O Exorcista (1973) - Uma obra-prima do terror!


 Por: Rudnei Ferreira


O terror sobrenatural é um dos sub gêneros de maior sucesso dentro do horror. São muitas produções cinematográficas que se consagraram ao longo do tempo. Porém, nenhuma teve tanto impacto para o cinema quanto ''O Exorcista'', longa de 1973, polêmico e marcante para a época de seu lançamento e que entrou para a história como o primeiro filme de terror indicado ao Oscar de Melhor Filme, o consagrando como um dos filmes mais importantes do gênero, que influenciou e serviu de inspiração para muitas outras obras cinematográficas que vieram depois. Porém, mesmo com tantos filmes semelhantes, o longa dirigido por William Friedkin fez história e nem suas desnecessárias continuações chegaram aos pés dessa obra-prima. 

Por conta de sua temática intensa e pesada, ''O exorcista'' foi cercado de controvérsias e polêmicas na época de seu lançamento, onde muitas pessoas ficaram chocadas com seu conteúdo impactante envolvendo religião e temas sobrenaturais. Hoje em dia, o filme pode não tem o mesmo impacto que teve na época, já que o público nunca tinha visto algo parecido antes no cinema. Mas, ao ver ou rever o filme nos dias de hoje, é perfeitamente compreensível entender o porque o longa é considerado um marco na indústria cinematográfica e desperta tanto fascínio, já que ele envelheceu muito bem, mantendo suas qualidades em todos os sentidos. 






O longa conta a história de Chris MacNeill (Ellen Burstyn), uma atriz de cinema de sucesso que de uma hora para outra percebe que sua filha de 12 anos Regan (Linda Blair) começa a apresentar estranhos sintomas, mudando sua personalidade e humor. temendo que sua filha possa estar possuída por um demônio, ela pede ajuda ao padre Damien Karras (Jason Miller) para realizar um exorcismo. Como não se sente apto ou capaz para enfrentar tamanho desafio devido seus problemas familiares que afetaram sua fé, ele recorre ao experiente Padre Lankester Merrin (Max Von Sydow) em um tenebroso confronto contra o mal que se apossou de Regan. 







O filme já mostra a que veio nos seus minutos iniciais, onde é construída uma sombria aura de mistério em torno da figura do demônio Pazuzu, onde sua assustadora imagem está estampada em uma macabra estátua no deserto. É a figura desse ser demoníaco que será o fio condutor da trama a partir dai. ''O exorcista'' é um filme que funciona tão bem graças a sua excelente construção de atmosfera, entregando aos poucos os elementos e detalhes que farão com que ele fique cada vez mais macabro ao longo da projeção. O roteiro escrito pelo próprio William Peter Blatty, autor do livro do qual o longa se baseia, possui o ritmo perfeito e necessário para desenvolver sua história e seus personagens. E isso é muito bom, pois graças a essa narrativa sem pressa em seu primeiro ato, temos todos os motivos necessários para se importar com cada um dos principais personagens apresentados pela história, especialmente a sua protagonista, a garotinha Regan. 

Mais do que um filme de terror que fala sobre o exorcismo e o sobrenatural, o longa apresenta um drama familiar bem construído, inserindo temas como abandono, separação, culpa, arrependimento e até mesmo metáforas sobre adolescência e suas descobertas. Em uma situação no mundo real, tais mudanças de comportamento seria vista por muitos como consequências de um lar desfeito, por exemplo. 

 A obra gasta o tempo necessário para apresentar e desenvolver o lado mais humano da história. E quando a parte sobrenatural e macabra finalmente acontece, já estamos completamente envolvidos por esses personagens e seus dramas. A história envolve também uma leve investigação criminal e causa polêmica com a sua visão sobre a religião e a maneira como ela é utilizada na trama. Na época do lançamento do filme, isso deu muito o que falar entre os mais conservadores. Mesmo nos dias de hoje, muitos podem evitar assistir ao filme por esses motivos.  Esses elementos são bem trabalhados pelo roteiro e fazem sentido dentro da trama. É até interessante de se analisar e pensar como foi tudo isso para as plateias de 1973. Deve ter sido uma experiência fascinante de se ver. 






