Além da Linha Vermelha (1998) - Análise - Um drama de guerra épico, filosófico e profundo!


 Por: Rudnei Ferreira 


A ''Batalha de Guadalcanal'' foi uma grande batalha travada entre 7 de Agosto de 1942 e 9 de Fevereiro de 1943 na Ilha de Guadalcanal, nas Ilhas Salomão. O conflito foi travado entre as forças aliadas americanas e o império japonês durante a chamada ''Guerra do Pacífico'' no período da Segunda Guerra Mundial. Antes disso, pouco menos de um ano antes, no dia 7 de Dezembro de 1941, o ataque japonês a base naval de Pearl Harbor, no Havaí também fez parte da ''Guerra do Pacífico'' e se tornou tão marcante quanto. Milhares de vidas foram perdidas durante o conflito, tornando a ''Batalha de Guadalcanal'' mais um dos tantos acontecimentos que marcaram a Segunda Guerra Mundial. 

Em 1998, o diretor Terrence Malick trouxe para as telas do cinema uma história fictícia, cujo seus personagens foram colocados para viver tal conflito histórico. ''Além da Linha Vermelha'' traz a direção e o roteiro assinados por Malick e um elenco cheio de grandes astros de Hollywood. Na época, disputou o Oscar com outro filmaço do gênero: ''O Resgate do Soldado Ryan'', dirigido por Steven Spielberg. Embora não seja uma obra-prima igual ao filme do diretor de ''Jurassic Park'' e ''Tubarão'', o longa de Malick é muito bom e consegue se destacar com seu drama de guerra imersivo e tocante. 





Durante a Segunda Guerra Mundial, um grupo de soldados é enviado para a remota Ilha de Guadalcanal como reforço para combater as tropas japonesas que ocuparam o local. Conforme avançam na perigosa missão, vínculos de amizade começam a surgir entre os homens, que tentam encontrar o seu lugar em meio ao conflito. 

Mais do que apenas um drama de guerra que retrata toda a dor e sofrimento do conflito, ''Além da Linha Vermelha'' é um longa sensível, intenso e reflexivo que aborda temas como amizade, amor, união e sobre qual é o papel e o significado de muitos homens diante de uma guerra. Através dos seus personagens marcantes, várias questões são discutidas em meio a pensamentos e ações e o roteiro se preocupa muito mais em falar da condição humana do que da guerra em si. É extremamente realista em mostrar que em uma guerra não existem heróis e não existe glória. As vezes, alguns são taxados como vilões, mas na maioria das vezes, estão lá apenas seguindo ordens, e com certeza não queriam estar vivenciando ou fazendo parte de tais momentos, como uma guerra, onde só existem crueldade sem sentido. É aquela velha questão: onde um monstro morre e onde outro nasce? quais são as razões para tais acontecimentos terríveis acontecerem? existe sempre um porém. No final, a grande verdade é que ninguém nasce com o mal no coração. O ser humano corrompe sua alma e se entrega a maldade muitas vezes porque foi induzido e obrigado a se sujeitar a isso. É fato que existem aqueles que sentem prazer em causar dor e sofrimento. Mas infelizmente, também existem vários exemplos daqueles que são forçados a isso. E é exatamente com todas essas questões que o filme trabalha. Tudo com muita sensibilidade e realismo, deixando o seu conteúdo gravado em nossas mentes muito depois que os créditos finais tomam conta da tela. O passado foi marcado por tais acontecimentos, porém, mesmo nos dias de hoje, isso acontece de forma ainda mais destrutiva e cruel. 





O filme também merece elogios pela sua qualidade técnica. Normalmente, em um filme de guerra, os elementos audiovisuais são bastante aplaudidos e comentados, e com ''Além da Linha Vermelha'' não seria diferente. Isso porque o filme conta com um visual rico e chamativo, onde a cinematografia explora as belezas naturais de cenários reais. A iluminação também é toda natural, dando ao longa um aspecto bem realista. A maneira como o diretor Terrence Malick escolhe filmar os acontecimentos também chama a nossa atenção. Sua câmera acompanha e transita entre as ambientações, seguindo os personagens fervorosamente, como se fosse o ponto de vista de mais um entre tantos soldados que se esgueiram pelo matagal e as árvores. Nesses momentos, a câmera na mão é bastante presente, com seus movimentos intensos. Em outros segmentos, os planos abertos e as tomadas aéreas são espetaculares. Tudo isso resulta em sequências de batalhas viscerais, empolgantes e muito bem conduzidas, graças ao ótimo desempenho da direção e de todos os envolvidos em cena. Tal recurso dos planos de câmera funcionam também para dar ao filme um tom reflexivo e suave, com movimentos leves e que se preocupa com os detalhes da natureza e dos demais ambientes ao redor de todos. As cenas de ação ganham força através dos vários efeitos práticos, contribuindo com a proposta realista do filme. 

