A Saga ''300'' (2007 - 2014) - Análise - Uma épica e sangrenta jornada pela história!
Por: Rudnei Ferreira
Frank Miller é simplesmente um dos maiores autores de quadrinhos de todos os tempos, no mesmo patamar de gênios como Stan Lee e Alan Moore. Entre suas obras de grande sucesso e notoriedade, encontramos ''Demolidor'', ''Batman: The Dark Knight Return'', ''Sin City: A Cidade do Pecado'' e ''The Spirit'', sendo que essas duas últimas já renderam duas adaptações cinematográficas, uma muito boa (Sin City) e outra péssima (The Spirit). Além disso, foi o genial criador de HQs que ficou responsável por trazer sua visão criativa e imaginativa para um dos maiores conflitos da história mundial na HQ ''Os 300 de Esparta''.
Publicada em 1998, a revista em quadrinhos narra o sangrento conflito real conhecido como A Batalha das Termópilas entre o imenso exército persa sob as ordens do tirânico Xerxes e o pequeno, porém decidido e corajoso exército de 300 soldados espartanos comandados pelo Rei Leônidas. Miller teve a ideia de criar a obra depois de assistir ao clássico ''Os 300 de Esparta'', um filme de 1962, o que lhe serviu de inspiração. A obra fez um imenso sucesso e chegou a vencer o Eisner Awards, um prêmio que prestigia o mundo das histórias em quadrinhos, na categoria ''Melhor Minissérie'', já que a obra foi publicada em 5 edições. A qualidade e conteúdo da premiada história despertou o interesse do diretor Zack Snyder que decidiu adaptar a trama dos 300 de Esparta mais uma vez para as telas do cinema. O resultado foi um verdadeiro sucesso de público e elogios de boa parte dos críticos, o que fez com que Snyder fosse bem sucedido, abrindo oportunidades para que o diretor comandasse futuramente outras produções baseadas em quadrinhos, como foi o caso de filmes como ''Watchmen'' (2009), ''O Homem de Aço'' (2013) ''Batman vs Superman'' (2016) e o futuro ''Liga da Justiça Snyder Cut'' (2021).
O filme ainda ganhou uma sequência 7 anos depois, em 2014, chamada ''300 A Ascensão do Império'' e fez um sucesso moderado, um pouco abaixo de seu antecessor, porém, ainda assim, um bom filme e uma boa continuação. Nesse especial, é hora de falar sobre essas duas obras cinematográficas baseadas na aclamada e premiada obra criada por Frank Miller. Obrigado por me acompanhar e boa leitura!
300 (2007) - Ação/Guerra/Fantasia, 117 Minutos. / ESCRITO E DIRIGIDO POR: Zack Snyder. - ELENCO: Gerard Butler, Lena Headey, Rodrigo Santoro, Michael Fassbender, David Wenham, Peter Mensah, Dominic West, Andrew Tierna, Vincent Regan, Tom Wisdom, Andrew Pleavin. CLASSIFICAÇÃO: 16 Anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 61%
Na Antiga Grécia, o corajoso rei de Esparta Leônidas (Gerard Butler) parte de sua cidade com um pequeno exército de 300 corajosos guerreiros com o propósito de deter o imenso poder imperial do maligno e perverso deus-rei Xerxes (Rodrigo Santoro), cuja grande ambição é matar, destruir e conquistar por onde passa. Leônidas e seus bravos 300 armam então uma armadilha em um lugar conhecido como Termópilas, com a intenção de atrair o numeroso exército de Xerxes, dando início a uma das batalhas mais sangrentas e épicas da história.
