O DIABO DE CADA DIA (Original Netflix - 2020) - ANÁLISE - A NATUREZA HUMANA NUA E CRUA!

 

Por: Rudnei Ferreira

Até que ponto chega a perversidade humana? qual é o limite para tantas coisas horríveis que o ser humano é capaz de fazer? Essa são perguntas que constantemente nos fazemos, principalmente quando observamos tudo o que se passa na nossa realidade dia após dia. E é com esse sentimento em relação a todas essas questões que o roteiro de ''o Diabo de cada dia'', novo lançamento original da Netflix trabalha. Com o roteiro baseado no livro escrito por Donald Ray Pollock e produzido pelo ator Jake Gyllenhaal, o filme é uma experiência incômoda e visceral do início ao fim, mas extremamente realista e crítica em sua proposta. É uma experiência difícil, mas inesquecível e válida. 

O filme conta a história de Arvin Russell (Tom Holland), um jovem marcado por um passado trágico envolvendo sua família. O tempo passa e o jovem sente que precisa proteger aqueles que amam, muito se valendo dos ensinamentos de seu falecido pai (Bill Skarsgard). Em um mundo cercado de corrupção, manipulação e violência, Arvin enfrenta pessoas sinistras e é obrigado a tomar decisões irreversíveis em sua vida, mesmo contra sua vontade. Decisões essas que vão marcá-lo para sempre. 

Ao longo de pouco mais de duas horas de duração, ''O Diabo de cada dia'' traz a constante sensação de incômodo, raiva e revolta. Mas tudo isso de maneira proposital. Afinal, o roteiro fala da natureza humana e seus extremos, com toda sua maldade, perversidade e crueldade. A religião também se faz presente na trama, com seus falsos pregadores que muitas vezes usam a fé para justificar ou até mesmo esconder seus atos inaceitáveis. A própria história da humanidade nos ensinou que atos abomináveis foram cometidos e sempre a frase ''Em nome de Deus'' era colocada na frente. Infelizmente, é algo que existe até os dias de hoje. Talvez não tão extremo como antigamente, mas, ainda assim, sabemos que existe. E no meio de tudo isso, tem a questão do fanatismo religioso, que muitas vezes não enxerga que algo está errado ao seu redor, mesmo que isso esteja estampado em sua cara. 

E no meio de tudo isso, corrupção e manipulação também tem seu espaço para ser discutido. Ou seja, a maldade envolvendo a natureza humana está presente em todos os lugares e infelizmente parece não ter fim. E através de todos esses temas, temos um bom estudo de personagens, onde basicamente todos eles possuem algo de negativo para mostrar. Existem aqueles que fazem unicamente pelo prazer de causar o mal, já outros, como é o caso do protagonista, se corrompem em atos ruins sem escolha, mesmo mantendo seu lado bondoso. É um filme carregado, sombrio, triste e pesado, que em sua essência e crítica social até fazem lembrar o ótimo ''Réquiem para um sonho'' de Darren Aronofiski. Mas assim como o filme citado, é bem claro e direto em sua proposta e com certeza deve desagradar alguns pela sua temática. Mas quem se aventurar e ver o longa com mente aberta e entender a sua mensagem, irá viver uma experiência inesquecível e bem imersiva. Possui um ritmo sereno e demora um pouco para avançar, mas quando finalmente avança, o bicho pega.  

O longa conta com uma boa qualidade técnica em sua produção, com uma competente reconstituição de época e uma cinematografia imersiva e cheia de elementos, assim como o roteiro. A direção do brasileiro Antonio Campos sabe os rumos que toma. O diretor sabe o que fazer com sua intenção de chocar e incomodar o público, apostando mais em elementos visuais sugestivos, mas suficientes para causar seu impacto. E quando decide exibir algo mais explícito, a montagem traz cortes precisos no momento certo, mostrando apenas o suficiente. 

O elenco conta com atuações competentes de alguns dos mais talentosos atores e atrizes da atualidade. Tom Holland impressiona ao dar vida à um jovem marcado pelo seu passado e que toma atitudes questionáveis em função de proteger aqueles que ama, conseguindo se afastar da imagem do Homem aranha que construiu no Universo Cinematográfico Marvel, sendo obrigado a amadurecer com a vida. E o restante do elenco de apoio tem grandes participações. Bill Skarsgard, Jason Clark, Sebastian Stan, Robert Pattinson, entre outros exploram em seus personagens as condições humanas propostas pelo roteiro e confirmam que talento não falta para nenhum deles. Um elenco forte para um filme forte. Motivos mais do que suficientes para conferir essa obra impactante. 

''O Diabo de cada dia'' lida exatamente com o que seu título sugere, ou seja, se aprofundar dentro dos demônios que existe em cada um de nós. É o  retrato cruel, sujo e realista da natureza humana, que através de um profundo estudo de personagens levanta discussões e reflexões sobre o limite do ser humano e suas ações questionáveis. Não é um filme para todos, isso é um fato, onde muitos poderão se incomodar com o que é mostrado em cena,  mas é uma experiência cinematográfica que fica marcada na mente de quem se aventurar. Bem feito, bem dirigido e com atuações impressionantes, vale a pena conferir esse que é mais um dos acertos da famosa plataforma vermelha de Streaming. 

Nota: 🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟 9

O DIABO DE CADA DIA (THE DAVIL ALL THE TIME - 2020) - Drama/Suspense, 138 Minutos. / DIREÇÃO: Antonio Campos. - ELENCO: Tom Holland, Bill Skarsgard, Riley Keough, Jason Clarke, Sebastian Stan, Haley Bennett, Eliza Scanlen, Mia Wasikowska, Robert Pattinson. CLASSIFICAÇÃO: 16 Anos.