CORRA! (2017) - ANÁLISE - UM SUSPENSE INTELIGENTE, REFLEXIVO E CRÍTICO!
Por: Rudnei Ferreira
Jordan Peele é um cara conhecido pelos seus trabalhos na comédia, como nas séries ''The Last OG'' e ''Key&peele''. Quem iria imaginar que ele teria talento também para outros gêneros que não fosse o cômico. Mas eis que em 2017, Peele estreou nas telas do cinema com um dos melhores filmes da década passada. Escrito e dirigido pelo próprio, ''Corra!'' conquistou o público e a crítica, recebendo indicações a vários prêmios importantes do cinema, incluindo o Oscar de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator, levando a estatueta de Melhor Roteiro Original. ''Corra!'' é um suspense psicológico muito bem feito e ainda vai muito além disso.
O roteiro de ''Corra!'' nos entrega um suspense psicológico cheio de mistérios. Desde os minutos iniciais, ficamos com a sensação de que algo muito estranho está acontecendo ao redor. E esse sentimento nos acompanha ao longo de toda a história, conforme novos elementos e camadas são acrescentados. Claro que o longa é também uma mistura de drama, que fala sobre perda e culpa, com um terror mais gore, impressionando especialmente nos minutos finais. Uma coisa que o roteiro escrito por Jordan Peele faz extremamente bem é entregar uma história que não apela para clichês do gênero e é, acima de tudo, bem inovador em sua proposta e em seu conteúdo.
Mas a história não se resume apenas a isso. Jordan Peele usa os elementos de terror e suspense para falar principalmente do preconceito racial, um problema que, sabemos bem, infelizmente é uma lamentável realidade presente até os dias atuais. Mesmo que não apresente nada extremamente grosseiro, o roteiro deixa estampada a ideia do preconceito com a cor e como muitos tratam nossos irmãos negros como inferiores. Bastam algumas atitudes ou diálogos para entender bem a ideia que o longa quer nos apresentar. Mesmo assim, não tem como não se chatear com o fato de que esse problema infelizmente ainda existe.
A direção de Jordan Peele é segura e muito competente. Tudo no filme contribui para nossa total imersão na história. O ritmo é excelente e os personagens são bem desenvolvidos. As atuações são espetaculares, onde todo mundo está perfeitamente entregue e se encaixam com maestria nos seus respectivos papéis. Existem algumas sequências onde o protagonista entra em uma espécie de ilusão provocada por hipnose que visualmente é bem interessante, onde a movimentação de câmera e a trilha sonora contribuem para o desconforto não apenas dele, mas do público também. Tais recursos cinematográficos garantem outros momentos genuinamente intensos. É possível tomar alguns sustos, mas o melhor de tudo é que eles funcionam justamente por não serem clichês, acontecendo nos momentos certos e de maneira inesperada.
Daniel Kaluuya está excelente como o protagonista. Seu personagem entende a realidade que gira em torno de si, portanto, tenta não se abalar diante de um visível preconceito. Na verdade é o seu personagem que serve como guia para se refletir sobre o preconceito racial. E a partir do momento em que ele é apresentado a família da sua namorada, suas reações de ironia, medo e estranhamento com as situações são bem genuínas, graças a atuação competente do ator, provavelmente a melhor de sua carreira até agora. É um ator que sabe se comunicar não apenas com diálogos, mas também com seu olhar muito expressivo e penetrante, algo que nem todo ator ou atriz é capaz de fazer tão bem, mas Kaluuya dá conta do recado. Já o elenco de apoio se sai ainda melhor.
Tanto por parte dos brancos quanto por parte dos negros, as composições de cada personagem é impressionante, especialmente o elenco de atores negros, que deixam transparecer através de seus olhares e expressões faciais que algo de estranho está acontecendo. Mas o mesmo pode ser dito do elenco de atores brancos, onde existem algo de sinistro e estranho em torno de suas boas vindas e expressões de felicidade. Realmente, são performances bem equilibradas, comprovando o talento de todos. Ao longo de sua história, o filme nos dá pistas sobre a estranheza dos acontecimentos. E tudo isso resulta em um final violento, surpreendente e assustador, encerrando a trama com chave de ouro e comprovando a genialidade de Jordan Peele em um gênero que não seja a comédia. Mesmo assim, o humor se faz presente na trama e ele vem através do personagem de Lil Rey Howery. Com diálogos divertidos e situações hilárias, o personagem ajuda a quebrar um pouco do clima tenso da trama e, no final, ainda faz com que o público dê razão ao que ele fala.
''Corra!'' é um drama crítico sobre preconceito e ignorância embalado por um suspense visceral e agoniante. Com um roteiro original e imprevisível e atuações excelentes, o longa se completa com a direção fenomenal de Jordan Peele, que deixa transparecer da primeira a última cena o seu talento como diretor e roteirista. Um dos melhores filmes de 2017 e um dos melhores do gênero.
Nota: ★★★★★★★★★★ 10
CORRA! (GET OUT - 2017) - Suspense, 103 Minutos. / ROTEIRO E DIREÇÃO: Jordan Peele. - ELENCO: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Bradley Whitford, Caleb Landry Jones, Catherine Keener, Lakeith Stanfield, Lil Rel Howery, Betty Gabriel, Marcus Henderson. CLASSIFICAÇÃO: 14 Anos.
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