Para quem já leu ou pelo menos conhece a obra original, facilmente nota a preocupação e o cuidado que Zack Snyder teve para reproduzir na tela todo o estilo narrativo e visual criados por Frank Miller. Desde a primeira a última cena, o diretor entrega um espetáculo visual belíssimo e surpreendente, onde basicamente tudo é muito idêntico a HQ com algumas poucas alterações. A começar pela criação de mundos e ambientações, onde os cenários apresentam a arquitetura típicas da Grécia nos tempos antigos, mas também puxa para o lado da fantasia e da ficção. Com efeitos visuais de primeira, cuja a qualidade impressiona, Snyder sabe mesclar muito bem a cenografia com o fundo de tela verde. O resultado é muito bom e praticamente imperceptível, mesmo que fique claro que determinadas sequências foram gravadas em estúdio diante de um fundo falso. A fotografia é outro recurso que chama a atenção por sua beleza. Com tons levemente escuros que dão espaço principalmente para o amarelo e o laranja, Zack Snyder deixa a sensação visual de algo épico e antigo durante toda a projeção, como uma pintura de um grande artista. Juntando a isso, os enquadramentos de câmera trazem algumas cenas que são de fato como verdadeiras pinturas. Snyder gosta de transitar sua câmera levemente através dos cenários ou ao redor dos personagens, se atentando aos detalhe, além de utilizar constantemente, porém de maneira muito bem feita, o efeito Slow Motion (câmera lenta), algo presente na maioria de seus filmes.
As sequências de ação e batalhas são eletrizantes, estilizadas, empolgantes, violentas e muito bem coreografadas e bem dirigidas. ver esses guerreiros lutando contra seres e criaturas bizarras desenvolvidos através dos bons efeitos visuais e maquiagem é algo realmente fantástico de se ver. Há pelo menos dois desses momentos de ação que são vibrantes por serem filmados em plano sequência, sem cortes de câmera. Dois momentos incríveis e memoráveis, porém, o filme está cheio de sequências memoráveis, cuja a câmera lenta e as boas coreografias chamam a atenção. É um filme bem violento, que não mascara e nem se preocupa em esconder ferimentos graves, desmembramento, assassinato, sangue e mutilações, visto que a câmera foca nitidamente nesses elementos. Mas é uma violência com estilo e bem voltada para o espetáculo visual. Mesmo assim, fica um alerta para os mais sensíveis. E para quem curte nudez e corpos sarados, o filme também é um prato cheio. Há inclusive uma cena de sexo visualmente muito bonita e bem dirigida, onde a fotografia e os planos de câmera tornam o momento romântico, erótico e sensual na medida, sem precisar ser explicito ou vulgar, já que Zack Snyder toma o cuidado de mostrar somente o necessário. Vale ainda a menção aos bons figurinos que compõe o visual dos guerreiros e do vilão, a trilha sonora energética que traz muita energia nas sequências de batalhas e também um tom melancólico e suave nas cenas mais comoventes e dramáticas e na boa edição, que dá ao filme um ritmo muito bom e que nunca fica entediante.
Além do espetáculo audiovisual, o elenco parece que nasceu para dar vida a esses personagens tão marcantes. Gerard Butler encontrou aqui o papel da sua vida, já que depois de ''300'', o ator nunca mais fez nada tão significativo quanto. O astro possui uma presença imponente em cena e excelente boa forma para dar vida a um guerreiro espartano. E mesmo que seus diálogos sejam familiares e tragam os típicos discursos motivacionais que fazem parte de filmes com essa temática épica, o carisma do ator faz toda a diferença. Lena Headey além de estar muito bonita, interpreta bem uma mulher forte e decidida diante de uma sociedade cujo os pensamentos e ações machistas não davam espaço para a representatividade feminina. Mesmo com pouco tempo em cena, é tempo suficiente para a atriz deixar sua marca e sua presença como a imponente rainha espartana. O brasileiro Rodrigo Santoro é outro que aparece pouco, mas graças ao seu talento interpretativo e seu visual sombrio, estranho e ameaçador, a figura sinistra do vilão é bem estabelecida. Aliás, é ele o responsável por protagonizar alguns dos momentos mais bizarros e sinistros do filme. Já o elenco de apoio cumpre seu papel ao interpretar o exercito fiel do rei Leônidas, convincentes em sua lealdade e dedicação ao seu líder. Talvez o ponto mais controverso do filme seja o seu desfecho. Mesmo que o roteiro dê pistas do inevitável, é inesperado pensar que as ações realmente levaram até aquilo. Mesmo assim, não é algo inaceitável, já que a mensagem de coragem e honra ocasionada por esse momento funciona bem nos minutos finais.
