Estrelas Além do Tempo (2016) - Análise - Uma belíssima e inspiradora história real sobre coragem e persistência!


 Por: Rudnei Ferreira 


A Corrida Espacial é um dos acontecimentos memoráveis que fazem parte da história mundial. Tendo a Rússia e os Estados Unidos como grandes rivais um do outro na busca pela conquista do espaço sideral, o acontecimento teve início em 1957 e se encerrou em 1975, em pleno período da Guerra Fria. Tal período resultou em alguns feitos lendários, como o lançamento do Satélite Sputnik, a missão Apollo-Soyuz e o maior e mais famoso deles: a ida do homem a lua em 1969. 

Durante esses longos anos na corrida pela conquista do espaço, vários personagens importantes fizeram o possível para que a Corrida Espacial se tornasse algo histórico. Entre essa pessoas importantes, três mulheres negras fortes e destemidas deixaram sua marca e contribuíram para o sucesso da maioria dessas missões espaciais. Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson, três mulheres incríveis que juntas, marcaram a história da NASA, quebrando barreiras e preconceitos para provarem seu valor dentro da maior companhia científica espacial do planeta. E é justamente a jornada dessas três brilhantes mulheres que inspira o enredo de ''Estrelas Além do Tempo'', uma cinebiografia tocante e inspiradora baseada no livro de Margot Lee Shetterly. 






O longa se passa durante os anos 60, durante a Guerra Fria, no auge da Corrida Espacial entre os Estados Unidos e a Rússia. Uma equipe de cientistas da NASA precisa encontrar os componentes e a equação correta para conseguirem chegar a vitória americana nessa disputa entre os dois países que querem conquistar o espaço. Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Mary Jackson (Janelle Monáe) e Dorothy Vaughn (Octavia Spencer), três amigas negras matemáticas, funcionárias da companhia científica espacial, podem ser a chave crucial para essa vitória, em uma das maiores operações tecnológicas registradas na história americana e também na história mundial. 

''Estrelas Além do Tempo'' é uma emocionante e inspiradora história real sobre três mulheres tentando provar o seu valor. Para isso, elas precisaram lutar contra o machismo, a descrença e principalmente, contra o preconceito racial, em uma época onde ainda existia a chamada ''Segregação Racial'', o que impedia que brancos e negros pudessem conviver em harmonia uns com os outros, os impedindo de frequentar os mesmos lugares, os mesmos estabelecimentos, as mesmas funções ou que pudessem ter o mesmo convívio social. O roteiro de Allison Schroeder e Theodore Melfi que adapta o livro de Margot Lee Shetterly trabalha muito bem essas questões. É triste de ver conforme acompanhamos a jornada do trio de protagonistas o quanto tal situação era considerada comum na época, onde negros eram vistos com desconfiança e preconceito por causa de sua cor, muitas vezes taxados como inferiores por conta disso. Mesmo que o filme não escancare abertamente o preconceito racial, basta ver as atitudes, os gestos, os olhares e as palavras dos personagens brancos para perceber que tal preconceito ridículo e lamentável realmente existia, mesmo que muitos negassem ou quisessem se enganar em relação a isso. Outra coisa que o filme aborda bem é a maneira como uma sociedade tipicamente machista via a figura das mulheres. Poucas eram aquelas que conseguiam se destacar em um cargo significativo. Os homens se achavam mais capazes e inteligentes, portanto, se consideravam inferiores. E essas mulheres inspiradoras vieram para derrubar tais condutas absurdas, abrindo portas para outras mulheres que buscavam pelos seus direitos de oportunidades em uma sociedade machista e preconceituosa. O roteiro merecidamente glorifica essas mulheres sem ser apelativo, pois dá a elas motivos mais do que suficientes para ganharem nosso respeito e admiração. E a direção de Theodore Melfi, que também comanda o roteiro, possui muita sensibilidade e competência ao enaltecer a figura desse trio de mulheres guerreiras e incríveis. 





O filme merece comentários positivos também para a qualidade de produção. O cenário típico da época, com suas construções, os veículos e os figurinos são bem estabelecidos em cena graças ao excelente design de produção e o departamento de arte que fazem um bom trabalho ao reproduzir com cuidado e atenção a década de 60 nas telas. A montagem faz um bom trabalho ao misturar imagens de arquivos reais com imagens recriadas com o auxílio de efeitos visuais digitais e práticos, dando mais realismo e autenticidade ao filme. O roteiro tem um ritmo leve e envolvente, onde tudo flui com muita naturalidade em um bom nível de imersão. A trilha sonora é composta por vários toques musicais, nos prendendo ainda mais à história e suas personagens, méritos da excelente contribuição do grande compositor Hans Zimmer e o cantor Pharrell Williams.  Um trabalho de produção notável e de muita qualidade que merece aplausos pelo realismo e boa representação cinematográfica.

