telas do cinema no clássico filme de 1933 que levava o nome da criatura. O animal despertou fascínio no público, o que o fez se tornar um grande ícone da sétima arte. Mesmo que exista alguém que nunca tenha assistido a esse clássico, com certeza já ouviu falar. Os anos e as décadas se passaram e o enorme símio ressurgiu nas telas em 1976 no longa dirigido por John Guillermin, porém, sem o mesmo sucesso de público e crítica do clássico de 1933. 41 anos depois, em 2017, chegou a vez do diretor Jordan Vogt-Roberts recontar as aventuras do gorila gigante em ''Kong: A Ilha da Caveira'', abrindo um espaço para que futuramente ele se encontre em um épico confronto contra o rei dos monstros Godzilla. Ou seja, várias histórias e versões foram contadas e abordadas sobre essa criatura incrível que deixou o seu nome gravado na história do cinema para sempre, já que vez ou outra, sua história é recontada e revisitada. 

Mas deixando todos esses filmes de lado, vamos focar naquele que pode ser considerado o melhor filme do personagem desde o clássico da década de 30. ''King Kong'' longa de 2005, é uma super produção dirigida por ninguém menos que Peter Jackson, o gênio por trás de uma das melhores trilogias do cinema: ''O Senhor dos Anéis''. A visão de Jackson para essa clássica história de aventura e romance no melhor estilo ''A Bela e a Fera'', cheia de efeitos visuais impressionantes e um elenco de peso é simplesmente imperdível. 





A trama de ''King Kong'' se passa em 1933. Ann Darrow (Naomi Watts) é uma jovem atriz de teatro que enfrenta dificuldades para se sustentar, assim como muitos americanos que ainda enfrentavam as consequências que vieram com a crise de 1929. Porém, ela vê uma oportunidade de mudanças quando conhece Carl Denham (Jack Black) um diretor de cinema que planeja rodar seu mais novo filme. Para isso, ele e sua equipe viajam até uma misteriosa ilha perdida no oceano pacífico conhecida como ''A ilha da caveira''. Ao chegarem no local, eles se deparam com vários perigos e criaturas assustadoras. Tudo isso os leva ao encontro com alguém ainda mais poderoso e feroz: Kong, um gigantesco e imponente  gorila, dotado de inteligência e muita força e que colocará a vida de todos eles em perigo. 

O principal motivo que fez com que Peter Jackson comandasse um longa do icônico Gorila é o fato que o diretor Neozelandês sempre foi fascinado pelo mito do King Kong, além de ser um fã assumido por clássico filme de 1933. E toda essa paixão e fascínio fica evidente na tela ao longo das mais de 3 horas de duração do seu filme. Peter Jackson tem um cuidado e atenção aos detalhes simplesmente admiráveis, transformando o filme em um de seus projetos mais pessoais e ambiciosos depois da trilogia ''O Senhor dos Anéis''. Mesmo que a ideia seja apresentar a sua visão para a história, tomando algumas liberdades, o diretor se preocupa em manter a essência e o espírito presentes no filme da década de 30. Ao comparar as duas obras, é possível encontrar várias referências e homenagens por parte de Peter Jackson, demonstrando o imenso carinho que ele tem com a história e seu protagonista, fazendo dessa versão de 2005 um remake de respeito.

 Uma coisa que sempre achei interessante na história de King Kong é os seus temas. Ao contar a trama de um gigantesco animal selvagem que mora em uma ilha pré-histórica e se apaixona por uma bela donzela, Merian C. Cooper e Edgar Wallace nos mostra que até mesmo o mais bruto dos seres pode se render ao amor verdadeiro, fazendo desde o mais poderoso dos sentimentos. Independente da espécie, todos tem a capacidade de amar. Fica bem clara também a crítica social aos males presentes na sociedade e na própria natureza humana, que se beneficia da ganância, da cobiça, da maldade e da arrogância para conseguir o que quer, independente de quem vá atingir ou destruir. A ficção e a fantasia são apenas alegorias para gerar discussões sérias em cima desses temas. E Peter Jackson mantém esse material em seu roteiro com a mesma qualidade que o clássico possui. Talvez seja por isso que a história do King Kong tenha feito tanto sucesso e se tornado um verdadeiro ícone mundial, tudo por conta da sua história épica, eletrizante e cheia de ação, mas também poética, contemplativa e delicada.  