E esses aspectos visuais ganham mais riqueza graças ao tom filosófico e até poético presente nos diálogos, principalmente nas narrações em off, que são muito verdadeiros e bem escritos, criados para transmitir sua mensagem com todo o impacto necessário. O trabalho de figurino é competente, bem estilo guerra e a maquiagem surpreende, principalmente nas cenas mais violentas e viscerais. A montagem é eficiente, principalmente na ação e a edição de som, junto com a mixagem de som, garante momentos de tirar o fôlego. Tudo isso traz como resultado uma experiência extremamente imersiva e envolvente. Somos absorvidos e levados para dentro da guerra, junto a esses bravos e corajosos homens. Terrence Malick dá ao seu filme um tom documental fascinante em vários momentos, o que combina perfeitamente bem para um filme de guerra.





O elenco conta com alguns dos maiores nomes do cinema. E todos eles dão vida a personagens marcantes, alguns deles com histórias comoventes e memoráveis. Talvez seja possível ver mais protagonismo no personagem de Jim Caviezel, mas na realidade, todos possuem seu momento em cena para brilhar. Além de Caviezel, somos agraciados com as boas participações de Sean Penn, Nick Nolte, Adrien Brody, Ben Chaplin, John Cuzack, Woody Harrelson, Jared Leto, John C. Reilly e Nick Stahl.  Em participações menores, porém bem significativas, estão John Travolta, George Clooney e Miranda Otto. É um grande elenco, cujo maior propósito é interpretar personagens humanos e realistas. E mesmo que o roteiro não explore a fundo todos eles, o que quase sempre é difícil em um filme de guerra, todos são o perfeito retrato daqueles que tiveram suas vidas modificadas e marcadas por uma guerra devastadora. 

Terrence Malick trouxe em ''Além da Linha Vermelha'' um épico de guerra realista e visceral, como a maioria dos exemplares do gênero, mas também extremamente reflexivo, intimo, poético e sensível sobre um dos conflitos mais destrutivos já vivenciados pela humanidade. É um filme que entrega tudo o que os amantes do gênero tanto apreciam e de quebra ainda traz algo para se pensar ao final da sessão. Pode não ser ''O Resgate do Soldado Ryan'' com toda sua grandeza e magnitude, mas não deixa de ser um filme igualmente bom e recomendado. 

Nota: ★★★★★★★★★ 9





ALÉM DA LINHA VERMELHA (THE THIN RED LINE - 1998) - Drama/Guerra, 170 minutos. / ESCRITO E DIRIGIDO POR: Terrence Malick. - ELENCO: Jim Caviezel, Sean Penn, Nick Nolte, Adrien Brody, George Clooney, Ben Chaplin, John Cusack, Woody Harrelson, John Travolta, John C. Reilly, Jared Leto, John Savage, Dash Mihok, Nick Stahl, Miranda Otto. CLASSIFICAÇÃO: 14 Anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 80%


INDICADO A 7 OSCAR nas seguintes categorias: 

Melhor Filme

Melhor Diretor

Melhor Roteiro Adaptado

Melhor Fotografia

Melhor Edição

Melhor Trilha Sonora

Melhor Mixagem de Som


CURIOSIDADES: 

* Os atores Bill Pullman, Viggo Mortensen, Lukas Haas e Mickey Rourke chegaram a gravar algumas cenas para o filme, porém, suas participações foram cortadas da edição final do longa.

* Tais cenas foram retiradas porque faziam parte da primeira versão do filme que tinha 6 horas de duração. Porém, o diretor reduziu o filme para 2 horas e 50 minutos, por achar a primeira versão extremamente longa. 

* O roteiro do longa é baseado no livro de James Jones que já havia sido adaptado para o cinema em 1964 no filme ''Heróis Para a Eternidade'' do diretor Andrew Marton. 

* Apesar de ser bem realista nas cenas de combate, o filme distorce o comportamento dos japoneses. Para quem não viu o filme ''ALERTA DE SPOILER'' - Na cena onde os soldados invadem o acampamento, os soldados japoneses caem de joelhos. Tal cena jamais aconteceu na vida real, já que eles preferiam lutar até a morte. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Taken (2002) - Análise - Uma minissérie fascinante sobre Alienígenas e a natureza humana!

O expresso Polar (2004) - Análise - Mágico e deslumbrante como o Natal!

Cidade Invisível (Série Original Netflix - 2021) - Análise - O Folclore Brasileiro para adultos!

Spirit: O Corcel Indomável (2002) - Análise - Uma maravilha cinematográfica animada!

Fantasmas do Abismo (2003) - Um incrível mergulho pela história!

Curiosidades e fatos sobre o Oscar - Especial RECOMENDO FILMES!

A Lista de Schindler (1993) - análise - Obra-Prima insuperável de Steven Spielberg!

O Mandaloriano (2019) - Análise - Uma maravilhosa aventura pelo universo de ''Star Wars''!

Liga da Justiça de Zack Snyder (2021) - Análise - O filme que a Liga da Justiça e os fãs mereciam!

OS 10 MELHORES FILMES DE TERROR NA MINHA OPINIÃO