Para dar vida nas telas a essas três mulheres inspiradoras e admiráveis, seria necessário o talento e dedicação de três grandes atrizes. E é exatamente isso que vemos aqui com as atuações maravilhosas das talentosíssimas Tahaji P. Henson, Janelle Monáe e Octávia Spencer, que estão ótimas como o trio principal. Graças as suas performances entregues, envolventes e cheias de imenso carisma e talento, as personagens rapidamente ganham a simpatia e a torcida de quem assiste ao filme. São exemplos de mulheres batalhadoras, esforçadas e que lutam pelos seus sonhos e pela vontade de deixarem sua marca em algum feito grandioso. Suas atuações são tão boas que fica impossível não torcer pelas suas conquistas, ao ponto de sentirmos imenso orgulho delas quando finalmente alcançam seus objetivos e seus resultados. Não há dúvidas do quanto essas mulheres foram figuras admiráveis e dignas de todos os elogios e aplausos possíveis na vida real. E por conta das performances incríveis dessas três atrizes fenomenais, o sentimento é mais do que garantido. 

O resto do elenco dá vida a personagens menores, mas com relevância e importância para a trama do filme. Porém são interpretados por ótimos atores em boas performances, como é o caso de Kevin Costner, Jim Parsons, Kirsten Dunst e o vencedor do Oscar Mahershala Ali. Esse último, inclusive, protagoniza uma cena linda e digna de lágrimas com Tahaji P. Henson, que envolve a oficialização da relação entre eles. Todos eles, incluindo as protagonistas, interpretam personagens muito reais (literalmente) e bem humanos, com imenso talento e dedicação por parte de todos eles. 




''Estrelas Além do Tempo'' é a belíssima história de três mulheres maravilhosas que lutaram pela igualdade, o respeito e a conquista dos seus sonhos, sendo as vozes daquelas que até então eram silenciadas e esquecidas por trás de um dos maiores eventos da história americana. Inspirador e muito bem feito, é um filme encantador, com uma mensagem poderosa, feminista e humana, mostrando que a conquista do sucesso e da realização de um sonho só depende de nós mesmos. E ninguém pode nos tirar isso quando acreditamos no que queremos.  Um filme imperdível! 

Nota: ★★★★★★★★★★ 10




ESTRELAS ALÉM DO TEMPO (HIDDEN FIGURES - 2016) - Cinebiografia/Drama, 127 minutos. / ESCRITO E DIRIGIDO POR: Theodore Melfi. - ELENCO: Taraji P. Henson, Janelle Monáe, Octavia Spencer, Kevin Costner, Jim Parsons, Glen Powell, Kirsten Dunst, Mahershala Ali, Aldis Hodge. CLASSIFICAÇÃO: Livre. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 93%


CURIOSIDADES: 

* ''Estrelas Além do Tempo'' foi amplamente bem recebido pelo público e a crítica especializada. Além disso, recebeu 3 Indicações ao Oscar em 2017, sendo uma delas a de ''Melhor Filme''. 

* Ao contrário do filme, na vida real, a situação do banheiro que não existia para os negros dentro da base principal de pesquisas espaciais foi vivida por Mary Jackson, que no longa é interpretada pela atriz e cantora Janelle Monáe, e não por Katherine Johnson, vivida por Taraji P. Henson. Na realidade, a verdadeira Katherine Johnson se recusava a usar os banheiros segregados destinado aos trabalhadores negros. 

* Assim como é mostrado no filme, uma das situações envolvendo preconceito racial vividas por Katherine em seu local de trabalho era que seus colegas exigiam que ela utilizasse um recipiente de café separado dos demais. Quando a área de café no escritório é mostrada, o nome ''Chock Full o'Nuts'' é exibido. Isso porque o nome representa uma marca importante dentro da história, já que em 1957, essa marca de café fez parte de uma das primeiras grandes corporações da cidade de Nova York a contratar um executivo negro para o cargo de Vice-Presidente Corporativo. 

* Em uma determinada cena onde Paul Starfford, personagem interpretado pelo ator Jim Parsons, fala com os engenheiros da NASA, é possível ver o rosto de Mark Armstrong entre eles. Mark nada mais é do que o filho do astronauta Neil Armstrong, conhecido por ser o primeiro ser humano a pisar na base da Lua no dia 20 de Julho de 1969, durante a histórica missão da Apollo 11. Mark foi convidado pelos produtores para fazer uma participação especial no filme. 

* A casa usada como locação para representar a residência de Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) na trama do filme, na realidade é considerada uma casa histórica verdadeira localizada em Atlanta. No passado, o local serviu para o encontro de outros grandes nomes que lutaram pelos direitos dos negros como Ralph Abernathy e Martin Luther King. 

* O cantor Pharrell Williams serviu como supervisor da trilha sonora tocada no filme. 

* A atriz Octávia Spencer já havia trabalhado ao lado do ator Jim Parson em um episódio do famoso seriado de comédia ''The Big Bang Theory''. 

O filme traz o encontro e reencontro de grandes atores que já trabalharam ou iriam voltar a trabalhar juntos em uma produção cinematográfica. É o caso de Octavia Spencer e o ator Kevin Costner que já haviam trabalhados juntos no filme ''Preto e Branco'' de 2014. Também é o primeiro encontro de Mahershala Ali e Janelle Monáe que uma ano depois brilhariam juntos no aclamado ''Moolight: Sob a Luz do Luar'', filme vencedor do Oscar de ''Melhor Filme'' e que também deu a estatueta dourada de ''Melhor Ator Coadjuvante'' para Mahershala Ali. 

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