Onde os fracos não tem vez (2007) - Análise - Imprevisível como a vida!


 Por: Rudnei Ferreira


Os Irmãos Joel e Ethan Coen são conhecidos pelos seus filmes com roteiros fortes, complexos e hipnotizantes, onde a preocupação com a história e seus personagens são bem evidentes. Entre seus trabalhos mais conhecidos no cinema, temos obras premiadas como ''O grande Lebowski'', ''Ave, César'', o remake de ''Bravura indômita'' e o mais recente ''A balada de Buster Scruggs'' em parceria com a Netflix. Porém, mesmo reconhecidos como grandes diretores e roteiristas, seus filmes são um gosto adquirido, pois muitos deles possuem padrões que fogem do comum que muitos estão acostumados. 

''No Country for Old Man'' ou ''Onde os fracos não tem vez'' de 2007 segue essa mesma cartilha da filmografia da dupla de diretores. Porém, mesmo assim, é possível dizer que, talvez, esse seja considerado um de seus melhores trabalhos como cineastas. Baseado no livro escrito por Cormac McCarthy, com roteiro escrito e dirigido pelos irmãos Coen, o longa rapidamente recebeu aclamação dos críticos e por boa parte do público, levando 8 indicações ao Oscar e vencendo em 5 categorias, incluindo a de Melhor Filme, o transformando rapidamente em um clássico moderno.  






O longa segue Llewelyn Moss (Josh Brolin) um caçador que em mais um dia aparentemente comum em sua vida, é testemunha de uma verdadeira chacina envolvendo um carregamento com grande quantidade de drogas. Ao explorar o local do crime, ele encontra uma mala cheia de dinheiro. Mesmo relutante, ele não resiste e decide fugir com o dinheiro, sabendo que algo de ruim pode acontecer a qualquer momento por causa de sua ação. Suas previsões estavam mais do que certas, pois Llewelyn não imaginava que deixaria de ser o caçador para se tornar a caça, já que ele se encontra na mira de Anton Chigurh (Javier Bardem), um perigoso assassino em série com sede de vingança. Enquanto isso, o xerife veterano Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) fica responsável por tentar encontra-los, mas teme que tal situação possa ser demais até para ele mesmo.  






A trama de ''Onde os fracos não tem vez'' traz uma história eletrizante, onde a tensão se mantém constante, além de um excelente estudo de personagens. É um filme bem atmosférico e todo construído em meio a situações. Os acontecimentos vão se desenrolando diante de nosso olhos e somos convidados a acompanhar e embarcar na jornada desse personagens, que são muito bons. Para quem assistir ao trailer poderá achar que o filme é mais um exemplo de produção repleta de muita ação e com uma história mais do mesmo. Engana-se quem pensar isso. O filme tem sim sequências de ação de tirar o fôlego e uma atmosfera brilhante de tensão que as antecedem ou ocorrem junto com elas. Mas o roteiro dos irmãos Coen vai além disso e fala de temas como ganância, vingança, causa e consequência e como algumas ações e acontecimentos em nossas vidas podem ser inevitáveis de acontecer. É uma história sobre a natureza humana e como é difícil se adaptar as mudanças que vem com o tempo. Nada permanece igual para sempre, o que pode causar estranhamento as vezes.

Se a história é boa, os personagens são melhores ainda. desde os protagonistas até os coadjuvantes, todos tem camadas ou algo a acrescentar dentro da trama. São personagens bem escritos e bem humanos, sem apelar para exageros ou estereótipos, permitindo ainda mais  o nosso envolvimento com a trama. É um roteiro crítico e com um olhar honesto e verdadeiro sobre a vida e seus vários acontecimentos. 






O filme visualmente também é digno de aplausos, com uma belíssima e chamativa cinematografia, cheia planos de câmera inspirados dos irmão Coen e uma fotografia de encher os olhos. Junto a isso, temos os figurinos com roupas que fazem jus ao período de tempo que a trama acontece, ou seja, os anos 80, mas que dão um clima de faroeste moderno bem legal.  Nota-se aqui, a ausência de trilha sonora, uma jogada inteligente, pois assim, toda a tensão e desenvolvimento da trama depende exclusivamente da direção e da entrega do elenco. E tudo isso funciona espetacularmente bem, contribuindo para a proposta realista do longa. 

O elenco é incrível, com atuações inspiradíssimas e super entregues. Quem rouba a cena é o espanhol Javier Barden, brilhante, ameaçador e assustador como o vilão Anton Chigurh, um antagonista icônico e marcante, atualmente presente na lista dos maiores vilões do cinema e não é a toa. É um personagem frio, calculista, muito astuto e inteligente e cheio de frases e diálogos memoráveis. Javier está tão entregue ao personagem que sua presença causa arrepios não apenas aos demais personagens, mas também ao público. Ele é imprevisível, portanto, não sabemos qual será seu próximo passo ou ação, o que deixa tudo ainda mais angustiante e tenso. 

Josh Brolin também está ótimo, entregando um personagem tão astuto, preparado e inteligente quanto o vilão, o que deixa o embate entre eles ainda mais emocionante e eletrizante, sendo imprevisível saber qual vai ser o resultado desse confronto. Tommy Lee Jones, ótimo como sempre, convence em sua preocupação diante da atualidade atual e o receio de não está preparado para enfrentar os novos tempos e o importante caso que se encontra diante dele. Aliás, o titulo original do filme faz jus justamente ao seu personagem, que se encontra cada vez mais deslocado com as mudanças, o que proporciona talvez o grande ponto de reflexão do filme. Em participações menores, mas não menos importantes, temos Kelly Macdonald e Woody Harrelson mandando bem. Cada um destes personagens tem suas características e sua natureza que se encaixam perfeitamente dentro dos principais temas presentes no enredo. 





''Onde os fracos não tem vez'' é um filme com uma estrutura narrativa bem montada e bem desenvolvida, personagens excelentes, diálogos profundos e de imenso impacto, uma direção e um roteiro espetacular e atuações fantásticas. Não é um filme para todos os gostos, além de contar com um final controverso, mas extremamente reflexivo e que faz sentido no contexto geral da história, expondo assim a marca registrada dos irmãos Coen. Mas é inegável o talento dos cineastas ao criar uma trama imersiva, imprevisível e impressionante, como a própria vida é. E é justamente esse retrato cru e realista da vida que faz de ''Onde os fracos não tem vez'' uma obra cinematográfica memorável e inesquecível que merece ser vista e apreciada nem que seja pelo menos uma vez por qualquer amante de cinema que se preze. 

Nota: ★★★★★★★★★ 9





ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ (NO COUNTRY FOR OLD MAN - 2007) - Suspense/Ação/Drama, 122 Minutos. ESCRITO, PRODUZIDO E DIRIGIDO POR: Ethan e Joel Coen. BASEADO NO LIVRO DE: Cormac McCarthy. - ELENCO: Josh Brolin, Javier Barden, Tommy Lee Jones, Kelly Macdonald, Woody Harrelson. CLASSIFICAÇÃO: 16 Anos. 

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