...E o vento levou (1939) - Análise - Um dos maiores clássicos do cinema!

 Por: Rudnei Ferreira

Hollywood tem anos e décadas de histórias cinematográficas, repletas de filmes marcantes e inesquecíveis. Clássicos é que não faltam para os amantes de cinema do mundo inteiro. E muitos desses clássicos traduzem o que significa o cinema. Quando se fala em grandes produções cinematográficas que entraram para a história, existem uma extensa lista de filmes que merecem ser conferidas. E uma desses filmes que vale a pena mencionar é ''...E o vento levou'', considerado um dos maiores filmes já produzidos, seja em questão de produção e história quanto em questão da sua longa duração. 

A super produção dirigida por Victor Fleming é baseado no livro de Margaret Mitchell e se tornou um dos filmes mais bem sucedidos do cinema, recebendo aclamação de público e crítica e batendo o recorde de nada menos que 13 indicações ao Oscar, vencendo em 10 categorias, incluindo Melhor Filme. 

O longa segue a história de Scarlett O'Hara (Vivien Leigh), uma bela aristocrata, que se utiliza da beleza e de sua esperteza para conseguir o que quer. Ela nutre um amor não correspondido por Ashley Wilkes (Leslie Howard) e um pequeno relacionamento com o galante Rhett Butler (Clark Gable). Porém, com o avanço da Guerra Civil Americana, Scarlett vê sua vida tomar rumos inesperados. De uma jovem mimada e cheia de privilégios, ela terá de lutar para salvar suas terras, antes que tudo lhe seja tomado. 

Ao assistir a esse clássico nos dias de hoje, nota-se que ''...E o vento levou'' é um retrato do seu tempo. A história é um romance se passa durante a Guerra Civil Americana que durou de 1861 a 1865. Portanto, o roteiro aborda os costumes e acontecimentos que eram comuns na época. Acima de tudo, o longa é bem polêmico na maneira como trabalha com o tema da escravidão, que era algo comum na época, porém, a trama comete alguns exageros em relação a isso.  Aqui, os negro são estereotipados e retratados como submissos e felizes por sua condição de serviçais dos brancos. Não há como negar de que o filme passa uma mensagem bem racista, basicamente ignorando os males da escravidão, sem uma lição de moral em cima do assunto, especialmente reforçado por conta de como uma das escravas é tratada pela protagonista branca em determinado momento da história e ninguém faz nada para repreender.  

Embora seja incômodo assistir a isso, vale lembrar que o filme é do final da década de 30, época que o preconceito racial estava presente e era considerado normal para os padrões desse período. Nada justifica tais atitudes e pensamentos racistas, já que temas como preconceito racial e a escravidão são verdadeiras manchas na história da humanidade. Porém, o filme traz uma importante reflexão de que isso era errado na época em que a história se passa, era errado na época em que o filme foi lançado e é errado nos dias de hoje. Ou seja, fica a importante lição de que racismo e preconceito com nossos irmãos negros está mais do que batido, portanto, deve ser mais do que desencorajado, pois é algo ridículo e inaceitável desde sempre. Embora os personagens brancos sejam os grandes destaques da narrativa, os negros tem sua importância, o que já serve de consolo. No decorrer de suas quase quatro horas de duração, ''...E o vento levou'' é, literalmente, um grande estudo de personagens e situações, trabalhando com outros temas como ganância, inveja, causa e consequência. 

Em questões de qualidade de produção, o filme é sem dúvida um dos mais belos exemplares do cinema até hoje. Conta com um design de produção riquíssimo em detalhes, com uma cinematografia deslumbrante que enche os olhos por causa da fotografia que traz uma paleta de cores fortes e de variadas tonalidades,  Os enquadramentos e movimentos de câmera aliados a essas composições visuais são como verdadeiras pinturas para os olhos. É realmente muito bonito. A Mise-en-scène é fantasticamente bem trabalhada, em um nível de altíssimo cuidado com os detalhes dos vários cenários e ambientes que fazem parte do brilhante trabalho do departamento de arte.  Tudo isso sem o uso de CGI, já que na época, não existiam os efeitos visuais de hoje, deixando o visual ainda mais realista e impressionante. 

Os figurinos são um verdadeiro espetáculo de cores, formatos e detalhes, reproduzindo e esbanjando a elegância típica da época. Nota-se mais uma vez o cuidado com os detalhes e o carinho do figurinista Walter Plunkett em trazer algo realmente marcante e belo. A trilha sonora conta com o épico tema composto por Max Steiner, grandioso, sensível, envolvente e emocionante. Todos esses aspectos audiovisuais fazem de ''...E o vento levou'' mais do que um filme, uma verdadeira obra de arte cinematográfica.  

 

A trama conta com personagens memoráveis e isso é graças ao elenco composto por alguns dos atores e atrizes mais talentosos da época. Vivien Leigh, além da beleza, traz uma performance inspirada e competente para a protagonista. Scarlett é uma mulher astuta quando o assunto é alcançar seus objetivos. É alguém cheia de falhas e constantemente temos uma relação de amor e ódio por ela. Vivien Leigh se entrega a personagem, construindo uma das protagonistas mais interessantes da história do cinema. 

No elenco de apoio, o galã da época Clark Gable está igualmente bem como um malandro cheio de charme, mas com uma filosofia de vida interessante, o tornando um grande personagem que aos poucos se envolve emocionalmente com a protagonista. Olivia de Havilland traz uma doçura cativante para sua personagem e mesmo com menos destaque, marca com sua presença. Hattie McDaniel entrega uma performance divertida como a empregada Mommy, cheia de diálogos e situações marcantes. Tal performance lhe garantiu um merecido Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, a colocando na história como a primeira atriz negra a vencer a estatueta dourada. Todos muito bem e de grande importância para o desenvolvimento dos acontecimentos. Talvez o único ponto negativo é que a trama não possui suficiente peso narrativo para se justificar as longas 3h53 minutos de duração, afetando o ritmo, tornando o filme um pouco cansativo em alguns momentos. Não é um filme com  grande apelo de entretenimento, o que o torna difícil para alguns.  Mas honestamente, isso não tira o brilho e muito menos a importância da obra em um contexto geral. 

''...E o vento levou'' é mais do que um filme, é um evento cinematográfico que sobreviveu ao tempo e ficou marcado como um dos filmes mais importantes e celebrados da história do cinema. Histórico, romântico e grandioso (literalmente) em todos os seus aspectos, é o tipo de filme para quem ama estudar e discutir cinema, sendo merecedor de ser visto pelos cinéfilos nem que seja uma vez na vida. Para quem gosta de cinema e história, é uma experiência cinematográfica que vale a pena viver. 

Nota: ★★★★★★★★ 8

...E O VENTO LEVOU (GONE WITH THE WIND - 1939) - Drama/Romance/Histórico, 233 Minutos. / DIREÇÃO: Victor Fleming. - ELENCO: Vivien Leigh, Clark Gable, Olivia de Havilland, Hattie McDaniel, Leslie Howard, Butterfly McQueen. CLASSIFICAÇÃO: Livre. NOTA NO ROTTEN TOMATOES: 91%