 

Se o roteiro funciona magnificamente, isso também se vale, e muito, por causa da qualidade de produção, que permanece espetacular mesmo para os dias de hoje. Como citado, a atmosfera sombria e macabra do filme é bem construída e a boa direção de William Friedkin tem muito a dizer e a contribuir. Basta ver como o diretor movimenta a câmera com suavidade, com leves movimentos em torno dos personagens ou nos cenários, dando a sugestão da presença do mal a todo momento, para quando finalmente mostrá-lo, o impacto seja bem grande. A fotografia ajuda a criar no espectador a contínua sensação do  sombrio.  A montagem é frenética, e são vários os momentos em que algo sério é mostrado e logo em seguida é cortado para outra situação. Pode ser meio estranho e corrido para alguns, mas eu vejo sendo utilizado de forma proposital, com a trama mostrando somente o necessário para que o espectador se veja cada vez mais curioso e envolvido pela narrativa. 

Visualmente, o filme é ótimo graças aos efeitos práticos presentes na cenografia, além da maquiagem bem feita. Tais recursos só enriquecem o filme, tornando tudo realista e impactante ao longo da sua duração, até chegar naquela que é considerada uma das melhores e mais bem realizadas sequências de exorcismo na história do cinema. Nesse momento de arrepiar, o uso bem empregado desses recursos cinematográficos, junto a uma edição de som espetacular e uma boa construção de atmosfera, somos completamente imersos na situação, como se fossemos mais um personagem testemunhando todo o evento. A direção faz um bom uso de iluminação e sombra e um efeito especial bem legal envolvendo o rosto do demônio Pazuzu, que pisca muito rapidamente em cena, quase como uma mensagem subliminar, em determinadas sequências que exigem total atenção do espectador para perceber. É genial, pois sinaliza a presença do demônio no lugar.  E não podemos esquecer de falar da icônica musica tema de Mike Oldfield e Jack Nitzsche, arrepiante e inesquecível como o próprio filme é. O filme é repleto de cenas memoráveis que entraram para a história do cinema e tais recursos cinematográficos só enriquecem esses momentos icônicos. 









O elenco de peso faz um trabalho sensacional com seus personagens. O destaque fica todo para a atuação assustadora de Linda Blair, que traz na imagem de sua personagem Regan uma das figuras mais fascinantes do gênero. É incrível como a atriz, na época tão jovem, consegue ir de uma menina doce para um ser bizarro e amedrontador com tamanha naturalidade. Uma pena que Linda Blair não tenha feito nada de relevante depois desse filme (podemos ignorar aquela bomba que foi ''Exorcista: o herege'') pois talento ela demonstra que tem de sobra. Sua mãe, interpretada pela veterana Ellen Burstyn, brilha com uma performance igualmente boa, deixando estampada em seus olhos e em suas expressões todo sofrimento e agonia de sua personagem. Jason Mille carrega consigo a dor da culpa, algo que acaba balançando sua fé. Mas, por outro lado, há bondade em seu interior e o ator consegue transmitir isso perfeitamente. E por último, o veterano Max Von Sydow convence como um padre atormentado por experiências macabras. Os demais membros do elenco de apoio, mesmo com poucas cenas, cumprem seu papel.  







''O Exorcista'' é uma obra-prima do gênero, repleto de sequências inesquecíveis e uma história que vai além do terror. A qualidade de roteiro e produção se mantém impecável até a atualidade e o filme é muito bom em todos os sentidos. Esqueça suas péssimas continuações. Esse é o filme definitivo e único da assustadora história de Regan, um dos melhores filmes de terror da história do cinema que inspirou e inspira várias produções do gênero, mesmo depois de mais de 40 anos do seu lançamento nas telas do cinema. Inesquecível, como poucos filmes do gênero conseguiram ser. 

Nota: ★★★★★★★★★★ 10




O EXORCISTA (THE EXORCIST - 1973) - Terror, 132 Minutos. /DIREÇÃO: William Friedkin. - ELENCO: Linda Blair, Ellen Burstyn, Jason Miller, Max Von Sydon, Lee J. Cobb, Kitty Winn, Jack MacGowran. CLASSIFICAÇÃO: 14 Anos. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 83%

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