A história leva algum tempo para decolar. Isso porque o roteiro gasta um bom tempo para apresentar e desenvolver seus personagens. Até chegar á Ilha da Caveira e consequentemente acontecer a primeira aparição do King Kong, lá se foram 1 hora e 10. Mas para um filme que tem 3 horas e 7 minutos, complexo que Peter Jackson adquiriu depois de dirigir três longos filmes da trilogia ''O Senhor dos Anéis'',  todo esse tempo gasto é importante para estabelecer a premissa do longa. Porém, passado essas primeiras 1 hora e 10, o diretor nos entrega um espetáculo visual com tudo o que se tem direito, o que faz com que a espera valha cada minuto. A criação de mundos que envolve a Ilha da Caveira resulta em cenários deslumbrantes, cheios de uma fauna rica e criaturas assustadoras e exóticas. Os efeitos visuais usados para criar esse mundo fascinante são espetaculares. Claro que em alguns momentos, é notável que tudo foi gravado em tela verde, especialmente na cena onde os personagens humanos fogem de uma manada de dinossauros. Porém, são momentos pontuais que não comprometem o resultado final e nem a diversão que tais sequências proporcionam. 

A ação é muito bem dirigida por Peter Jackson e alguns recursos visuais até lembram a trilogia envolvendo a Terra-Média. Falando em Terra-Média, o diretor faz uso de planos abertos que mostram a grandeza da Ilha da Caveira, movimentos frenéticos de câmera para sugerir a velocidade do King Kong e câmera lenta em algumas cenas de ação mais viscerais, algo que ele também trabalhou em ''O senhor dos Anéis''. E o ápice dos recursos visuais é a criação do King Kong. Imponente e ameaçador, o gigantesco símio impressiona pelo seu visual. Tudo fica ainda melhor com a brilhante performance de captura de movimentos do ator Andy Serkis que traz muita personalidade e realismo as características e movimentos do animal. Serkis também faz uma pequena participação como um personagem humano no filme e mesmo com pouco destaque ainda assim se sai bem.

 Saindo da Ilha da Caveira, a reconstituição de época da Nova York dos anos 30 é fascinante e muito realista, sem contar os figurinos luxuosos, elegantes e muito bem trabalhados que faziam parte dos costumes da época. A fotografia é linda demais e unida aos enquadramentos de câmera do diretor garante algumas cenas que são verdadeiras pinturas de tão belas, graças a tonalidade da paleta de cores. A edição e mixagem de som são bem trabalhadas e de muita importância na ação e nos rugidos ameaçadores do Kong. E a trilha sonora de James Newton Howard transita entre o épico, o dramático e o suave. Em suma, uma verdadeira obra-prima audiovisual. Tudo isso é visto em sequências memoráveis, como a já famosa cena em que Kong escala o Empire State, resultando no icônico, belo e triste final da história. 






Peter Jackson escolheu bem um elenco de estrelas do alto escalão de Hollywood. Naomi Watts rouba a cena por estar no auge da sua beleza. Além disso, sua doçura, inocência e carisma são seus grandes atrativos. Ela é a típica donzela em perigo, mas em nenhum momento é irritante e insuportável como a maioria dos casos de personagens nos mesmos moldes. Não é só pela beleza, mas também pelo talento que ela ganha a atenção do público. Conhecido por atuar em filmes de comédia, Jack Black surpreende em um papel sério e sem nenhum resquício de humor. Ele é o maior antagonista da história e convence com uma boa performance. E Adrien Brody exerce a função do galã que se apaixona pela mocinha. Não é o papel da sua vida, mas o ator não faz feio. O resto do elenco de apoio serve bem ao seu propósito dentro da trama. 

