AS ONDAS (2019) ANÁLISE - UMA TOCANTE HISTÓRIA DE AMOR, UNIÃO E PERDÃO!


Por: Rudnei Ferreira


A A24 se tornou uma das maiores e melhores produtoras de cinema da atualidade, demonstrando extrema competência e qualidade com suas produções cinematográficas, sejam elas em questões de roteiro, produção e direção. ''Midsommar: o mal não espera a noite'' (2019), ''Hereditário'' (2018), ''O farol'' (2019), ''A bruxa'' (2014), ''Joias Brutas'' (2019), ''A Ghost Story'' (2017) e o vencedor do Oscar de Melhor Filme ''Moonlight: Sob a luz do luar'' (2016) são apenas alguns de seus maiores sucessos entre o público e a crítica. ''Waves'', ou como é conhecido no Brasil, ''As ondas'', mantém a qualidade de produção dos realizadores da A24, entregando uma emocionante, poética e reflexiva história dramática. 




A história acompanha a jornada de uma família negra americana. Tyler (Kelvin Harrison) e Emily (Taylor Russell Jr.) vivem sob a rígida educação do pai (Sterling K. Brown), especialmente Tyler, que sente o peso e a pressão de ser obrigado a ser o melhor no que faz, dando o melhor de si. Porém, quando uma tragédia cai sobre todos eles, essa família problemática precisa se unir mais do que nunca em um momento crucial para todos. 





O roteiro de ''As ondas'' trabalha com um romance dramático e trágico, que tem como temas principais o amor, o ódio, a culpa, o arrependimento e a importância de perdoar e se perdoar, mesmo que as vezes, perdoar não seja fácil. É na base desses temas que a história fala sobre causa e consequência. Da mesma maneira que a vida nos dá, ela também pode tirar. Tudo começa com uma escolha, e são essas escolhas que determinam tudo de bom e de ruim que podem nos acontecer em vida. É uma história que, ao mesmo tempo que nos faz refletir e parar para pensar sobre a vida, tem um tom sensível e poético para falar sobre tudo isso, méritos da sensibilidade na direção de Trey Edward Shults, que procura extrair, através da sua história, os significados do que é viver e ser humano. Das causas e das consequências que são resultados de nossas escolhas. 





Visualmente, o filme traz leves comparações com ''Moonlight: sob a luz do luar'' em alguns momentos, mas não se prende e muito menos tenta imitar a composição visual do vencedor do Oscar de 2017. através da cinematografia que faz uso de uma fotografia cheia de tonalidades e cores, o filme procura mostrar e traduzir os vários sentimentos, momentos e sensações vividas pelos personagens. Nas cenas onde a carga dramática é mais forte, a fotografia aposta em cores escuras e carregadas. Inclusive, há sequências psicodélicas que causam propositalmente um desconforto visual, mas que servem justamente para ilustrar a situação trágica que determinado personagem se encontra ou como ele se sente diante de tal situação. O formato da tela também muda algumas vezes no decorrer do filme, como se tais mudanças servissem para mostrar a passagem de um ciclo narrativo para o outro. Tal recurso é uma jogada inteligente e funcional da direção e da montagem. 

A trilha sonora é constante e possui grande importância e relevância para a trama. Ela, de alguma maneira, ajuda a interpretar e a ilustrar a história e, assim como os elementos visuais, varia de forma contínua, mas está sempre presente. O trabalho de câmera é muito interessantes, seguindo os personagens e mostrando suas ações com vários movimentos e ângulos, onde ela é basicamente mais um personagem dentro da narrativa. Um personagem que serve de olhos para o público. O ritmo do filme pode ser cansativo para alguns, mas se faz extremamente necessário assim, para dar o tom poético e sensível da trama, além de ajudar na construção e no estudo de personagens. E é exatamente isso que o longa nos entrega. Um grande estudo de personagens bem construídos e uma história cheia de camadas e significados que conseguem tocar fundo no coração e na alma. 





O elenco entrega atuações incríveis e muito comprometidas. Cada personagem possui suas características próprias e cada uma delas são importantes para os vários rumos que a história segue. Os maiores destaques desse elenco são as performances dos jovens Kelvin Harrison Jr. e Taylor Russell como dois adolescentes que expressam muito bem seus dramas familiares. Podemos dizer que o filme é dividido em duas partes e dois arcos narrativos. O primeiro pertence a Kelvin Harrison Jr. e o segundo a Taylor Russell. E a transição de um arco para o outro funciona muito bem e de maneira imersiva e profunda. E o restante do elenco de apoio não fica para trás e carregam personagens cheios de camadas, dramas e conflitos, e até eles possuem arcos narrativos muito significativos e importantes. São personagens muito humanos, onde é possível se identificar e até mesmo se comover com suas histórias emocionantes e fortes. 





''As ondas'' é um drama imersivo e uma experiência audiovisual impressionante que fala do poder do amor e da importância do perdão e de se aprender com seus próprios erros. Uma história humana, poética e sensível que é feita para ser sentida e apreciada com o coração e a mente. Atuações de peso, direção competente e um bom roteiro fazem deste longa mais uma obra fascinante e memorável da produtora A24, que a cada nova produção impressiona pela sua qualidade cinematográfica. 

Nota: ★★★★★★★★★ 9





AS ONDAS (WAVES - 2019) - Drama, 135 Minutos. / DIREÇÃO: Trey Edward Shults. - ELENCO: Kelvin Harrison Jr, Starling K. Brown, Taylor Russell, Lucas Hedges, Alexa Demie, Renée Elise Goldsberry. CLASSIFICAÇÃO: 16 Anos. 



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