''300'' é uma representação fiel e uma bela homenagem de Zack Snyder a obra-prima consagrada de Frank Miller. É um espetáculo audiovisual da primeira a última cena e conta com grandes atuações e uma direção bem inspirada. Violento, empolgante, divertido e marcante, o filme é provavelmente um dos melhores trabalhos da carreira de Zack Snyder. Para quem nunca viu, vale a pena.
Nota: ★★★★★★★★★ 9
O soldado ateniense Temístocles (Sullivan Stapleton) lidera seu exército através dos mares para combater a poderosa frota de navios liderada pela bela, porém extremamente perigosa Artemísia (Eva Green). Tropa essa que veio do imenso império governado pelo tirano deus-rei Xerxes (Rodrigo Santoro). Enquanto o rei Leônidas (Gerard Butler) conquista sua glória por terra na batalha das Termópilas, Temístocles se une aos seus aliados pelo mar com a difícil missão de derrotar sua habilidosa e mortal inimiga.
Baseado na HQ ''Xerxes'', também criada por Frank Miller, o filme traz exatamente o mesmo estilo visual e a mesma fórmula que fizeram o primeiro longa dar tão certo. Zack Snyder ocupa aqui o cargo de produtor e roteirista, deixando a direção sob os cuidados do israelense Noam Murro. E é notável que sua direção procura respeitar o que Snyder fez no longa anterior, mesmo que também trabalhe para deixar a sua marca dentro da saga. Um das primeiras coisas que chamam a atenção para esse segundo capítulo é o fato do filme ser muito mais violento e bem mais sangrento que seu antecessor. A violência estilizada marca presença aqui, com seus belos planos de câmera e seus bons efeitos visuais, porém em níveis mais altos, com um visual que lembra muito a série de TV ''Spartacus'', fazendo com que o filme dê a impressão de ser mais um dos episódios da pesada e eletrizante série produzida por Sam Raimi. De resto, vale a pena mais uma vez participar das espetaculares batalhas, com direito a muito sangue jorrando em grandes quantidades na tela e vários membros decepados, no mesmo grau de imersão do filme de 2007. Mesmo que as batalhas ocorram em sua maioria no mar, o nível de entretenimento e diversão é tão bom quanto foi naquelas batalhas ocorridas em terra firme entre Leônidas e seus 300 guerreiros e o exército persa.
O roteiro é ainda mais interessante por contar eventos que se passam antes, durante e depois dos acontecimentos vistos no longa de 2007. Ou seja, é a mesma história, porém sob outros pontos de vista. Personagens conhecidos dão as caras novamente ou são mencionados e a trama desenvolve dentro desse universo novos personagens. Ambas as histórias dos dois longas se entrelaçam e se completam de maneira bem legal e inteligente. Porém, o filme é focado muito mais nas violentas batalhas e no seu visual estonteante do que no desenvolvimento da trama em si. Para quem procura ainda mais ação e muito mais sangue, o filme vai satisfazer esse público muito bem. O filme entrega tudo o que promete, mesmo que o longa de Zack Snyder seja um pouco melhor.