''King Kong'' é um épico grandioso. Um espetáculo audiovisual de encher os olhos e que não deixa a dever em nada se comparado ao clássico filme de 1933. Ambicioso em todos os seus aspectos, é um dos melhores trabalhos da carreira de Peter Jackson desde ''O Senhor dos Anéis''. 

Nota: ★★★★★★★★★ 9




KING KONG (2005) - Ação/Aventura/Fantasia, 187 minutos. / ESCRITO, PRODUZIDO E DIRIGIDO POR: Peter Jackson. - ELENCO: Naomi Watts, Jack Black, Adrien Brody, Andy Serkis, Thomas Kretschmann, Collin Hanks, Jamie Bell, Kyle Chandler, Evan Parke, John Sumner. CLASSIFICAÇÃO: 12 Anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 84%



CURIOSIDADES: 

* Era o desejo de Peter Jackson filmar ''King Kong'' logo depois que ele dirigiu o filme ''Os Espíritos'' de 1996. Porém, devida as complicações para os direitos de adaptações, o diretor Neozelandês decidiu dirigir primeiro a trilogia ''O Senhor dos Anéis''. 

* Howard Shore seria o responsável pela trilha sonora do filme. Ele até chegou a gravar muito material para ser usado na versão final do longa. Porém, diferenças criativas que teve com Peter Jackson fizeram com que ele abandonasse o projeto. James Newton Howard foi o seu substituto e gravou toda a trilha sonora do filme em menos de 2 meses.

* Andrew Lesnie, diretor de fotografia chegou a sugerir a Peter Jackson que o filme fosse todo rodado com uma fotografia preto e branco. A ideia porém foi descartada pelo diretor. 

* Dois modelos dos dinossauros da espécie Brontossauro que pertenciam a versão de 1933 de ''King Kong'' serviram como base e referência para que criaturas similares fossem criadas para a versão cinematográfica de Peter Jackson. 

* Os Tiranossauros que aparecem no filme e entram em combate contra o King Kong possuem três dedos nas patas. Mas de acordo com especialistas, tais criaturas tinham apenas dois dedos. A inclusão de um terceiro dedo foi uma forma de homenagear o dinossauro do filme clássico, além de querer passar a ideia de que os animais sofreram mutações genéticas na Ilha da Caveira. 

* A primeira versão cinematográfica de ''King Kong'' foi lançada nos cinemas em 1933. Como forma de fazer mais uma homenagem, a história do filme de Peter Jackson se passa em 1933. 

* O ator Andy Serkis viajou até a África para estudar o comportamento dos gorilas para poder interpretar o King Kong no filme. O trabalho de captura de movimentos utilizado para o personagem é muito semelhante aquele usado pelo ator para interpretar o personagem Gollum nas trilogias ''O Senhor dos Anéis'' e ''O Hobbit''. 

* A atriz Fay Wray, a estrela principal do filme de 1933 tentou negociar para fazer uma participação especial no filme de Peter Jackson. Infelizmente, a saudosa atriz faleceu antes de começar a gravar suas cenas. No final dos créditos, o diretor dedica o filme em sua memória. 

* O ator Adrien Brody foi a primeira e única escolha para dar vida ao personagem Jack Driscoll no filme. 

* Para dirigir ''King Kong'' foram pagos ao diretor Peter Jackson a quantia de 20 milhões de dólares. Na época, esse foi o valor mais alto já pago a um cineasta até então. 


INDICADO A 4 OSCAR, sendo vencedor em 3 categorias que foram: 

Melhores Efeitos Visuais

Melhor Edição de Som

Melhor Mixagem de Som


INDICADO na categoria: 

Melhor Direção de Arte



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