1917 (2019) - ANÁLISE - UM FILMAÇO DE GUERRA DRAMÁTICO, MAS AO MESMO TEMPO SENSÍVEL E BELÍSSIMO!

 



Por: Rudnei Ferreira


Quando se pensa em grandes conflitos que marcaram a história da humanidade, muitos pensam na Segunda Guerra Mundial e em todo o horror que esse evento causou à humanidade. Porém, pouco é mencionado a respeito de outro conflito que também causou morte e destruição. A Primeira Guerra Mundial aconteceu durante os anos de 1914 a 1918 e esse acontecimento levou à morte mais de 20 Milhões de pessoas, se tornando um dos maiores acontecimentos do século 20.

Em 2019, o premiado diretor Sam Mendes, responsável por grandes sucessos do cinema como ''Beleza americana'' e ''007 - operação Skyfall'' decidiu trazer para as telas os horrores desse acontecimento trágico e marcante na história da humanidade. ''1917'' é uma super produção que foi aclamado por público e crítica, recebendo 10 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor direção para Sam Mendes e vencendo em 3 categorias. Tamanho sucesso e premiações é mais do que justificável pois ''1917'' é cinema da mais pura qualidade. 




A trama se passa durante a Primeira Guerra Mundial, em Abril de 1917. Os alemães se afastaram de um setor da frente oriental no norte da França. Nesse cenário, William Schofield (George MacKay) e Thomas Blake (Dean-Charles Chapman), dois jovens soldados são designados para uma missão: entregar uma mensagem para seus compatriotas e impedir que 1.600 homens caiam em uma armadilha do inimigo durante a chamada Operação Alberich. Para concluir essa missão, os dois amigos precisam atravessar um cenário de caos, sofrimento e destruição, lutando pela sobrevivência, se quiserem obter sucesso. 



Sam Mendes reproduz os horrores da guerra com muita competência e dedicação. A ideia de contar essa história veio ao diretor depois de ouvir os relatos de seu avô, veterano de guerra, que vivenciou todo esse conflito. E pode-se dizer que a essência desse trágico acontecimento está presente em cada momento do longa. Algo que nos faz analisar e refletir ao assistir ao filme é como a guerra não traz benefícios a ninguém, apenas dor e tristeza causados por um conflito inútil. A história da humanidade está cheia desses terríveis momentos e o mais triste é saber que muitos inocentes foram obrigados a pagar pelos erros egoístas de outros. Tudo isso, na maioria dos casos, movido por ganância.

 O diretor traz uma carga dramática impressionante ao longa em um nível que nos sufoca diante da magnitude dos acontecimentos. A luta pela sobrevivência em meio à um cenário de horror prende a atenção do público que se sente como mais um personagens dentro da trama, graças ao impressionante nível de imersão proposto por Sam Mendes. Normalmente, filmes de guerra tem esse poder de nos imergir dentro da história como se fossemos mais um personagem. Pegue como exemplo ótimos filmes como ''O resgate do soldado Ryan'' e ''A lista de schindler'' do mestre Steven Spielberg, e com ''1917'' não é diferente. Somos jogados dentro do conflito e compartilhamos das mesmas sensações e sentimentos dos protagonistas e o diretor consegue nos afetar e nos envolver dentro dos acontecimentos com um brilhantismo que poucos conseguem fazer. De fato, não é  fácil de se realizar tamanha proeza, mas Sam Mendes conseguiu com maestria aqui.  




Um fato que contribui para o impressionante nível de imersão que o filme proporciona é a maneira como Sam Mendes escolheu filmar o longa metragem. O diretor opta por comandar o longa através de dois longuíssimos planos sequências sem cortes de câmera. Claro que muito provavelmente os cortes existam, mas a edição do filme é tão perfeita que de fato fica a sensação de que o filme foi todo rodado em plano-sequência, sem cortes, de uma única câmera. O diretor mantém essa câmera focada em seus personagens, sem desviar deles em nenhum minuto. Esse recurso é usado para servir como os olhos do público para tudo o que está acontecendo em cena e é aqui que o nível de imersão proposto pelo filme se faz presente, gerando segmentos impossíveis de desviar o olhar justamente por medo de perder algum detalhe visual. É um filme com poucos diálogos, fazendo com que nosso maior investimento seja mesmo para o seu visual arrebatador. 

O ritmo o filme se mantém constantemente tranquilo, principalmente nas cenas onde os protagonistas caminham pelos cenários, e no momento onde a ação acontece, como na épica e icônica sequência da correria no campo de batalha em meio a explosões, o resultado é super satisfatório e emocionante. O segredo para todos esses momentos é a ótima montagem, as atuações e os planos de câmera. A fotografia chama a atenção por fazer grandes composições visuais. Há uma longa sequência noturna envolvendo um dos protagonistas onde essas composições da fotografia geram um uso interessante de luz e sombra e o resultado é magnifico. Mas não é segredo de que a fotografia desse filme é uma verdadeira pintura. A trilha sonora é bem orquestrada e de vital importância para as cenas mais dramáticas ou de ação e o design de produção, com a reconstituição de época e de objetos como armas e figurinos é digno de aplausos, pois o realismo realmente impressiona. Não pode ser deixado de mencionar também o uso dos ótimos efeitos práticos que contribuem ainda mais para esse realismo e para a carga emocional do filme. 



Um elenco magnifico traz grandes performances em cena. Os jovens George MacKay e Dean-Charles Chapman entregam atuações realistas, verdadeiras e carregadas de muito sentimentalismo e significado. Suas expressões de terror, medo, cansaço e tristeza são genuínas e os dois personagens protagonizam cenas memoráveis, se utilizando de poucos diálogos, mas tendo muito a dizer através da sua fisicalidade e expressões. Mesmo que o roteiro não desenvolva a fundo os dois protagonistas, ele nos dá o suficiente para que possamos nos importar com eles e sua causa ao longo de sua jornada. Esses personagens representam os muitos soldados reais que sofreram ou sofrem com a guerra, tanto em um passado distante quanto nos dias atuais. Outras grandes estrelas do cinema mesmo com participações menores, ainda assim conseguem se destacar com suas presenças. É o caso dos astros Benedict Cumberbatch, Colin Firth, Mark Strong, Andrew Scott e Richard Madden em pequenas e ao mesmo tempo grandes participações especiais. 




''1917'' é um drama de guerra épico, intenso e emocionante com uma qualidade técnica de encher os olhos. Cheio de sequências memoráveis, é uma obra-prima moderna feita com imenso talento e competência por Sam Mendes que nos entrega em duas horas um dos melhores filmes do gênero. Pode não ter levado o Oscar de Melhor Filme (''Parasita'' merecidamente levou e merecidamente fez história), mas se tivesse conquistado essa grande honra não seria injusto. É uma experiência cinematográfica única e inesquecível que qualquer cinéfilo que se preze precisa conferir.

Nota: 🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟 10! 



1917 (2019) - Drama de guerra, 120 Minutos. / DIREÇÃO: Sam Mendes. - ELENCO: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Richard Madden, Benedict Cumberbatch, Andrew Scott, Colin Firth, Mark Strong. CLASSIFICAÇÃO: 14 Anos. 

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