O elenco está bem na medida do possível. Fazem um bom trabalho, porém, os novos personagens, nesse caso Temístocles e seus soldados não possuem o mesmo peso e carisma de Leônidas e seus 300 guerreiros. Mesmo assim, dentro da proposta do filme, eles se esforçam e entregam algo que vale a pena de se ver. O novo protagonista interpretado por Sullivan Stapleton é um bom exemplo disso. Temístocles não tem a presença e o carisma do Leônidas de Gerard Butler, que faz uma pequena aparição no filme, porém, a imagem do herói que luta honrosamente para defender seu lar é bem construída em cima do protagonista e é notável o quanto o ator se esforça para entregar um bom trabalho. Embora o longa se baseie na obra de Frank Miller intitulada ''Xerxes'', o roteiro pouco tem a nos mostrar sobre o misterioso e cruel vilão interpretado por Rodrigo Santoro. Claro, a narrativa faz um bom trabalho ao explorar bem mais o passado e as origens do antagonista, algo que não vemos no primeiro filme, já que lá, sua ameaça já está estabelecida, e o ator carioca traz um bom trabalho interpretativo. Porém, depois desse início promissor, o personagem é deixado de lado, ficando apenas a aura da sua ameaça que paira em cima de todos os demais personagens e se resumindo a poucas aparições. Mesmo assim, é legal o clima de ameaça e poder que gira em torno dele e de seu poder ao longo da trama. A verdadeira vilã do filme (e que vilã) é a cruel Artemísia, em uma performance hipnótica e envolvente da bela atriz francesa Eva Green. Além de convencer como uma mulher extremamente perigosa e ameaçadora, a personagem é uma das mais bem desenvolvidas pelo roteiro, dando um propósito e um motivo bem convincentes que justificam suas ações tão cruéis e impiedosas e do porque ela ficou assim. Tudo isso faz com que Artemísia seja a personagem mais interessante do longa, méritos também do talento da atriz que também rouba a cena pelos seus dotes femininos, especialmente na quente cena de sexo que ela protagoniza em determinado momento do filme. O restante do elenco de apoio também sofre um pouco com a falta de carisma e pouco desenvolvimento, mas cumprem o seu papel. Porém, alguns deles funcionam mais por já serem conhecidos do primeiro filme, como é o caso dos personagens de Lena Headey e David Wenham.
Embora seja um pouco inferior ao seu antecessor, ''300: A Ascensão do Império'' traz de volta todo o espetáculo audiovisual do longa de 2007, com uma boa trama, bons personagens e muito mais sangue, violência e adrenalina. É uma continuação competente para um filme que já era bom, com uma direção que honra e preserva o legado de Zack Snyder e da obra original em que se baseia. Como um épico de duas partes, ambos os filmes funcionam em perfeita sincronia.
Nota: ★★★★★★★★ 8
CURIOSIDADES:
300 (2007)
* Mesmo procurando ser o mais fiel possível aos quadrinhos, Frank Miller e Zack Snyder fizeram alterações, com o propósito de deixar as cenas de ação visualmente mais atraentes.
* Antes de Lena Headey ficar com o papel da Rainha Gorgo, outras atrizes foram consideradas para viver a personagem nas telas, como foi o caso de Sienna Miller e Silvia Colloca.
* Ao todo, as filmagens do primeiro ''300'' levaram dois meses para serem concluídas.
* Zack Snyder veio até o Rio de Janeiro ao lado dos atores Gerard Butler e Lena Headey para divulgar e promover o filme nos cinemas brasileiros.
* Apesar de ser baseado na obra de Frank Miller, o filme reproduz de maneira fantasiosa e imaginativa a ''Batalha das Termópilas'', um acontecimento histórico real.
300: A ASCENSÃO DO IMPÉRIO (2014)
* Inicialmente, o filme se chamaria ''Xerxes'', o mesmo título da HQ pela qual o roteiro se baseia. Porém, devido ao sucesso do filme anterior, os realizadores decidiram não deixar de se aproveitar do nome ''300''.
* Assim como o primeiro filme de 2007, ''300: A Ascensão do Império'' se baseia em acontecimentos reais que fizeram parte da história, nesse caso citando em seu enredo a ''Batalha de Artemísio'' e a ''Batalha de Salamina''.
* A princípio, Zack Snyder demonstrou interesse em dirigir também esse segundo filme. Porém, preferiu ficar com o cargo de produtor e roteirista do longa e optou por dirigir o filme ''O Homem de Aço''.
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